A Organização Mundial de Saúde quer mudar o nome do vírus monkeypox, varíola dos macacos na tradução em português, e decidiu convocar o comité de emergência para decidir se eleva o nível de alerta perante a disseminação da doença. Os anúncios foram feitos ontem pelo diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa altura em que foram reportados perto de 1500 casos suspeitos em 28 países onde o vírus não circulava, Portugal incluído.
A reunião foi marcada para 23 de junho e os peritos vão decidir se os atuais surtos são declarados uma emergência internacional de saúde pública (PHEIC no acrónimo em inglês).
E vão seTE Se essa for a decisão, será a sétima vez que essa designação, definida em 2005 pelo Regulamento Sanitário Internacional, é atribuída pela OMS a uma doença emergente.
A “estreia” foi a gripe A em 2009, que seria a primeira pandemia declarada este século. Seguiu-se, em 2014, o recrudescimento de casos de pólio no Paquistão e no Afeganistão e, no mesmo ano, o alarme mundial com o grande surto de ébola na Guiné, Libéria e Serra Leoa, que viria ao longo de dois anos a vitimar mais de 11 mil pessoas, quase metade dos casos confirmados, com os hospitais de todo o mundo em contingência perante o risco de importação de um vírus de elevada contagiosidade e letalidade.
Em 2016, seguiu-se o alerta em torno o vírus zika e em 2019, e depois de sucessivos pareceres negativos, a epidemia de ébola na República do Congo, em curso desde 2018, seria também declarada uma emergência internacional de saúde pública.
Na altura, já o mundo estava em sobressalto com a covid-19 – foi a sexta vez que os peritos ativaram este mecanismo, antes de haver consenso em torno da declaração de pandemia – a demora nessa decisão foi de resto uma das críticas apontadas à OMS. A declaração de emergência internacional de saúde pública em torno do novo coronavírus foi feita a 20 de janeiro de 2020, quando havia 7818 casos confirmados de covid-19 em 19 países de cinco das seis regiões da OMS. O comité de emergência tornaria a reunir-se naquele janeiro de 2020, quando as atenções estavam ainda centradas em Wuan, descartando a declaração de uma pandemia, o que só viria a acontecer a 11 de março de 2020.
Com casos de monkeypox confirmados em 28 países onde o vírus não circulava e uma epidemia crescente em alguns países africanos onde a varíola dos macacos já era endémica, sendo o mais problemático o Congo, com 1356 casos suspeitos reportados desde janeiro e 64 mortes, a situação parece mais contida do que estava no início da covid-19, de transmissão mais fácil, sendo que em ambos os casos sabe-se que os casos reportados não representam a totalidade de infetados.
A OMS não tem afastado a declaração de uma nova pandemia, mas insiste na necessidade de conter os atuais surtos. O que não tem estado a acontecer.
A vacinação é a próxima aposta: também ontem a Organização Mundial de Saúde recomendou que não seja feita em massa mas a contactos de infetados como profilaxia pós-exposição (idealmente nos primeiros quatro dias) e pré-exposição no caso de profissionais de saúde mais expostos, com a OMS a apostar numa comunicação dirigida aos grupos que têm sido mais afetados ou pelo menos mais diagnosticados, como homens que têm sexo com homens.
A União Europeia anunciou ontem a aquisição de 110 mil doses de vacinas contra a monkeypox, da biotecnológica dinamarquesa Bavarian Nordic, que ficarão disponíveis no final de junho. A DGS ainda não indicou como vai decorrer a vacinação em Portugal, mas o país contará com parte destas vacinas, apurou o i. Alguns países começaram a vacinar contactos de risco com vacinas da varíola entre os quais Estados Unidos, Reino Unido ou Canadá e, na Europa, por exemplo França, que já iniciou a vacinação. Portugal, embora esteja entre os países com mais casos reportados, 231 no último balanço, ainda não iniciou a vacina, que tem sido dada “off-label”, ou seja sem indicação específica para este vírus, da mesma família.
Um nome novo para um vírus humano Quanto à mudança de nome do vírus e da linhagem em circulação, ligada à África Ocidental, alguns investigadores têm vindo a defender que seja alterado para remover o estigma geográfico.
Uma proposta publicada recentemente por investigadores de 29 países, incluindo João Paulo Gomes, responsável pela monitorização da diversidade genética de vírus no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, é que a designação passe a ser hMPXV, por acreditarem que este é agora um vírus humano distinto do vírus da varíola dos macacos (MPXV), passando cada variante a receber indicações numéricas como A.1 ou A.2, no fundo como têm sido classificadas as variantes e subvariantes do SARS-CoV-2.