O plano de contingência para as urgências de obstetrícia e maternidades do Serviço Nacional de Saúde este verão vai assentar numa gestão em rede, com uma comissão de acompanhamento da resposta que vai contar com cinco coordenadores regionais e um coordenador nacional, anunciou ontem a ministra da Marta Temido, confirmando que a comissão vai replicar o modelo utilizado para maximizar a resposta de medicina intensiva durante a pandemia. Recorde-se que, para gerir a capacidade de camas de cuidados intensivos, o Governo criou a CARMIN (Coordenação da Resposta Nacional à Covid-19 em Medicina Intensiva), liderada pelo médico João Gouveia, que diariamente passou a vigiar a ocupação de cuidados intensivos nos hospitais e chegou, nas alturas mais críticas, a transferir doentes para o privado e até preventivamente entre hospitais públicos, para garantir que havia vagas em situações urgentes. Propuseram também reforços da capacidade hospitalar nessa área, alguns dos quais, como o i noticiou, com dificuldades de implementação devido à falta de recursos humanos.
Marta Temido adiantou que este organismo poderá estudar a melhoria dos salários dos médicos destes serviços de urgência, mas também protocolos com outros setores, como o privado.
Um cenário que está em cima da mesa pelo menos na grande Lisboa, assumiu ontem, em entrevista à RTP, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco. Já houve mesmo conversações, com o setor privado disponível para receber grávidas em trabalho de parto encaminhadas pelo SNS, sobretudo aos fins de semana. “As nossas reuniões esta semana envolveram também o setor privado e houve disponibilidade dentro das limitações que o setor privado também tem para esta resposta, de nos apoiarem”, salientou Marta Temido.
A ministra da Saúde adiantou que esta comissão vai identificar os recursos disponíveis por hospital e região, mas também aprovar um modelo de gestão integrada, apoiando as administrações regionais de saúde nesse trabalho, “centralizando, analisando e apoiando os planos de contingência de cada hospital”. Vai também acompanhar indicadores de saúde materna, que têm vindo a suscitar preocupação nos últimos anos.
Seis meses para estudar revisão da rede Se esta é a intervenção imediata, no prazo de 180 dias o Governo quer ter uma proposta para um novo desenho de referenciação hospitalar na área da urgência e emergência. Um tema que tem vindo a ser estudado nos últimos anos por diferentes grupos de trabalho. O último relatório foi apresentado ao Governo em novembro de 2019, antes da pandemia, não se focando especificamente na questão da obstetrícia.
Marta Temido afirmou ainda que o Governo quer diminuir o recurso a empresas prestadoras de serviço para completar escalas nos hospitais, o que considerou um “entorse” do SNS. Por outro lado, a ministra insiste que é preciso aumentar as capacidades formativas para médicos no SNS, o que tem sido um braço de ferro com a Ordem, que considera que as capacidades formativas nos hospitais estão no limite.
“Compete ao Governo, com o parecer da Ordem, fixá-las, e iremos trabalhar para as alargar ao máximo possível”, disse Marta Temido, lembrando que, apesar de tudo, houve vagas para formação de especialistas que não ficaram preenchidas. “Temos um problema de atratividade do trabalho médico, não só no SNS, que tem a ver com as profissões de saúde. Passámos dois anos muito duros, estamos todos a sentir os efeitos da pandemia”.
Esta quinta-feira deve arrancar o primeiro concurso de 2022 para colocação dos médicos que terminaram agora a especialidade, com 1600 vagas para recém-especialistas, 50 na área de ginecologista e obstetrícia, embora só 25 médicos tenham concluído a formação nesta área. Os concursos são abertos a recém-especialistas sem vínculo ao SNS e Marta Temido salientou que o objetivo é contratar “todos os médicos que queiram trabalhar no SNS”.