O número de incêndios rurais em em 2021 foi o mais baixo em mais de 30 anos – pouco mais de 8 mil ocorrências. Este ano, até 17 de junho, contam-se 4.302 incêndios e 10.830 hectares de área ardida, o que, com o verão pela frente, sugere que o registo poderá não ser tão auspicioso.
O que nos dizem os dados oficiais publicados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, que recentemente começou a divulgar informação em tempo quase real?
Que ao longo das últimas décadas, mais de metade dos incêndios ficaram por investigar, mas atualmente já quase todos o são. Entre os que tiveram causa determinada, dominam as situações de negligência: categoria em que entram queimadas que correm mal, beatas, faúlhas de limpezas de terreno e todas as atividades humanas que podem provocar um fogo.
O último grande balanço com informação sistematizada abrange o período entre o ano 2001 e 2021.
Nestas duas décadas, Portugal foi fustigado por quase meio milhão de incêndios rurais. O pior ano em termos de número de ocorrências foi 2005, com 41.689 fogos. O número baixou significativamente face ao início da década, mas isso não quer dizer que haja menos área ardida.
Em 2017, ano das maiores tragédias de que há registo no país, houve 21.006 incêndios rurais, com 539.921 hectares de área ardida, quando em 2005 mais do dobro dos incêndios tinham consumido menos hectares (346.718). Em termos de área ardida, 2017 foi mesmo o pior ano desta série.
3 milhões de campos de futebol ardidos
Pensando que um campo de futebol tem cerca de 1 hectare, e para dar uma imagem, em 20 anos arderam no país 2.926.617 hectares de áreas florestais, matos e terrenos agrícolas, o que dá quase 3 milhões de campos de futebol.
Do total de 468.286 incêndios rurais entre 2001 e 2020, 53% não foram investigados, revelam as estatísticas do ICNF, que o Nascer do SOL analisou.
Em 16%, a causa não foi apurada. Seguem-se os casos em que o fogo foi causado por negligência (15%). E 9% resultaram de atuação intencional, 6% de reacendimentos de outros fogos e 0,3% foram provocados por causas naturais, onde se inserem por exemplo as trovoadas.
Focando só no ano passado, e verificando-se nestes dados que atualmente é determinada a origem de uma maior fatia de incêndios do que no início do milénio, os números dão que pensar – mesmo tendo sido o ano com menos ocorrências de que há memória recente.
Em 8.186 incêndios rurais registados em 2021, 3.504 foram resultado de negligência, ou seja 43%, quatro em cada dez que poderiam ser evitados. Já 1.306 foram fogo posto intencionalmente, 15,9%.
Quanto à floresta, se há intenções de mudança, os últimos 20 anos mostram também o que se passou: entre 2013 e o primeiro semestre de 2021, os últimos dados disponíveis, foram autorizados 163.526 hectares relativos a ações de rearborização, 60% para plantar eucaliptos.
Sobreiro, pinheiro-bravo e pinheiro-manso representaram 24% das autorizações.
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