Por José Miguel Pires e Daniela Soares Ferreira
Digitalização e sustentabilidade foram os temas base da mais recente conferência organizada pelo Nascer do SOL, em parceria com a Altice Portugal e a Huawei Portugal. É claro que a pandemia veio confirmar a importância das novas tecnologias não só para o indivíduo mas as empresas e a sociedade em geral.
Para Alcino Lavrador, diretor-geral da Altice Labs, existe atualmente um conjunto de desafios fundamentais, como as alterações climáticas e a sustentabilidade. O responsável da Altice afirma que são quatro os pilares da sociedade: humano, social, económico e ambiental. E alerta: “Em qualquer um destes pilares a tecnologia pode ter um papel fundamental”. E não tem dúvidas de que “o peso e medida da aplicação de tecnologia não é o mesmo para todas as pessoas, cidades e países” e “nem todas as pessoas têm acesso às mesmas tecnologias”.
No seu discurso de introdução ao tema, Alcino Lavrador lembrou que a digitalização assenta na conectividade, defendendo cada vez mais a importância das cidades inteligentes.
Lembrando que muitos acusam a tecnologia de afastar as pessoas, o diretor-geral da Altice Labs é da opinião contrário: “Pode aproximar”. Alcino Lavrador é perentório: com toda a certeza, “a digitalização será uma alavanca fundamental para a sustentabilidade”.
Por seu turno, José Pedro Nascimento, diretor de Engenharia e Operações de Rede da Altice Portugal, lembrou que, na pandemia, as deslocações reduziram-se. E lembrou que esse período permitiu-nos entender que “há muita coisa que conseguimos fazer com tecnologia”. Para o responsável, é claro que a transição digital “vai permitir facilitação na vida das pessoas e das empresas” e a transformação digital “não é só tecnologia”, ajudando-nos a ser mais sustentáveis. daí que tenha também falado na cada vez maior importância das cidades inteligentes.
José Pedro Nascimento destacou, por outro lado, o aumento dos ciberataques nos dias de hoje, lembrando que, apesar de serem “uma realidade cada vez maior”, há cada vez mais e melhores especialistas nas empresas e que a componente da segurança é cada vez mais importante.
Quem também integrou o primeiro painel deste encontro foi Samuel Ferreira, da Huawei Portugal, que destacou que a “tecnologia tem duas vertentes do ponto de vista da sustentabilidade”. Por um lado, as aplicações “nas cidades e na gestão da agricultura, que pode ser mais eficiente”; e, por outro lado, “toda esta plataforma que tem de ser mais sustentável, uma vez que os consumos energéticos na área das telecomunicações são mais elevados”, sendo este é um tema em foco para a Huawei. O responsável da operadora garante ainda que “o caminho continuará a ser investir em soluções mais compactas” e com soluções “adaptadas a todas as sociedades”. Falando sobre o futuro das redes tecnológicas, Samuel Ferreira destaca que a Huawei “investe cerca de 20% das suas receitas anuais em investigações ao desenvolvimento”.
Rui Aguiar, professor da Universidade de Aveiro, centrou a sua intervenção no problema da rentabilidade de recursos, mas defendeu que a tecnologia pode ajudar… e muito. “Onde a tecnologia vai ajudar é na gestão de recursos, ajudar numa cidade e numa sociedade mais eficientes”, disse. E acrescentou: “Mas não é esse o ponto central. Onde a tecnologia vai agir é em permitir extrair mais valor em termos sustentáveis. Isto é, olhar para aquilo que nós precisamos enquanto sociedade e permitir que essa sociedade terá uma maior capacidade de vida com este nível de qualidade até entrarmos em desafios sistémicos fundamentais”, disse o professor, que falou também sobre a importância dos operadores, como a Huawei e a Altice, nestas mudanças.
Má gestão O segundo painel do dia foi composto por José Mendes Ribeiro, economista e administrador do Centro de Saúde Digital, Eduardo Correia, CEO Taguspark e Tiago Sacchetti, responsável em Portugal pela Bosch Industry Consulting.
Mais uma vez, a inovação e o seu papel na resolução dos problemas do país, tanto na saúde como noutras áreas, foi o mote de uma conversa muito viva.
O CEO do Taguspark apontou o dedo à má gestão dos fundos por parte do Governo português, ironizando ao longo de toda a sua intervenção: “A péssima gestão que é a saúde pública em Portugal” é “a péssima gestão da TAP, do SIRESP, da CP”. “Portugal é mal gerido, é preciso que tenhamos essa noção, e os problemas vêm dessa raíz”, começou por disparar, garantindo que “a digitalização da informação não é mais do que uma versão moderna dos sinais de fumo, dos tambores”, e que esse é o passo para o desenvolvimento do país e dos seus serviços.
Já José Mendes Ribeiro apontou o dedo à falta de investimento nos desenvolvimentos tecnológicos no setor da saúde. “Estamos fartos de fazer modelos e projetos piloto e depois deitamos tudo fora”, lamentou, comparando os grandes hospitais do país às grandes empresas, e apelando ao investimento nas Parcerias Público-Privadas neste setor.
Tiago Sacchetti realçou os feitos da Bosch no mundo da aplicação dos desenvolvimentos tecnológicos para fins de poupança de recursos e energia, entre outros elementos. E referiu vários exemplos, entre eles o caso da Bosch de Blaichach, na Alemanha, onde a otimização do seu sistema de ar comprimido resultou num descréscimo dos custos de energia em 40%.
Palavra final “A tecnologia não tem de ser contra a natureza, é a chave para o desenvolvimento sustentável”. Este foi o acento tónico da declaração final da conferência, por Paulo Pereira, key account director da Huawei Portugal, que defendeu que o desenvolvimento tecnológico pode ser uma forma de contrariar o aumento da necessidade de recursos finitos.
Reveja aqui a conferência: