A importância da tecnologia e os desafios futuros

A conferência Digitalização e Sustentabilidade – organizada pelo Nascer do SOL em parceria com a Huawei Portugal e a Altice Portugal – abordou temas como a tecnologia e os pilares da sociedade, sem esquecer o que já foi feito e o que ainda falta fazer.

por Daniela Soares Ferreira e José Miguel Pires

Falou-se de tecnologia, sustentabilidade, digitalização, conectividade e dos pilares da sociedade. Todos temas interligados que fazem cada vez mais parte integrante do nosso dia a dia e que marcaram a conferência Digitalização e Sustentabilidade, organizada pelo Nascer do SOL em parceria com a Huawei Portugal e a Altice Portugal, no Taguspark.

A abertura da conferência – moderada pela editora executiva do Nascer do SOL, Sónia Peres Pinto – esteve a cargo de Alcino Lavrador, diretor-geral da Altice Labs, que não tem dúvidas que «hoje enfrentamos um conjunto de desafios em que as alterações climáticas, a escassez crescente dos recursos naturais e alimentos são apenas as duas faces mais visíveis de um desafio maior que é a sustentabilidade».

No entanto, o responsável da Altice acredita que estes desafios poderão ser ultrapassados «com o processo de transformação digital tal como aconteceu ao longo dos tempos em que a tecnologia e a inovação têm sido capazes de criar soluções para os desafios da humanidade».

E acrescentou: «De facto, uma gestão efetiva dos recursos naturais, a economia circular e a maximização da eficiência nas cidades e empresas – suportadas obviamente numa maior capilaridade da conectividade banda larga, fixa ou móvel – pode ter na digitalização um grande acelerador potenciando o acesso à formação, ao emprego e aos cuidados de saúde, entre outros».

Mas, para Alcino Lavrador,  existe um problema: «É que andamos a correr atrás do prejuízo e necessitamos de aceleradores». É neste sentido que defende ser «imprescindível» que todos – individual e coletivamente – «nos consciencializemos para este sentido de urgência que temos que ter perante a sustentabilidade da nossa espécie através da preservação do planeta que nos criou e que nos tem conseguido manter até agora».

Para o diretor da Altice Labs é claro que se continua a promover uma sociedade de consumo, o que levará rapidamente à exaustão dos recursos que existem. E deixou exemplos: são necessários 2700 litros de água para se fazer uma tshirt. O suficiente para uma pessoa beber durante 900 dias.

«Economia circular e, em particular, economia da partilha, suportada na tecnologia, a par da mudança de hábitos de consumo e novos modelos de negócio, poderá ser a chave para pararmos esta escalada de consumo. Uma escalada desenfreada dos escassos recursos do planeta e que levarão à sua exaustão», acrescentou, lembrando o crescimento acentuado da população nos últimos anos e, por isso, a questão da sustentabilidade pode ser vista em quatro pilares: humano, social, económico e ambiental.

«A equidade não é aplicar a todos a mesma coisa. Temos que ter peso e medida na forma como a tecnologia é aplicada a pessoas individuais ou a segmentos, a populações, a regiões, a países, a cidades, de forma a que possamos promover a igualdade efetivamente», defendeu Alcino Lavrador.

E é preciso lembrar que o peso e a medida de aplicação da tecnologia não é o mesmo para todas as pessoas nem para todas as cidades ou países. «Lembrar que nem todos têm acesso às mesmas tecnologias e é importante ter em conta que, quando desenhamos soluções digitais, temos que olhar para a população que as vai precisar e das quais vai beneficiar», sublinhou, acrescentando que «é preciso encontrar os interfaces e a forma de serem utilizados eficazmente por todas as populações», disse o diretor da Altice Labs.

O responsável deu o exemplo, no caso da Altice Labs, de quando se desenham algumas aplicações para casa, em que há o cuidado de as ter acessíveis através daquela única ferramenta que talvez todas as pessoas conseguem usar e que é o comando da televisão. «O foco deve ser perceber como é que a tecnologia deve ser disponibilizada para poder ser usada eficazmente», defendeu.

Para Alcino Lavrador, é certo que a transformação digital assenta num conjunto de tecnologias: miniaturização, conectividade e mobilidade, poder computacional, robótica, nuvem, big data e analítica, manufatura aditiva, inteligência artificial.

E acrescenta: «Acredito que esta digitalização assente na conectividade – e chegando esta conectividade cada vez mais longe juntamente com tecnologias de informação, permite-nos construir soluções muito mais eficientes, evitando desperdícios e aproveitando novas fontes de energia limpas e renováveis, evitando a exaustão de matérias primas e as consequentes ações poluidoras no meio ambiente», disse, defendendo ainda a importância das cidades inteligentes e sustentáveis.

 

‘Transformação digital facilita’

O primeiro painel da conferência foi dedicado à tecnologia e sustentabilidade e um dos oradores foi José Pedro Nascimento, diretor de Engenharia e Operações de Rede da Altice Portugal, que defendeu que «a tecnologia permitiu que todos pudéssemos, durante a pandemia, trabalhar, estudar e até conviver». Por isso, não tem dúvidas que isso «permitiu-nos entender que realmente há muita coisa que podemos fazer com esta tecnologia e viver de forma diferente e mais sustentável».

Defendendo que muitas das deslocações que fazíamos antes revelaram-se desnecessárias, o responsável lembrou que a sustentabilidade é algo que, na Altice Portugal, é um dos pilares fundamentais de estratégia. «E vemos a sustentabilidade de uma forma mais holística, acompanhamos, temos várias iniciativas e acompanhamos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que são coordenados pelo nosso comité de sustentabilidade».

Mas quis focar a sua intervenção na questão tecnológica que, no fundo, tem a ver com a transformação digital.

«A transformação digital vai permitir uma facilitação na vida das pessoas, dos cidadãos, das empresas. E tudo o que seja simplificação tem  a ver também com sustentabilidade», disse, acreditanto que «a vida das pessoas for mais fácil e mais simples, tudo se torna mais sustentável».

Dentro deste tema, fez ainda questão de relembrar que «a transformação digital não é só tecnologia». Tem processos, tem design, tem cultura e tem também a tecnologia. E, defende, «do ponto de vista de tecnologia, o que tem para oferecer que possa tornar a vida das pessoas mais simples? Antes de mais, ter uma conectividade excelente», sendo essa conectividade que pode abranger todas as pessoas.

E essa conectividade, detalha, possa ser fibra ótica, fixo, móvel, ou 5G: «É essa a base fundamental para esta transformação. Mas temos que ter outras como o IOT. Há uma frase que costumo dizer que é a rede não dorme. O manancial de informação que essas redes estão sempre a recolher é brutal».

Dentro do tema que deu mote a este debate, José Pedro Nascimento diz que a tecnologia ajuda todos e que facilita a vida das pessoas, ajudando-as a ter uma vida mais sustentável. «Em certos contextos demográficos que estamos a viver, que é a concentração em cidades, a gestão de cidades de forma inteligente é cada vez mais importante». É que, por outro lado, as nossas redes têm que cumprir também algum tipo de critérios. «Não podemos ter uma rede de telecomunicações que seja só para alguns. Temos que ter uma rede que seja ubíqua, só assim conseguimos contornar as desigualdades. Toda a gente tem que ter uma rede que possa servir as suas necessidades em cada momento», reiterou, acrescentando outra questão que é a capacidade. «Vimos agora o que se passou na pandemia. De repente o tráfego passou todo a ser consumido do ponto de vista residencial, para as casas das pessoas. E isso só conseguimos dar vazão a esse tráfego e responder a isso de forma eficiente porque tínhamos flexibilidade nas redes», que têm também que ser fiáveis para que não existam falhas, uma vez que estas não serão toleradas no futuro. E destacou também a importância da segurança, lembrando que os ciberataques aumentaram, principalmente durante a pandemia.

 

‘Tem que ser sustentável’

Por sua vez, Samuel Ferreira, da Huawei Portugal, diz que a visão da empresa é que a tecnologia tem duas vertentes que podem trazer mais valias no ponto de vista de sustentabilidade. «Por um lado as aplicações, nas cidades, na gestão da agricultura, há aqui várias potencialidades que a tecnologia pode ter mas, por outro lado, achamos importante: toda esta plataforma que envolve a tecnologia que tem também que ser sustentável uma vez que os consumos energéticos na área das telecomunicações são elevados». Isto é, garante, um foco que a Huawei já tem há bastante tempo «e temos dado um ênfase muito grande na componente de investigação e desenvolvimento de forma a termos produtos mais eficientes do ponto de vista energético, do ponto de vista térmico, de forma a reduzirmos consumos de energia».

E deixou algumas referências: para a rede móvel a Huawei prevê que em 2030 um utilizador vai processar cerca de 600 gigabytes de tráfego. Esses 600 gigabytes representam um aumento, aos dias de hoje, se nada fosse feito, do consumo energético dos operadores de mais 45%. «Daí a nossa visão são três pilares. Por um lado, trazemos para cima da mesa soluções de energia que permitam trazer mais valias aos operadores, nomeadamente com os painéis solares», disse, destacando também as baterias de lítio. «Outro ponto importante das baterias, as redes são dimensionadas para suportarem quatro horas sem energia, se existir um corte, hoje em dia a rede elétrica nas cidades, os períodos de corte são raros», factor que leva Samuel Ferreira a dizer que estas baterias podiam ser usadas para armazenar energia e estarem disponíveis do ponto de vista global para a rede elétrica.

O responsável focou-se ainda noutro aspecto que é o facto de os equipamentos serem cada vez mais compactos e muito mais eficientes. E garantiu: «A Huawei investe cerca de 20% das suas receitas anuais em investigações ao desenvolvimento de forma a conseguirmos criar soluções que correspondam ao mercado e desenvolvemos produtos mais compactos que são eficientes do ponto de vista térmico, elétrico, permitindo os operadores ter poupanças grandes do ponto de vista energético».

Outro vetor é a componente da digitalização de toda esta infraestrutura. «É importante visualizarmos em tempo real quais são os consumos que estamos a ter na rede, que a comunidade de serviços estamos a ter, para nos permitir agir sobre os desperdícios e permitir avançar sobre os problemas que temos na rede e melhorarmos essa componente dos operadores», acrescentando a componente de inteligência da própria rede. «Não faz sentido estar disponível 24h por dia quando não temos utilizadores. Pode ser inteligente e ajustar o seu recurso de forma a corresponder ao serviço de cada utilizador a cada momento», finalizou.

 

‘Sociedade mais eficiente’

O primeiro painel foi encerrado por Rui Aguiar,  professor da Universidade de Aveiro, que centrou a sua intervenção no problema da rentabilidade de recursos, mas defendeu que a tecnologia pode ajudar… e muito. Mas deixou alertas. Os recursos são consumíveis e há muitos que vão desaparecer como é o caso do hélio. «Temos uma quantidade finita de tecnologias baseadas em determinados tipos de elementos químicos. Não há nada a fazer quanto a isso».

Assim, defende que onde a tecnologia vai agir é na gestão de recursos: «tornar a nossa sociedade mais eficiente, permitir, com aquilo que temos hoje, extrair mais valor no sentido sustentável». Isto é, «olhar para o que nós precisamos como sociedade e garantir que essa sociedade terá uma maior capacidade de vida com este nível de qualidade até entrarmos em desafios sistémicos fundamentais causados pela falta de recursos».

Garantindo que não há dúvidas que a tecnologia ajuda a sustentabilidade, o professor da Universidade de Aveiro defende que as pessoas que trabalham na área da sustentabilidade dizem que há muitos objetivos, não é só a tecnologia. «Há uma necessidade de explicar à população em geral porquê que recorremos à tecnologia», defende. E diz que é preciso explicar a quem ‘está de fora’, afinal o que acontece em termos de sustentabilidade com a tecnologia?’, as chamadas tecnologias de informação e comunicação (TIC).

«Se olharmos para a tecnologia em si, as nossas TIC têm que demonstrar que são eficientes em três camadas», defende Rui Aguiar. A primeira camada prende-se com a componente direta. «Como é que nós temos uma rede de comunicações que é cada vez mais não só uma rede de comunicações mas uma rede que fornece valor acrescentado, que já faz funções que as pessoas não se apercebem. Como é que nós somos capazes de tornar essa infraestrutura mais eficiente?», questiona. E responde: «Obviamente que gastar menos energia é o exemplo óbvio mais simples. O que estamos a dizer à sociedade é que somos capazes de fornecer mais serviços com menos energia. E portanto somos mais sustentáveis».

A segunda componente é a componente indireta, diz, lembrando a mais recente decisão da Comissão Europeia em universalizar os carregadores dos telemóveis. «Pessoalmente até acho que há melhores soluções mas a vantagem de fazer isso é que, daqui por diante, entre dois a cinco anos, só haverá um tipo de carregadores», disse, lembrando que «o lixo eletrónico é cada vez maior».

Para o professor, o facto de se otimizar os seus recursos e evitar este desperdício, é natural mas, por outro lado, tem o problema do custo. «Por isso é que se pergunta quanto é que vale a pena melhorar a energia. O custo de conforto pode não compensar o custo ambiental».

Por último, falou de um ponto que considera essencial que é a digitalização. «O que é que nós como tecnologia conseguimos ganhar de sustentabilidade nas outras áreas. Não temos que fazer as viagens. Realizar uma viagem tem um custo social, económico, energético. Agora estar a conversar com uma pessoa no gabinete ou por zoom não é a mesma coisa».

Assim, é perentório: «Também perco alguma coisa quando escolho usar a tecnologia em vez de outros mecanismos. Há uma dualidade entre o que é que eu consigo usando uma tecnologia e o que é que eu perco quando a uso».

Rui Aguiar avançou que a tecnologia já há uns anos que anda a fazer o esforço de como é que pode tornar as outras áreas mais eficientes. Cidades, partos, consultas remotas, logística, eficiência dos processos industriais nas fábricas, entre outros. E defende que a UE tem promovido desenvolvimentos à volta disso. «No fundo, tentar ver como é que conseguimos tornar a nossa cidade mais eficiente, mais inclusiva e mais sustentável com a tecnologia. Este tipo de exercícios têm sido feitos em Portugal. Operadores e não só têm tido várias em experiências a esse nível».

 

Críticas e sugestões

O segundo painel da Conferência elevou a temperatura nos estúdios da Movie Light, com as intervenções de José Mendes Ribeiro, Economista, Administrador do Centro de Saúde Digital, Eduardo Correia, CEO do Taguspark, e Tiago Sacchetti, Responsável em Portugal pela Bosch Industry Consulting.

O primeiro a tomar a palavra foi Mendes Ribeiro, que, munido de diferentes notícias e artigos jornalísticos, começou por apontar as principais deficiências que se vivem atualmente no setor da saúde, onde se vivem tempos de «turbulência». E para definir o mote da sua intervenção no painel, o administrador do Centro de Saúde Digital recorreu à Constituição, que «diz de uma maneira muito simples que deve ser garantido o acesso à saúde a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica». «Aquilo que tem acontecido ao longo do tempo é que se tem questionado, do ponto de vista ideológico, que soluções podem contribuir para garantir o acesso das pessoas à saúde», continuou, sugerindo, claro, que a utilização de tecnologia no setor é uma das respostas a essa questão.

«Repensar tudo o que tem acontecido» é a missão atual, 43 anos depois da aprovação desta Constituição, argumentou José Mendes Ribeiro, referindo-se à percentagem dos impostos cobrados aos portugueses que são utilizados no setor da saúde: 20%. «Temos de ser práticos e utilizar a tecnologias e as ferramentas que ao longo dos 43 anos surgiram, e que teimam em chegar à saúde. Estamos fartos de fazer experiências piloto e tentar novos modelos, e depois deitar tudo fora”, lamentou o administrador, acusando o falhanço na «reconstrução em bases sólidas».

José Mendes Ribeiro retomou a questão do investimento na Saúde, e alertou: «Em 2022, há um facto notável. Vamos ter o maior orçamento de sempre na saúde e, pelo meio, a maior carga fiscal dos últimos anos. Isto significa que há uma responsabilidade acrescida para usarmos bem os recursos. Porque não podemos ter recursos financeiros afetos a uma fatia tão elevada e termos resultados, por vezes, tão complicados no acesso».

Na sua intervenção, o administrador do Centro de Saúde Digital comparou ainda os grandes hospitais do país a grandes empresas como a EDP, a Altice ou a Galp, em termos do seu impacto na economia do país. «O Hospital de Coimbra, por exemplo, tem mais de 8 mil empregados e um Orçamento de praticamente 500 milhões de euros. Temos 4 ou 5 hospitais com orçamentos nesta ordem, portanto temos de olhar de facto com muito cuidado para o investimento que fazemos, quando temos mais de metade dos hospitais em falência técnica», acusou, lamentando que não haja uma visão «empresarial» quando se fala dos hospitais do país.

É nas Parcerias Público-Privadas que José Mendes Ribeiro vê um futuro risonho. «Os resultados foram positivosom, como o próprio Tribunal de Contas sinalizou», referiu o administrador.

Mendes Ribeiro acabou por fazer, por sua vez, quatro sugestões no mundo da sustentabilidade: a abertura de uma Convenção do SNS para Cuidados Primários, com adesão voluntária dos médicos individuais e de operadores do setor Privado e Social; a aplicação aos Hospitais EPE as mesmas regras contratuais dos Contratos Programa dos extintos hospitais PPP; o aumento da capacidade da Rede de Cuidados Continuados e Paliativos, de forma a retirar os designados ‘internamentos sociais’ dos hospitais, e a criação de uma Task Force profissional dedicada à transformação digital do Sistema de Saúde.

Quem tomou de seguida a palavra foi Eduardo Correia, CEO do Taguspark, que reiterou as críticas feitas em entrevista ao Nascer do SOL, na edição de 10 de junho. Na Conferência, acusou a «péssima gestão que é a saúde pública em Portugal», que é a mesma «péssima gestão da TAP, do SIRESP, e da CP». «Portugal é mal gerido, é preciso que tenhamso essa noção, e os problemas vêm dessa raíz», alertou ainda o CEO do Taguspark, que fez da sua intervenção um autêntico grito de crítica contra a gestão que o Governo tem feito do setor da saúde e dos investimentos no mesmo.

«Só não vou para as urgências hospitalares psiquiátricas porque tenho um nível de auto-controlo elevado», ironizou Eduardo Correia, que prontamente saltou para o papel da tecnologia na gestão deste setor: «A digitalização da informação não é mais do que uma versão moderna dos sianis de fumo, dos tambores, do fax… e não termina aqui. Só vivemos na parte mais desenvolvida da Humanidade se o nosso ponto de referência for o passado», argumentou.

«Estamos, infelizmente, a dar passos atrás, e só não o percebe quem não quer analisar com frieza e rigor aquilo que está a acontecer», lamentou o CEO do Taguspark, que acredita que «os montantes [de investimento], bem geridos, seriam mais que suficientes para ter uma estrutura e uma capacidade de oferta de muito mais qualidade», continuou Eduardo Correia.

Para fechar as intervenções neste segundo painel da conferência, Tiago Sacchetti, responsável em Portugal pela Bosch Industry Consulting, aproveitou o ‘palco’ para falar sobre o papel do desenvolvimento tecnológico na resolução dos problemas que a Humanidade enfrenta atualmente, e focou fortemente o seu discurso em vários exemplos ilustrativos levados a cabo pela própria empresa alemã que representa, marcada pela «inquietude e vontade de mudar o status quo».

«Hoje, nos processos de engenharia, onde desenvolvemos produtos e processos, temos vários problemas que podem ter uma das soluções baseadas nos meios digitais», disse, realçando, entre outros, a «inconsistência de dados» e a «difícil gestão da mudança enquanto definimos novos processos para novos produtos».

De seguida, Tiago Sacchetti recorreu ao exemplo da Bosch em Blaichach, na Alemanha, onde um processo de otimização do sistema de ar comprimido permitiu uma redução dos custos de energia em 40%. «Aplicando uma ferramenta muito simples de monitorização de consumos de energia, conseguiram uma redução drástica nos consumos», orgulha-se o representante da Bosch Industry Consulting em Portugal, listando as ferramentas ‘chave’ de uma boa gestão: «Ter KPIs [key point indicators, ou pontos chave de referência, em português] blaros, e não esquecermos um propósito: gerar valor. É uma derução enorme e tem um impacto muito positivo na pegada de CO2».

De seguida, outro exemplo: a Bosch em Homburg aplicou uma análise automática do fluxo de valor energético, permitindo a redução de 27.8% no consumo pela aplicação de medidas de otimização. «Podemos ter aumentos de produtividade enormes, o que é relevante porque estmaos a falar de produzir exatamente o mesmo com menos recursos», enalteceu Tiago Sacchetti, que disparou: «Investir na sustentabilidade é algo que faz sentido».

 

Paralelos importantes

Para fechar a conferência, Paulo Pereira, Key Account Director da Huawei Portugal, começou por realçar o «paralelo entre a transição digital e o desafio da descarbonização». «A tecnologia não tem de ser contra a natureza, mas parte da natureza», defendeu Paulo Pereira, enaltecendo os efeitos positivos do desenvolvimento tecnológico. Daí que a Huawei esteja «cada vez mais focada em entregar soluções verdes» aos seus clientes, garantiu o mesmo.