Os doentes triados como casos não urgentes nos serviços de urgência vão passar este ano a ser encaminhados para os cuidados primários, com uma nova circular que dará corpo a uma medida que tem sido defendida por alguns médicos nos últimos anos e que já teve algumas experiências no SNS, nomeadamente no hospital de São João. O anúncio foi feito esta quinta-feira pelo presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, Victor Herdeiro, no fórum anual do Plano de Recuperação e Resiliência, dando conta de que será em breve emitida a circular com o novo enquadramento.
“Portugal é conhecido por ter um acesso excessivo à urgência de doentes não urgentes. Uma circular que vai sair agora da ACSS vai exatamente enquadrar este plano no sentido em que as pessoas sejam atendidas”, disse o responsável, citado pela agência Lusa. “A expectativa é que, até ao final do ano, já se consiga sentir essas alterações e no ano seguinte se sinta de uma forma mais intensa”, acrescentou, salientando que as pessoas vão poder continuar a ir às urgências, mas que se procura estreitar a relação entre hospitais e cuidados primários.
A ideia de urgências “à porta fechada”, ou só para doentes encaminhados pelo SNS24 ou INEM, foi defendida ao i por Nelson Pereira, responsável pela unidade autónoma de gestão do Urgência e Medicina Intensiva. O grupo que estudou a reforma das urgências em 2019, defendeu, por outro lado, que os doentes triados com pulseiras azuis e verdes poderiam ser encaminhados para consultas alternativas, com reforço dos centros de saúde para consultas urgentes e apoio a lares ou mesmo para “consultas abertas” nos hospitais. Considerou ainda necessário tornar claro para a população que existem consultas “urgentes” nos centros de saúde e que os horários e locais devem ser estáveis.
“O doente tem de saber que entre as 8-20h nos dias úteis tem no seu centro de saúde possibilidade de ser observado. Tem de saber que aos fins de semana e feriados o atendimento funciona sempre no mesmo local e no mesmo horário (as equipas deslocam-se, não o doente). É fundamental estabilizar o local e o horário de atendimento urgente dos CSP”, recomendaram. Propostas que não foram ainda implementadas, não tendo a tutela respondido ao Nascer do SOL na semana passada se serão retomadas esta legislatura.
Desde o início do ano contabilizam-se já mais de 3 milhões de idas às urgências no SNS, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, que o i analisou. Cerca de 1,3 milhões de utentes foram triados como não urgentes, ou 7 mil por dia. São 43,3% do total, as chamadas idas evitáveis às urgências, se houver outras respostas. No início de junho, já houve uma alteração: com o fim das taxas moderadoras no SNS decidido pelo Governo, apenas nas urgências e só estes doentes triados com pulseiras verdes e azuis, quando não estão isentos por outros motivos, continuam a pagar taxas, exceto quando têm de ficar internados.