por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia, e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor de Empresas
Quando em Abril, deste ano, numa reunião entre os EUA e os seus aliados, na base militar de Ramstein, na Alemanha, o Secretário de Defesa Americano, LIoyd Austin, prometeu «mover céus e terra» para tornar mais eficaz a defesa ucraniana, ficou claro que a Ucrânia não podia perder esta guerra. Decorridos mais de dois meses tudo não passou de boas intenções.
Claro que muito do material pesado prometido carece do transporte e requer que as forças ucranianas tenham formação adicional para o poder operar, mas nem todos os países aliados se têm movimentado ao mesmo ritmo. Os EUA lideram o apoio humanitário, financeiro e em equipamento militar à Ucrânia, seguindo-se a Polónia, o Reino Unido, e a Itália, entre outros. Existem, contudo, outros países que ainda estão aquém do que prometeram. Um deles é a Alemanha que, sem equipamento militar disponível, teve que encomendar muito do material pesado a empresas de armamento e enviou para a Ucrânia sete obuses blindados auto propulsados 2000 que têm um alcance até 40 km.
No caso de Portugal, à exceção do material humanitário, de coletes, de capacetes e munições, nem uma G3 modificada chegou ao terreno. Segundo o que se sabe, os ‘célebres’ 15 blindados modelo M113A, com cerca de 50 anos de serviço, ainda não seguiram para o destino prometido. O que revela a situação de penúria das Forças Armadas nacionais por ausência de recursos financeiros para o transporte desse material.
Quanto à França tem sido um dos grandes países com menor contributo para o esforço de guerra. O patamar em que se encontra a guerra na Ucrânia, não exige apenas palavras, mas ações. Isto é evidenciado pelas recentes declarações do Presidente Macron, que não caíram bem no lado ucraniano, porque como é evidente o mundo não está a humilhar Putin. É Putin que está a humilhar a Europa ao querer anexar a Ucrânia, funcionando como prenúncio, caso tenha sucesso nesta agressão, para a invasão de outros países como a Moldávia e os estados bálticos.
A situação na Ucrânia é nesta altura crítica em particular a sul onde a Rússia procura consolidar as suas posições, através da introdução do rublo e da distribuição de passaportes russos às populações. No Donbass onde os combates estão encarniçados, a Rússia já domina praticamente Luhansk e mais de 60% da região de Donetsk. Simultaneamente, Putin ainda não desistiu de Kharkiv, nem perdeu de vista Kiev. Os russos sabem que esta é uma guerra de desgaste e de longa duração, e apostam no cansaço da opinião pública ocidental, convictos que este expectável cansaço vai dar vantagem à Rússia.
Na realidade há algum esgotamento por parte das tropas ucranianas, resultante da desproporção de meios humanos na região de Donbass. Estima-se que existam 8 mil soldados e escassas dezenas de obuses para 50 mil russos e centenas de obuses. A diferença no terreno nunca foi tão gritante como agora. Os ucranianos desesperam pelo prometido apoio que tarda em chegar.
O Ocidente tem que, de uma vez por todas, decidir se consente que a Ucrânia capitule ou se pretende travar as aspirações expansionistas russas. Sabe-se que esta guerra vai ter muitos custos, por certo muito superiores aos que a Europa pagou até agora, mas para evitar males maiores no futuro, talvez valha fazer esse esforço.
Os ucranianos apenas pedem apoio militar porque em contrapartida dão o mais importante, as suas vidas, contra um agressor impiedoso e determinado a reconquistar o seu império. Recentemente, Putin comparou-se ao Czar Pedro, o Grande, numa analogia às conquistas, da Suécia, Finlândia, Estónia e Letónia, no século XVIII. Argumentando que Pedro, o Grande não estava a conquistar, mas a lutar por territórios que já pertenciam à Rússia. Putin estabeleceu um paralelismo face à guerra na Ucrânia; para ele a Ucrânia não é uma nação soberana, mas um território russo. O aviso é para ser levado muito a sério!