Hospitais da região de Lisboa estão a ter de desviar equipas para as urgências, levando ao cancelamento de consultas e cirurgias programadas. O cenário noticiado este domingo pelo DN com base em relatos de profissionais sob anonimato é confirmado pelos sindicatos médicos. “Está a acontecer na Grande Lisboa e em todo o lado, quando não há médicos”, diz João Proença, presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul e vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, confirmou a situação, deixando o alerta: “A longo prazo não se vão notar problemas, porque, tapando um buraco, aparece como uma situação resolvida, mas, na verdade, em relação às doenças crónicas, cirurgias e consultas, ainda se vai acrescentar mais ao tempo de espera”, afirmou à TSF.
O que acontece nos hospitais no verão Não será inédito os hospitais terem menos consultas e cirurgias no verão, mas só ao longo dos próximos meses será possível perceber o impacto num ano em que aumentaram as dificuldades no SNS para garantir as escalas nas urgências.
Analisando os dados publicados pelo Ministério da Saúde é possível constatar que, já antes da pandemia, o mês de agosto, a par de junho, é o que regista habitualmente menor atividade nos hospitais. Recuando por exemplo a 2019, pode ver-se que mensalmente eram feitas mais de um milhão de consultas nos hospitais do SNS, mas em junho e agosto baixam para a casa das 800 mil. No caso das cirurgias, o mesmo padrão, neste caso com agosto ao nível do que acontece nos picos de inverno, em que as urgências estão mais congestionadas e desviam mais meios. Em 2019, por exemplo, o SNS fez 39 mil cirurgias em agosto, quando chega a fazer mais de 50 mil fora da época de férias e maior pressão.
Menos cirurgias e consultas em abril do que há um ano Este ano a ACSS ainda só publicou dados até abril, que mostram que se o ano começou com o SNS a recuperar atividade nos hospitais, em abril, com o país a viver a sexta vaga covid e pressão nas urgências, foram feitas menos cirurgias do que em abril de 2021, ainda assim 53 mil. Nas consultas, os dados que o i analisou mostram o mesmo fenómeno: se há um ano os hospitais tinham feito mais de um milhão de consultas externas em abril, este ano foram 977 mil. A recuperação já parecia estar a estagnar antes da chegada das perturbações deste verão nos serviços.