Em 24 horas, o cenário dos incêndios complicou-se ontem dando lugar ao habitual desalento de quem vê as chamas chegar perto das casas, surpresa com as áreas atingidas, nomeadamente em Palmela e em Faro, onde o fogo percorreu os 4 km entre Gambelas, onde começou, e a Quinta do Lago. Com mais de 170 ignições, os meios já não esticaram como nos dias anteriores. Octávio Machado, presidente dos Bombeiros Voluntários de Palmela, apontou baterias à secretária de Estado da Administração Interna por no início do fogo em Palmela apenas ter estado um meio aéreo no local, acusando as autoridades de negar reforços. “O que é triste é que ela [Patrícia Gaspar] conhece isto tão bem como eu, porque foi Comandante Operacional Distrital de Setúbal”, criticou.
Ao início da noite, com a situação mais calma, Octávio Machado mantinha: “O que correu mal foi o ataque inicial, os aviões chegaram tardíssimo”, disse ao i, defendendo que a resposta que teve quando foram negados os meios solicitados foi de que não havia. “Ainda é mais grave. Numa zona de alto risco como a nossa, a vigilância e prevenção tem de ser mais efetiva. O problema não é só Palmela, é o país, mas foi apresentado um dispositivo que teria elasticidade e segurança”, afirma. “Esperava mais”, conclui.
Os aviões chegaram – dois canadair e aeronaves mais pequenas – e o combate fez-se contra o vento forte. Contavam-se ontem dez feridos neste incêndio, dos quais cinco bombeiros. Havia a esperança de ser totalmente dominado durante a noite.
Quem o viu crescer a partir do meio-dia, de pequenas labaredas na encosta do Castelo de Palmela, onde não é assim tão incomum, mas ganhando proporções que pelo menos há 15 anos os moradores não recordavam, viveu o susto e o receio, que implicou tirar crianças da escola e, em alguns momentos, não poder entrar em casa.
Foi também o que aconteceu no Algarve, onde ontem ao final do dia o fogo estava 80% dominado, temendo-se no entanto o efeito dos ventos fortes esperados durante a noite.
Na cronologia do dia, com temperaturas infernais em todo o país, a manhã começou mais calma no incêndio da Freixianda, em Ourém e também em Leiria.
Depressa chegaria o alerta de fogo em Faro, perto do campus da Universidade do Algarve, a dois quilómetros do local onde decorre a concentração motard, cujo acampamento foi deslocalizado à última hora e onde de véspera parecia haver a ideia de que não havia risco de incêndio – na realidade, era a única região com aviso amarelo do IPMA, quando todo o país estava a vermelho.
Passava pouco das 10h da manhã e em poucas horas o fogo percorreu cerca de quatro quilómetros até à urbanização da Quinta do Lago, já em Almancil, atravessando-a e aproximando-se de habitações, o que quando se começou a ver o fumo ao longe não se imaginava.
O Quinta Shopping foi evacuado e as entradas e saídas foram proibidas, com um cenário descrito ao i como caótico, com os proprietários a tentar apagar pontos de fogo à volta das casas. Não tinha sido ainda determinada a origem do incêndio e fonte da investigação desmentiu ao i uma das informações que circulava, de que teria sido detida uma pessoa relacionada com fogo posto.
O fogo mobilizou milhares de homens em todo país, no dia com mais incêndios deste verão até à data (171 até às 19h). Ao final do dia, havia ainda 4300 operacionais envolvidos nos trabalhos, 2700 no combate às chamas em 19 incêndios em curso e os restantes em trabalhos de consolidação e rescaldo de outras ocorrências -75 ainda não estavam fechadas por completo. O distrito com mais homens no terreno continuava a ser Leiria, nomeadamente no incêndio de Vale da Pia, que ao final da noite de terça-feira era um dos que suscitava mais preocupação e assim continuava ontem. As chamas lavram desde dia 8 de julho, a última sexta-feira. Mas as ignições continuavam a surgir, já noite dentro.
Em Palmela, estavam no combate às chamas ainda mais de 500 homens e, em Faro, cerca de três centenas. Os meios aéreos são desmobilizados durante a noite. O maior pico de ocorrências, segundo o comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, deu-se entre as 12h e as 17h.
Ao todo, desde dia 8 de julho, contabilizam-se 135 feridos a precisar de assistência, dos quais 70 operacionais, indicou André Fernandes. Havia ontem dois feridos graves, um operacional e um civil.