Depois de, em 2017, o diamante ‘Pink Star’, de 59,6 quilates, ter sido leiloado em Hong Kong por 71,2 milhões de dólares, cerca de 70 milhões de euros, e continuar a ser, até aos dias de hoje, o diamante mais caro da história, a empresa australiana Lucapa Diamond Company anunciou ao mundo, ontem, que descobrira um enorme diamante rosa puro numa mina em Angola.
Baptizado ‘Rosa do Lulo’ devido à mina homónima onde foi descoberto, no nordeste daquele país africano, será o maior do seu tipo a aparecer nos últimos 300 anos e foi descrito pela Lucapa, Endiama e Rosas & Pétalas, parceiras na Sociedade Mineira Do Lulo, como motivo de orgulho e “histórico”, sendo “o 5.º maior diamante e o 27º com mais de 100 quilates recuperado até à data na concessão do Lulo”.
“Este recorde e espetacular diamante cor-de-rosa de Lulo continua a mostrar que Angola é um ator importante no panorama mundial da extração de diamantes”, disse o ministro dos Recursos Minerais angolano, Diamantino Azevedo, enaltecendo a importância da descoberta. Já José Manuel Ganga Júnior, Presidente do Conselho de Administração da Endiama, destacou que “o campo de diamantes do Lulo voltou a entregar uma pedra preciosa e grande, desta vez um extremamente raro e lindo diamante rosa”, adiantando que esta quarta-feira constituiu “um dia significativo para a indústria diamantífera angolana e para a parceria” formada pelas empresas.
Já se sabe que a pedra será vendida em leilões internacionais e prevê-se que atinja um valor extremamente elevado. No entanto ainda terá de ser cortado e polido para desenvolver todo o seu potencial. No decorrer deste processo, a pedra pode perder 50% do seu peso. Mas esta não é uma novidade para a Lucapa que, no passado mês de novembro, descobriu 13 diamantes, nesta mesma mina, situada em Capenda Camulemba, Lunda-Norte.
“As 13 pedras, com 4,15 quilates, embora pequenas em tamanho, são de qualidade superior, identificadas como Type lla, só descobertas em 2,0 por cento da totalidade dos diamantes encontrados em todo o mundo”, escrevia o Jornal de Angola, lendo-se na nota divulgada, à época, que a “rara descoberta de oito diamantes com esta qualidade numa única amostra” ocorreu num bloco denominado Lo28.
“No Lulo, já tinham sido encontrados os cinco maiores diamantes encontrados em Angola, quatro dos quais com mais de 200 quilates, o que torna a mina num quimberlito raro. Com 420 trabalhadores, a mina do Lulo, integrada no complexo mineiro do Lucapa, é conhecida pelos diamantes raros e de alta qualidade. Desde o início da exploração, em 2010, o potencial de qualidade e quantidade foi percebido”, dava conta aquele órgão de informação, realçando que, logo no primeiro ano de exploração, a mina conseguiu o valor mais elevado por quilate no mundo inteiro: 2.983 dólares, o equivalente a 2.941 euros.
No final do artigo, lê-se: “Os blocos 6 e 8 foram responsáveis pela produção de 13 das 15 pedras com mais de 100 quilates saídas desta mina, incluindo o maior diamante alguma vez encontrado em Angola (2016), com 404,2 quilates, leiloada a 16 milhões de dólares e após ser lapidado, foi transformado numa jóia que acabou por ser comercializada por 34 milhões de dólares”, isto é, um ainda mais grandioso do que o ‘Pink Star’ (59,6 quilates) e o ‘Rosa do Lulo’ (170 quilates), sendo que os mesmos são classificados consoante o tipo a que correspondem e, portanto, se nos referirmos àqueles dois, estamos a abordar somente os cor-de-rosa puro.
Quanto rende o negócio dos diamantes? A plataforma theglobaleconomy.com, que contém livre acesso a dados relativos a 200 países, no âmbito dos negócios e da economia, disponibiliza vários indicadores relativos à indústria dos diamantes em Angola. Começando pela produção, em quilates, compreendemos que o valor médio para Angola entre os anos de 2004 e de 2021 foi de 8.564.143,4 quilates com um mínimo de 6.146.360,89 quilates em 2004 e um máximo de 9701708,71 quilates em 2007. O valor mais recente de 2021 é 8.723.068,71 quilates.
Se quisermos fazer uma comparação, a média mundial em 2021, com base em 57 países, é de 2.105.983,03 quilates. Prosseguindo para o valor da produção destas pedras preciosas, percecionamos que o valor médio, também no decorrer destes anos, foi de 1140,3 milhões de dólares – 1123,99 milhões de euros – com um mínimo de 788,14 milhões de dólares – 776,87 milhões de euros – em 2004 e um máximo de 1625,9 milhões de dólares – 1602,64 milhões de euros – em 2021. Comparando, novamente, a média mundial, no ano passado, era de 245,42 milhões de dólares – 241,91 milhões de euros -, o que nos permite entender a importância de Angola neste setor do mercado.
À semelhança destes valores, também os do quilate registaram o seu expoente em 2021. O valor médio para Angola, durante os 17 anos estudados, foi de 133,55 dólares – 131,66 euros – por quilate com um mínimo de 87,04 dólares – 85,81 – por quilate em 2009 e um máximo de 186,39 dólares – 183,75 euros – por quilate em 2021. Para comparação, a média mundial, em 2021, era de 69,73 dólares – 68,74 euros – por quilate.
Relativamente à exportação destas pedras preciosas, o valor passou de um mínimo de 788,14 milhões de dólares – 777,13 milhões de euros -, em 2004, para um máximo de 1554,48 milhões de dólares – 1511,36 milhões de euros – em 2021. Ainda assim, a economia angolana, devido ao impacto de fenómenos como a crise financeira de 2008 ou a pandemia de covid-19, parece continuar frágil e não ser consolidada por meio de negócios como o dos diamantes. Porém, parece haver esperança: segundo as previsões do Standard Bank – um dos maiores grupos de serviços financeiros da África do Sul, atuando em 38 países -, a economia angolana vai registar um crescimento médio anual de 2,5%, entre 2022 e 2025.
Este número foi apresentado por Fáusio Mussá, economista chefe do Standard Bank para Angola e Moçambique, durante a conferência ‘Investimento em Angola e Moçambique’, que teve lugar na manhã da passada terça-feira, em Lisboa. Na apresentação feita por Mussá, é possível concluir que o petróleo, o gás natural liquefeito, o petróleo refinado e os diamantes são aqueles que mais peso têm na balança comercial do país.
Mas é caso para dizer que nem tudo tem sido cor-de-rosa ou de outra tonalidade agradável. Por exemplo, em maio de 2015, a agência Lusa dava conhecimento de que “o jornalista e ativista angolano Rafael Marques” estava “livre das mais de 20 acusações que enfrentava num tribunal de Luanda, capital de Angola, e a Amnistia Internacional enalteceu o desfecho do caso”, sendo que era “visado por sete generais angolanos, incluindo Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República José Eduardo dos Santos”.
Em causa estava a obra Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola, editada em Portugal pela Tinta da China, em setembro de 2011. “No livro, Rafael Marques de Morais expôs alegados casos de corrupção e de violações de direitos humanos cometidos por generais do Exército angolano e por empresas de extração de diamantes, na região de Lunda Norte, junto à fronteira com a República Democrática do Congo”, era frisado, tendo o autor aceitado não republicar o livro caso fossem retiradas todas as queixas de acusação.
“Os generais, a ITM, e a sociedade de Catoca (as empresas mineiras citadas no livro) aceitaram as explicações de Rafael Marques e demonstram que não querem continuar a litigar. Foram dispensados os declarantes e as testemunhas, porque as explicações que o Rafael lhes deu foram convincentes. Na segunda-feira serão realizadas as alegações finais, e esperamos que nos termos do artigo 418 do Código Penal o tribunal decida aceitar as explicações. As partes interessadas assim já decidiram e registaram em ata que estão de acordo com as explicações. O tribunal não deve, por isso, aplicar nenhuma pena ao Rafael”, afirmava o advogado de defesa, David Mendes, ao portal Rede Angola, que auxiliou o jornalista a partilhar o PDF da obra, juntamente com a editora, que, em menos de 48 horas, já tinha sido divulgado 15 mil vezes. “Em menos de dois meses, o livro já foi descarregado por mais de 55 mil pessoas”, escrevia a Lusa.
Apesar de todas as contrariedades, a 14 de agosto de 2013, Kerry A. Dolan e Rafael Marques de Morais publicaram uma reportagem, na Forbes, explicando a forma como Isabel dos Santos enriquecera. “Aos 40 anos, Santos é a única mulher bilionária da África e também a mais jovem do continente. Ela conquistou rápida e sistematicamente participações significativas nas indústrias estratégicas de Angola – bancos, cimento, diamantes e telecomunicações – tornando-a a empresária mais influente em sua terra natal” é um dos excertos que ilustram o modo como a política e a indústria dos diamantes angolanas andaram sempre de mãos dadas.