Depois de, em junho, uma grávida ter perdido o bebé por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha, uma grávida de mais de 38 semanas, da região de Abrantes, perdeu o bebé, na quarta-feira, quando o serviço de Obstetrícia do hospital mais próximo estava encerrado.
A mulher teve de se deslocar até Santarém, a mais de 100 quilómetros. Aos 41 anos, e supostamente a viver uma gravidez de risco, a residente em Vila de Rei foi pelos próprios meios para a maternidade mais próxima, no hospital de Santarém, mas quando lá chegou verificou-se que o bebé já tinha morrido. As causas da morte não foram ainda divulgadas, mas, à semelhança do que aconteceu em junho, o Hospital de Abrantes já abriu um inquérito para apurar responsabilidades.
“Em primeiro lugar, manifesto o meu pesar por mais esta ocorrência. A família está, certamente, devastada. Quero recordar que o conjunto de alertas que temos feito, nos últimos anos e, em particular, nos últimos meses, obriga a que o Governo aja com celeridade”, explica, em declarações ao i, Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
“É fundamental que, face a uma situação que é de evidente carência, o Executivo não fique satisfeito com a nomeação de comissões. O diagnóstico está feito. E pretendo dar também nota que, quando as maternidades estão encerradas, deve ser dada pública transparência. E temos notado que, no tal site que existe, isso nem sempre acontece”, avança o profissional de saúde, referindo-se à promessa de que o Portal do SNS teria, a partir do início deste mês, informação sobre as urgências ginecológicas e obstétricas que têm limitações, indicando às grávidas a que instituição devem dirigir-se.
“Nós não nos conformamos!” “E mesmo quando as maternidades não estão encerradas, estão no limite dos limites, muitas delas, e o que acontece, por exemplo, na Amadora, como vimos, é que acabam por receber o dobro das grávidas do que habitualmente”, observa Roque da Cunha, que também exerce funções na Unidade de Saúde Familiar (USF) da Travessa da Saúde, em Camarate, no concelho de Loures.
“É urgente que sejam encontradas medidas proativas. Naturalmente, aguardamos o inquérito e não sabemos as razões mas, independentemente disso e acompanhando a família na sua dor, é fundamental que o Governo aja rapidamente como temos vindo a exigir nos últimos meses. Não é o momento para exacerbar a dor da família, esta deve fazer o seu luto em paz, mas também não deve ser de silêncio porque pode parecer cúmplice e nós não nos conformamos!”, continua o responsável.
“No dia 27 de julho foi admitida na Urgência de Ginecologia e Obstetrícia, que se encontrava a funcionar em pleno, uma grávida, cuja gravidez não foi acompanhada ou vigiada pelo Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HDS, que recorreu, por iniciativa própria, a esta instituição por suspeita de início de trabalho de parto”, asseverou o Hospital Distrital de Santarém ao Observador. “A equipa médica diagnosticou uma morte fetal in útero, uma situação clínica inesperada, cujos dados em concreto cabe proteger e respeitar”.
Já o Centro Hospitalar do Médio Tejo adiantou que existe apenas registo de um pedido de exame de rotina para avaliação no final da gravidez, realizado no passado dia 18. “Se não existisse este registo, não teríamos sequer aberto o inquérito”, declarou, frisando que não tem “nada a esconder”.