André Ventura, líder do Chega, foi ontem recebido em Belém pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem diz ter chamado «a atenção» para o «comportamento» do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, a quem acusa de «atropelar sistematicamente o regimento» do Parlamento e de o escolher como «alvo».
André Ventura explicou aos jornalistas, à saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, que a mesma se deu para apresentar ao chefe de Estado as razões e argumentos que levaram o grupo parlamentar do Chega a abandonar o plenário no passado dia 21, enquanto Santos Silva usava da palavra. Ventura aproveitou ainda a reunião para apresentar os «motivos de crítica e censura» ao presidente da AR.
«O Chega apresentou argumentos claros ao senhor Presidente da República, chamando a atenção que o que está em causa não é apenas um comportamento pontual, circunscrito, mas é uma atitude recorrente, intencional, racional e decidida, deliberada, de eleger o Chega como alvo e de sistematicamente atropelar o regimento da Assembleia da República», defendeu Ventura perante os jornalistas, garantindo que o Chega não é o «único» partido a queixar-se.
«Chamámos à atenção [de Marcelo Rebelo de Sousa], de que não sendo o Chega o único que se queixa dos atropelos sistemáticos ao regimento, com base na maioria absoluta que Santos Silva sente que tem a apoiá-lo, têm sido constantes os atropelos à liberdade, à ação dos partidos e à democracia parlamentar», continuou Ventura, considerando ser «inédito» este episódio que teve como protagonista a segunda figura do Estado. «Desde o início do parlamentarismo português, e é provavelmente preciso recuar mais de 100 anos, para termos um presidente da Assembleia da República a comentar uma iniciativa legislativa de um partido», argumentou o líder do Chega, considerando que «provavelmente também é preciso recuarmos mais de 100 anos para termos um presidente da Assembleia da República a interromper a intervenção de um deputado e líder de um partido e a fazer comentários sobre essa intervenção». «E, provavelmente, é preciso recuar 500 anos para encontrar algum órgão de soberania que rejeita uma censura sobre ele próprio», concluiu.
André Ventura acusou ainda Augusto Santos Silva de estar a agir segundo «ambições pessoais» (possível candidatura presidencial em 2026), garantindo estar seguro de que Marcelo Rebelo de Sousa irá agir «como sabe, discretamente, nos bastidores».