António Ramalho promoveu uma nova vida para o novobanco e parece ter levado esta máxima à letra até para si próprio: anunciou a sua saída da liderança da instituição financeira a 1 de agosto – o seu mandato só terminava em 2024. Data que chega hoje. O irlandês Mark Bourke foi o nome escolhido para o substituir.
De acordo com a instituição financeira, Bourke foi considerado “o candidato ideal” por ter “mais de 20 anos de experiência como administrador executivo (em funções de CEO e de CFO) em instituições financeiras reguladas”, pela sua “experiência e conhecimento significativo do mercado e sistema bancário português, adquiridos como CFO nos últimos três anos do novobanco”, e devido às suas “competências e experiência necessárias para liderar o novobanco nesta próxima fase de desenvolvimento”.
Esta alteração foi anunciada, em maio depois de o banco ter duplicado os lucros no primeiro trimestre do ano, passando de 70,7 milhões para 142,7 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira, “o desempenho da atividade está em linha com as expectativas, apresentando pelo quinto trimestre resultados positivos”, referindo que “apresenta melhorias de desempenho financeiro apesar do atual contexto macroeconómico caracterizado por pressões inflacionistas e consequente volatilidade das taxas de juro.
Ainda não conhecidos os resultados do último semestre – ao contrário do que aconteceu com os bancos concorrentes, que foram anunciando os seus lucros no decorrer da semana passada.
O mandato de António Ramalho marcou o regresso da instituição financeira aos lucros, mas também esteve envolvido em polémicas. Recentemente, o Tribunal de Contas considerou que a gestão do Novo Banco com financiamento do Estado “não salvaguardou o interesse público”, identificando-se “riscos de conflito de interesses” em operações efetuadas e “práticas evitáveis” que oneraram o financiamento público. E disse que esta “falha” deve-se ao facto de não ter sido otimizado (minimizado) o recurso a esse financiamento, através da verificação das condições identificadas pelo tribunal, em consonância com os termos solicitados pela Assembleia da República”.
Também os pedidos de injeção ao Fundo de Resolução não foram pacíficos. O último foi de mais 209,2 milhões de euros. Isto porque o contrato com o Lone Star estipula um rácio de 12%, que não será cumprido caso não seja levada a cabo esta nova injeção. Recorde-se que o mecanismo de capital contingente foi criado em 2017, aquando da venda do Novo Banco pelo Fundo de Resolução ao fundo norte-americano Lone Star. Este mecanismo visa proteger o novobanco das perdas registadas num conjunto determinado de ativos problemáticos herdados do BES, vigorando até 2026. E, ao abrigo deste acordo, o Fundo de Resolução ficou obrigado contratualmente a compensar o novobanco num montante que poderá ascender, no máximo, a 3,89 mil milhões de euros. Até à data, já foram realizadas injeções no valor de 3,4 mil milhões.
Desde a resolução do BES, o novobanco foi passando por vários desafios. Ativos não produtivos e passivos caros pesaram nas contas e impuseram novas exigências de capital. Em 2015, contava com uma elevada exposição a imóveis (5,2%) e o nível de crédito não produtivo – em inglês, non-performing loan ou NPL –, em 2016 fixava-se nos 33%, quando a média em Portugal era se 17% e a da União Europeia era de 5%. A missão de recuperação era quase impossível.
No entanto, como o i noticiou, a venda, as entradas de capital e a criação do Mecanismo de Capital Contingente (CCA) permitiram não só a reestruturação do passivo como a limpeza do balanço. E antes disso, as previsões de resultados foram sendo ultrapassadas num curto período de um ano.