Kiev e Moscovo acusam-se mutuamente pelo massacre na prisão de Olenivka, em Donetsk, controlada pelos russos. E agora as Nações Unidas querem apurar o que se passou, estando a preparar uma missão para investigar como é que pelo menos 53 prisioneiros de guerra ucranianos foram mortos, na semana passada, segundo as autoridades separatistas e russas, ficando outros 75 feridos.
A ONU não tem mandato para conduzir investigações judiciais, admitiu António Guterres, mas pode enviar delegações para apurar factos, salientou o secretário-geral das Nações Unidas, na quinta-feira. Esta missão ainda terá de receber luz verde da Rússia e da Ucrânia, mas não se espera que tal seja impossível, dado que ambas as partes já apelaram ao envolvimento desta organização.
Numa guerra particularmente marcada por contra-informação desde o primeiro momento, o que ambas as histórias que Kiev e Moscovo têm em comum é a certeza de que os últimos momentos dos prisioneiros de guerra ucranianos em Olenivka foram terríveis. A prisão – onde a maioria dos detidos eram membros do batalhão Azov, uma milícia neo-nazi, particularmente odiada pelo Kremlin, que os usou como pretexto para invadir e “desnazificar” a Ucrânia – ardeu, deixando muitos destes combatentes encurralados nas celas, enquanto o fogo alastrava.
No que toca aos serviços secretos militares do Governo ucraniano, asseguraram ter obtido inteligência, chamadas intercetadas e imagens de satélite que provam que o massacre foi uma operação do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla russa), as secretas do Kremlin, em conjunto com separatistas locais e com mercenários da Wagner, uma empresa conhecida por levar a cabo os trabalhos mais sujos de Vladimir Putin. Terão colocado minas na prisão, antes de “usar substâncias inflamáveis, que levaram a que o fogo alastrasse rapidamente”.
A ideia das secretas de Putin seria esconder indícios de tortura generalizada de prisioneiros de guerra, um crime que viola a Convenção de Genebra. E, simultaneamente, vingarem-se dos combatentes Azov, que tantas baixas causaram aos militares russos durante a sua teimosa defesa de Mariupol, que costumava ser o seu quartel-general.
Volodymyr Zelensky chegou a afirmar que, antes do incêndio, imagens de satélite mostravam que as forças russas já tinham cavado valas comuns em torno da prisão. Já declarações como as do embaixador russo no Reino Unido de que os Azov deviam sofrer uma “morte humilhante”, só aumentaram a suspeita.
Já o Kremlin apontou o dedo a um alegado bombardeamento ucraniano, lembrando que a prisão fica bastante próxima da linha da frente. Kiev teria atingido propositadamente as instalações, com recurso aos HIMARS, baterias de mísseis americanas de alta precisão.
No que toca ao Pentágono, veio a terreiro afirmar que os invasores planeavam fabricar provas, plantar munições deste mísseis para incriminar os americanos.