O Cardeal-Patriarca de Lisboa pôs o lugar à disposição do Papa Francisco na audiência desta sexta-feira no Vaticano. Segundo o Nascer do SOL apurou, o encontro para discutir os últimos casos de alegados abusos sexuais por padres e encobrimento por parte da hierarquia, inclusive por D. Manuel Clemente, serviu também para discutir a continuidade do cardeal no cargo, mostrando-se este disponível para sair já se o Papa assim entendesse, mas reiterando a posição de que as decisões tomadas por si e por D. José Policarpo seguiram as diretrizes de então da Igreja. Francisco terá pedido a D. Manuel Clemente que permaneça no cargo até às Jornadas Mundiais da Juventude, em agosto de 2022 se o seu estado de saúde permitir. «Está profundamente triste e agastado com o julgamento na praça pública e passar de bestial a besta após 50 anos de missão na Igreja», disse ao Nascer do SOL fonte próxima do patriarca.
Uma das questões discutidas nas últimas semanas, também em função do estado de saúde de D. Manuel Clemente, foi a possibilidade de ser criada a figura de patriarca-adjunto, que entretanto terá sido afastada. Questionado ontem pelo Nascer do SOL sobre a renúncia apresentada ao Santo Padre e a decisão tomada, o Patriarcado de Lisboa não respondeu até à hora de fecho. Em comunicado, indicou apenas que D. Manuel Clemente foi recebido esta sexta-feira de manhã pelo Papa Francisco, em audiência privada. «O encontro, pedido pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, realizou-se num clima de comunhão fraterna e num diálogo transparente sobre os acontecimentos das últimas semanas que marcaram a vida da Igreja em Portugal».
Segundo o Nascer do SOL apurou, o nome nesta altura apontado para suceder a D. Manuel Clemente, o que será uma decisão do Papa, é o do cardeal Tolentino de Mendonça, desde 2018 no Vaticano. D. Manuel Clemente, de 74 anos, foi nomeado Patriarca de Lisboa em maio de 2013, tendo tomado posse a 6 de julho desse ano, nos primeiros meses do pontificado de Francisco, que o nomearia cardeal em 2015. Na carta aberta que divulgou na semana passada, D. Manuel Clemente assumiu a existência de uma denúncia em 1999 que não foi reportada à Justiça e que, já patriarca, marcou encontro com a vítima, que viria a realizar-se em 2019, não tendo então entendido que o devia fazer. O padre em causa manteve ao longo dos anos as funções como capelão, tendo dirigido uma associação que dava acolhimento a famílias, jovens e crianças, noticiou o Observador. «A sua preocupação era não haver uma repetição do caso, sem desejar de forma expressa, a sua divulgação. Não entendi, como não entendo hoje, ter estado perante uma renovada denúncia da feita em 1999. Se assim tivesse sido, a mesma teria sido remetida à Comissão Diocesana, criada por essa altura, e teriam sido cumpridos todos os procedimentos recomendados à data. Recordo que as regras e recomendações de 16 de julho de 2020 são posteriores», justificou D. Manuel Clemente, reiterando um compromisso de «tolerância zero e transparência total» desde que assumiu funções no Patriarcado.