Bombardeamentos russos atingiram Nikopol, uma cidade próxima da central nuclear de Zaporíjia , do outro lado do rio Dnipro, esta terça-feira. Menos de 24h após a Ucrânia ser acusada pelo Kremlin de atingir esta mesma central, retorquindo que os invasores a estavam a utilizar como posição de disparo da sua artilharia e mísseis, fortificando as instalações. O mundo parece cada vez mais perto do pior cenário imaginável. Sobretudo se forças ucranianas se sentirem tentadas a retaliar ao fogo vindo do outro lado do Dnipro.
“Esta é a situação mais crítica em termos de segurança nuclear desde o início da guerra”, já alertara Dmytro Gumenyuk, responsável pelo departamento de análise de segurança do SSTC NRS, o centro estatal da Ucrânia para a segurança nuclear e radioativa, ao i, na segunda-feira.
Os invasores têm disparado “não na zona de contenção dos reatores nucleares mas nos edifícios adjacentes, onde estão tubagens de vapor que são necessárias para o arrefecimento do reator”, explicou. “Em caso de explosão, é possível haver estragos nestas tubagens e o arrefecimento do reator pode perder-se, o que pode atingir o combustível nuclear e levar à libertação de contaminantes radioativos para o ambiente”.
Nikopol terá sido atingida com mais de 120 mísseis Grad – disparados em saraivadas a partir de plataformas em camiões, que são talvez a mais icónica peça de artilharia soviética, conhecida pela sua imprecisão e poder de fogo devastador – vindos dos arredores da central nuclear de Zaporíjia , acusou Valentyn Reznichenko, governador de Dnipropetrovsk, citado pela Associated Press. Pelo menos três pessoas morreram e 23 ficaram feridas, registaram as autoridades ucranianas, tendo sido danificados blocos de apartamentos e infraestruturas industriais.
Tudo indica que os combates em torno da central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, se venham a intensificar ainda mais nos próximos tempos, com o Governo da Ucrânia a apostar boa parte das suas reservas numa contraofensiva no sul do país, sobretudo nos oblasts – uma divisão administrativa equivalente aos nossos distritos – de Zaporíjia e Kherson.
O Kremlin, que na última semana começou a reagir deslocando para a região forças vindas de Donetsk, tem utilizado a central nuclear de Zaporíjia como uma espécie de âncora para a sua linha da frente, que está sob pressão. Na prática, os militares russos mostram-se bem conscientes das expectáveis reservas de Kiev em atacar estas instalações, não vá isso causar um desastre. No entanto, isso não impediu forças ucranianas de bombardearem a central de Zaporíjia, queixou-se o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
“Bombardeamento do território da central pelas forças armadas ucranianas é altamente perigoso”, salientou Peskov, numa conferência de imprensa. “Está carregado de consequências catastróficas para território imensos, para a Europa inteira”.
Já o Governo ucraniano negou ter conduzido tal bombardeamento, culpando os explosivos que os invasores terão colocado nos arredores da central de Zaporíjia, tentando travar a contra-ofensiva da Ucrânia. Imagens de drone verificados pelo site investigativo Bellingcat mostram que foram cavadas trincheiras nos arredores das instalações, por onde têm circulado veículos blindados.