Reza a história que a bandeira americana levada em 1969 por Neil Armstrong e Buzz Aldrin para a Lua teve mão de uma portuguesa, de Sosa, Vagos, então emigrada nos EUA. Maria Isilda Ribeiro, com quem o i conversou há uns anos, costurou bainhas de bandeiras encomendadas pela NASA e as da Annin & Company, Nova Jérsia, terão sido escolhidas, pelo menos segundo a história então passada aos trabalhadores e noticiada na América e depois cá, já que contactada em 2009 pelo i a propósito dos 50 anos da Ida do Homem à Lua a NASA não tinha registos de quem tinha feito a bandeira deixada no Mar da Tranquilidade. Isilda, que deixara Portugal com 20 e poucos anos, lembrava-se desses tempos: «Outra vez, são teimosos. Eu não bordei a bandeira, foi estampada», contava. Mas as costuras na bandeira foram delas, confirmava. «Sim, fui eu que as fiz». Percebeu-o quando o The New York Times foi fazer uma reportagem à fábrica. «Por acaso também foi um português que a estampou, mais velho», contou-nos então. «Começou tudo no final de 1968. Começámos a fazer bandeiras especiais, em fia de vidro, só sabíamos que eram para experiências».
O pano custou 5,50 dólares na Annin. Isilda dedicou-lhe meia hora na máquina Singer, que valeu pouco mais de 40 cêntimos de dólar. O tecido já vinha com os ‘picotados’ para costurar. A haste, a enterrar na superfície lunar, custou 75 dólares. Uma vara adicional foi colocada na horizontal para levantar o pano. Como não suportaria mais de 180 graus centígrados durante a viagem, teve de ser protegido por uma mortalha de fibra de aço. Sabe-se também que foram precisas 12 pessoas para instalar o kit da bandeira a bordo do Eagle.
Fast forward para 2022: 4 de agosto ficará registado como o dia da primeira viagem suborbital de um português, Mário Ferreira, e da primeira bandeira portuguesa a cruzar a fronteira da atmosfera, registada nas fotografias feita pelo empresário da Douro Azul. Um processo planeado face ao tempo que teria disponível em gravidade zero, quase quatro minutos. «Têm perguntado muito que objetos se vão vendo no negro do espaço, na última foto que publiquei com a bandeira, o que se vê é apenas o reflexo do meu braço iluminado por outra janela, aqui nesta foto dá para ver o reflexo de outras duas janelas. Como disse no último comentário estar em gravidade zero procurar estabilidade, procurar a bandeira e manter o equilíbrio não foi fácil, mas foi muito divertido», relatou nas redes sociais. «A câmara era uma GO Pro 10, programei para captar 5 fotos seguidas por cada click». A câmara foi levada a seu pedido, junto com outros objetos pessoais, que tinham de pesar menos de 1,5kg. «Chegado à tão esperada gravidade Zero e já no espaço, depois de ultrapassar a linha Kármán, tudo se baralha, perdemos a noção de equilíbrio pela ausência de gravidade e a adrenalina é tal que perdemos também a noção, de quanto rapidamente estava a passar o tempo. Tinha combinado com o meu companheiro de viagem Clint, para me avisar quando estivéssemos a chegar ao máximo de altitude, para que eu pudesse captar o momento, e em troca eu faria uma foto dele, coisa que aconteceu e felizmente a foto dele saiu fabulosa…»
«De seguida e de acordo com o meu plano, soltei então a bandeira Portuguesa que tinha no meu bolso e deixei-a flutuar no espaço, foi para mim um momento emocionante e comecei a disparar com a câmara procurando um difícil equilíbrio entre ângulo da janela, reflexos de luz e posição do meu corpo a flutuar, como a cápsula girava, umas vezes as fotos tinham reflexos ou muitos brancos causados pelo sol ou então, aquando do lado oposto ao sol, as fotos ficaram magníficas e o espaço ficava mesmo muito negro e profundo.»
Ao Nascer do SOL, numa entrevista que pode ler nesta edição, o empresário conta que também esta bandeira foi encomendada a costureiras que fazem as dos barcos da Douro Azul, bordada à mão, com 30 centímetros de comprimento, para poder caber no bolso. Quando chegou o momento de a soltar, em gravidade zero, desembrulhou-se sozinha. Ainda não sabe que destino lhe dará, mas são «muitos os pedidos», confessa.
A abertura da garrafa do vinho do Porto vintage, que passou pela primeira vez a barreira da atmosfera, também ainda não está marcada, mas a curiosidade é muita.
O dono da TVI, primeiro turista espacial português a bordo da missão 22 da Blue Origin de Jeff Bezos, fica para já na lista dos primeiros mil homens a ir ao Espaço: desde o primeiro voo do cosmonauta russo Yuri Gagarin a 12 de abril de 1961, missão que na altura durou 108 minutos, contam-se até hoje mais de 600 ‘astronautas’, a grande maioria profissionais, dos quais 12 andaram na Lua. A sequela lunar está marcada para 2025, na missão Artemis III da Nasa.