Por Carlos Bonifácio e João Barreiras Duarte
A Bielorrússia é um Estado no centro dos acontecimentos depois da invasão russa à Ucrânia, mas afinal qual é o papel deste país nesta agressão? Com o colapso da União Soviética em 1991, a Bielorrússia tornou-se independente, tendo realizado as primeiras eleições presidenciais livres, com Lukashenko a ‘esmagar’ os seus adversários à 2.ª volta com uma vitória superior a 80% dos votos. O Presidente recém-eleito revelou-se rapidamente uma personalidade autoritária chocando de imediato com o Parlamento. Adicionalmente, defendeu uma integração económica com a Rússia, promoveu um estatuto de igualdade entre os bielorrussos e russos, defendeu a possibilidade de o presidente dissolver o Parlamento e o regresso de alguns símbolos da era soviética.
Lukashenko foi convocando e impondo referendos para fazer aprovar todas as suas propostas, aumentando a duração e acabando com a limitação dos seus mandatos.
Todos os referendos acabaram por não serem reconhecidos pela Organização de Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) por se considerar que estas consultas não tinham sido livres e justas. Ao mesmo tempo, foi acusado pela oposição de graves irregularidades e fraudes eleitorais.
Lukashenko tem governado o país com mão de ferro, permitindo apenas candidatos ao parlamento oriundos de organizações que lhe são fiéis, impondo um regime repressivo e manipular das liberdades individuais.
O alinhamento com Putin tem sido vantajoso para a Bielorrússia, porque permite ao país ter acesso ao petróleo e gás russo a preços vantajosos. No entanto, a sua dependência em relação à Federação Russa foi aumentando ao longo dos anos, levando à transformação da Bielorrússia num verdadeiro Estado satélite de Moscovo.
O apoio de alguns países ocidentais à oposição bielorrussa nas presidenciais de 2020 empurrou definitivamente Lukashenko para os ‘braços’ de Putin, apesar de ambos não terem uma relação fácil. As eleições presidenciais de 2020 acabariam por ser mais uma gigantesca fraude eleitoral, tendo a UE acusado Lukashenko de atos de violência extrema e intimidação praticados contra manifestantes pacíficos, bem como detenções arbitrárias. Em 2021, o regime Bielorrusso chegou ao ponto de praticar pirataria aérea ao desviar um avião comercial da Ryanair, fazendo-o aterrar em Minsk para deter um ativista da oposição.
A invasão da Ucrânia colocou a Bielorrússia numa situação de absoluta subalternização em relação ao Estado russo. Num sinal claro de que ambos os Estados podem estar a caminho de um processo de integração, as primeiras tropas que entraram na Ucrânia vieram de solo bielorrusso. Na verdade, uma potencial integração é um desejo antigo de Lukashenko que ambicionou suceder ao então presidente russo Boris Ieltsin com a unificação das duas nações.
Porém, as circunstâncias mudaram e Lukashenko mostra-se agora mais contido quanto a essas intenções – as sanções económicas e o novo posicionamento da NATO, levaram Putin a condicionar a Bielorrússia, acenando com a unificação com o Estado russo. Tal unificação ou anexação da Bielorrússia é potencialmente explosiva para Lukashenko, porque lhe retiraria poder e iria resultar na mobilização da oposição que nunca aceitaria esta integração. Assim, os próximos tempos serão decisivos para avaliar qual é o grau de coesão do regime de Lukashenko.