Ainda que Portugal e Espanha estejam a viver momentos distintos ao nível meteorológico – o primeiro a entrar na terceira onda de calor que surge desde junho e o segundo dividido entre as temperaturas elevadas e a precipitação -, a verdade é que ambos continuam a ter muita dificuldade no combate aos incêndios.
Em território nacional, à hora de fecho desta edição, um novo incêndio na Serra da Estrela mobilizava mais de 240 operacionais e quatro meios aéreos. Segundo o vice-presidente da Câmara de Gouveia, o incêndio “começou na União de freguesias de Melo e Nabais e está a evoluir pela encosta acima e já está na freguesia de São Paio e dentro da freguesia de Gouveia cidade e em direção ao Curral do Negro, onde está o parque de campismo e uma área de excelência de Gouveia”.
Jorge Ferreira falou aos jornalistas, em Manteigas, pelas 18h15, onde estava a ser informado da ocorrência, para a qual o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) da Guarda deu o alerta pelas 15h41. Volvidas menos de cinco horas, por volta das 20h05, e segundo o site ofical da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), estavam no local 248 operacionais, apoiados por 70 veículos e quatro meios aéreos. “Pelo caminho, passa naturalmente pelo Parque Ecológico de Gouveia, uma área que nos preocupa bastante, por causa da fauna local”, afirmou, adiantando que estão “a tentar juntar meios nestas duas áreas, quer no parque de campismo do Curral do Negro, quer no parque ecológico de Gouveia, para conter a situação” no concelho.
Em Espanha, o panorama não era mais animador. Os incêndios nas localidades de Vall d’Ebo (Alicante) e Bejís (Castellón), de que o i falara ontem, arrasaram mais de 13 mil hectares cada um, segundo os dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS) divulgados, nesta quinta-feira, pelo programa de satélites comunitário Copernicus (Programa de Observação da Terra da União Europeia).
Sabe-se que, até ao final de quarta-feira, o incêndio de Vall d’Ebo havia devastado um total de 13.116 hectares, um valor ligeiramente inferior àquele registado no âmbito do incêndio de Bejís, ou seja, 13.451. “Dois incêndios florestais catastróficos estão a arrasar o leste de Espanha”, lamentou o Copernicus na sua conta oficial da rede social Twitter, mencionando que as “nuvens de fumo” de ambos são visíveis numa imagem captada pela constelação de satélites Sentinel-3.
Quantidades recorde de carbono na atmosfera Também ontem, a Comissão Europeia informou que nos últimos dois meses foram mobilizados 29 aviões, 8 helicópteros, 369 bombeiros e 105 veículos através do Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia para ajudar na extinção de incêndios em todo o bloco. Como podemos ler num comunicado veiculado pela Comissão Europeia, “o serviço de cartografia de emergência por satélite da UE foi ativado para fogos florestais 46 vezes, por 15 países”, sendo que “cerca de 150 bombeiros da Bulgária, Roménia, Alemanha, França, Finlândia e Noruega foram destacados para a Grécia em julho e agosto para apoiar os bombeiros locais”.
“Estamos perante um verão difícil na Europa, com mais de 700 mil hectares queimados até agora este ano, o valor mais alto para esta época do ano desde 2006”, elucidou o comissário europeu responsável pela Gestão de Crises. Para além dos hectares que já foram consumidos pelas chamas, os incêndios florestais que se têm registado na Europa libertam quantidades recorde de carbono na atmosfera. “Os dados mais recentes do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS) mostram a França registando as maiores emissões de carbono de junho a agosto desde 2003 no conjunto de dados Global Fire Assimilation System”, é explicitado numa nota publicada no site do sistema Copernicus.
“Desde o início de junho de 2022, a energia radiativa do fogo mostra valores significativamente mais altos para França, Espanha e Portugal durante as ondas de calor em julho e agosto”, foi salientado. Relativamente ao caso nacional, ainda que as emissões de carbono tenham sido relativamente “mais baixas” quando comparamos o valor atual com os de anos anteriores, o sistema Copernicus percecionou que “é o país com a maior área queimada”, tendo em conta a superfície total, com mais de 61 mil hectares queimados.
O Copernicus revelou igualmente que os valores mais elevados de energia radiativa do fogo, verificados no mês corrente, tiveram origem tanto no incêndio da Serra da Estrela, como no fogo perto de Bordéus, em França.