As mais renhidas eleições em Angola

Angola poderá estar prestes a viver um momento histórico com o MPLA, no poder desde 1975, a correr um sério risco de perder contra os rivais, UNITA.

A menos de uma semana das eleições em Angola, as urnas abrem na quarta-feira, dia 24 de agosto, o país depara-se com ato eleitoral que pode fazer história neste país, uma vez que, existe uma hipótese real do MPLA, partido que está no poder desde 1975, sentir o sabor da derrota contra a oposição, UNITA.

Nas grandes cidades angolanas e entre a geração mais jovem é pronunciada a insatisfação com a administração de João Lourenço, no cargo de Presidente desde 2017, e existe um acentuado desejo de mudança política.

Mas, mesmo assim, o objetivo do líder do MPLA, João Lourenço, é mostrar o contrário do que parece estar-se a viver no país, mostrando que ainda tem o povo a seu lado de forma a manter-se no poder.

No entanto, o programa do político oferece poucas novidades e é focado em propostas generalistas. Nomeadamente, consolidar a paz e o Estado Democrático de Direito; Promover o desenvolvimento equilibrado e harmonioso do território; Promover o desenvolvimento do capital humano; Reduzir as desigualdades sociais, erradicando a fome e a pobreza extrema; Preservar o meio ambiente; Assegurar a estabilidade macroeconómica; Assegurar a defesa da soberania e da integridade territorial.

Mas a estratégia do MPLA também passa por ataques aos seus adversários, a acusar o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, apesar de não mencionar diretamente o seu nome, de «estar a ser financiado a partir do exterior para defender uma agenda alheira aos interesses dos angolanos», acrescentando ainda que o seu rival é uma «boca de aluguer» de «interesses inconfessos», cita o Novo Jornal. 

Apesar deste «violento» ataque, o mais agressivo até ao momento, tal como escreve o jornal angolano, o partido da oposição parece confiante na sua capacidade para fazer história nas eleições de quarta-feira. 

O diretor-geral da campanha eleitoral da UNITA, Lukamba Paulo ‘Gato’, afirmou que «mais ninguém tem dúvidas que a vitória eleitoral, este ano não poderá escapar a Adalberto Costa Júnior e à UNITA».

«Neste contexto, uma força eleitoral, como a nossa, que está segura da sua vitória inapelável, não está interessada na criação de um ambiente de desestabilização do país», afirmou. «A perturbação da ordem só interessa ao regime, que perante a certeza da sua derrota nas urnas, não tem, obviamente, interesse em que o processo eleitoral seja transparente e justo e se conclua em festa da democracia e da alternância», acusou o partido de João Lourenço, acrescentando ainda que o candidato devia «aceitar os resultados eleitorais» e recusar qualquer possibilidade do regresso à guerra no país. 

Contudo, apesar das boas esperanças do UNITA, especialistas afirmam que a balança dos votos irá tombar, mais uma vez, para o lado do MPLA. 

«As três anteriores eleições pós-guerra foram marcadas pelo declínio constante no número de pessoas que votaram no MPLA», escreve a organização de notícias independente, The Conversation. «Na última eleição, há cinco anos, a participação do partido nos votos caiu para 61% nacionalmente, em contraste com 70% na eleição anterior, segundo a contagem oficial», recorda, acrescentando ainda que o partido «obteve menos de 50% dos votos em Luanda, uma cidade que historicamente considerava como a terra do coração do MPLA».

No entanto, o meio de comunicação cita a falta de credibilidade das eleições em Angola e como «os quatro principais partidos da oposição emitiram um comunicado conjunto citando irregularidades no processo de contagem de votos e rejeitando os resultados eleitorais». 

Segundo o serviço local de votação, o AngoBarómetro, citado pelo The Conversation, caso existisse uma «competição justa», haveria uma vitória absoluta para o Unita, o antigo movimento armado que lutou contra o MPLA numa guerra de 27 anos que terminou em 2002.

Devido à falta de credibilidade das eleições, foram enviados cerca de 2 mil observadores para assegurar que as eleições ocorrem sem qualquer tipo de fraude. Na comitiva portuguesa estão integrados Paulo Portas, Carlos César e José Luís Arnaut.

Estas são as quartas eleições do pós-guerra em Angola e o quinto processo eleitoral desde 1992, ano em que foi introduzido este exercício democrático, e é a primeira vez em que angolanos residentes no estrangeiro poderão votar.
Analistas esperam que as presentes eleições sejam as mais concorridas desde a primeira corrida às urnas.