Portugal vai ser representado no funeral do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos (JES) pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho. O chefe de Estado português já tinha antecipado, logo após a morte de José Eduardo dos Santos, no passado dia 8 de julho, que iria estar presente nas cerimónias, tendo agora a Presidência da República confirmado a presença.
“Conforme oportunamente anunciado, o Presidente da República estará presente nas exéquias do antigo Presidente José Eduardo dos Santos. O Chefe de Estado é acompanhado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros”, lê-se na nota divulgada por Belém.
Passado já mais de um mês desde a morte, o funeral de José Eduardo dos Santos tem sido marcado por uma disputa na trasladação do corpo entre a família do ex-chefe de Estado angolano e o regime de João Lourenço. Tchizé dos Santos, filha de JES, admitiu mesmo recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para contestar a trasladação do corpo para Luanda.
Após as questões familiares terem sido dirimidas pela justiça espanhola, o corpo chegou a Luanda no sábado, num voo a partir de Barcelona da companhia aérea angolana TAAG.
José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 a 2017, morreu vítima de doença prolongada, a 8 de julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, cidade onde residiu nos últimos cinco anos. Internado durante duas semanas nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona, o antigo governante tinha problemas de saúde há vários anos e foi acompanhado na cidade catalã desde 2006.
As cerimónias fúnebres deverão decorrer a 28 de agosto, em Luanda, segundo o porta-voz do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), Rui Falcão, coincidindo com a data em que José Eduardo dos Santos completaria 80 anos.
À chegada do caixão a Luanda, o ministro da Administração do Território de Angola, Marcy Lopes, afirmou que os restos mortais do ex-presidente ficarão na residência oficial da família até ao dia das exéquias fúnebres, onde decorre desde domingo o velório aberto à população, numa altura em que o país se encontra em vésperas de eleições. Na verdade, a data do funeral deverá coincidir com o anúncio dos primeiros resultados das eleições gerais, que se realizam no próximo dia 24, o que já levou o principal partido de oposição em Angola, a UNITA, a acusar o Governo de João Lourenço de politizar a morte de José Eduardo dos Santos.
“Penso que o que se pretende com a politização da vinda do corpo é um aproveitamento político que não se vai consumar. Pelo contrário. O Governo está exposto na medida em que tratou mal o ex-chefe de Estado que, com todos os erros que cometeu, merecia mais dignidade”, criticou Nelito Ekukui, secretário do partido na província de Luanda.
O dirigente da UNITA considerou ainda incorreta a forma como o corpo de José Eduardo dos Santos foi levado para o país africano, “sem honras militares”. Por essa razão, o partido prepara-se para faltar ao funeral do ex-chefe de Estado angolano “se for um funeral político”.
“Enquanto continuar a ser uma agenda política e não uma agenda humanitária, uma agenda familiar, a UNITA continuará a não estar presente garantidamente. Se for um funeral político, não, de certeza. Se for um funeral realizado pela família com a participação do Estado, nós estaremos lá”, adiantou Nelito Ekukui, argumentando que “a tentativa de politizar o óbito do ex-Presidente numa coincidência de datas num clima de eleições é alguma coisa que não está bem aqui explicada”.
O atual presidente, João Lourenço, que se recandidata para um segundo mandato encerrou a campanha no sábado, dia em que o corpo de José Eduardo dos Santos chegou a Angola, mas no discurso diante dos milhares de eleitores, não se pronunciou sobre o assunto.
Depois de um primeiro mandato em que prometeu o combate à corrupção e o desenvolvimento do país, João Lourenço pede a continuidade e faz discursos contínuos de apelo à “paz”. A campanha eleitoral terminou esta segunda-feira com um comício da oposição na capital com Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA a pedir “mudança”, uma palavra que se tornou quase símbolo para os eleitores do partido. Os dois partidos que combateram na guerra civil que marcou mais de metade da história da Angola independente permanecem como as duas maiores forças da cena política.