Querida avó,
Começa esta semana a 92ª Feira do Livro de Lisboa. A F.L.L. terá este ano um novo conceito, com expositores renovados e com a Ucrânia como país convidado, numa edição que promete ser mais sustentável e pensada para novos leitores.
Estive, recentemente, na apresentação da F.L.L. e posso garantir-te que o entusiasmo é grande.
Uma vez mais a F.L.L. acontece em Setembro. Esta será a primeira edição pós-pandemia. Sem número restrito de pessoas e outras regras que existiram nos dois anos anteriores. Claro que quem quiser usar máscara, apesar do calor que deve estar, pode fazê-lo. O importante é a pessoas irem ao Parque Eduardo VII, a este que é o maior encontro de leitores e escritores realizado em Portugal.
Julgo que o entusiasmo da tua parte em voltares à Feira do Livro também é mais do que muito. Com mais do que 40 anos de obra literária, e cerca de 90 livros publicados, deves ter imensas histórias da F.L.L. para contar.
A Feira do livro começou em 1930. Tem atravessado várias fases da nossa história, mas julgo que nunca teve nenhum ano de interregno. Recentemente estive a pesquisar arquivos de Lisboa e descobri foto das primeiras F.L.L.. Chamou-se “Semana do Livro”, realizou-se no Rossio, junto ao TNDM e contou com a presença de aproximadamente 20 pavilhões, imagina.
Será que o Ruy de Carvalho, com 95 anos e meio, terá memórias do início da Feira do Livro de Lisboa? Já te disse que a Exposição sobre o Ruy de Carvalho vai estar na F.L.L.? Será uma belíssima homenagem ao ator português mais velho no ativo.
Nós lá estaremos no primeiro fim de semana a autografar o nosso “Diário da avó e do neto”. No domingo, dia 26, às 18h, vamos ter o Afonso Reis Cabral a apresentar o nosso livro. Que maravilha.
Privilégio o meu de te ter a ti e ao Ruy (os avós que a vida me deu) na F.L.L. “Tenho dois amores que em nada são iguais”. Não podia estar mais feliz. Sei que também estás.
Bjs
Querido neto,
Não gosto da Feira do Livro nesta data. Eu sou uma criatura de hábitos. Para mim a Feira do Livro de Lisboa acaba a 13 de Junho. Fechavam-se as portas, arrumava-se a tralha, e íamos direitinhos para as festas do Santo António. Espero que para o ano já voltem à data habitual.
Histórias da Feira tenho uma data delas. Uma vez um polícia foi comprar um livro meu. E as empregadas da editora disseram-lhe que eu estava lá e que ele podia pedir-me um autógrafo. E ele lá foi.
Estendeu-me o livro, disse o nome do filho e, enquanto eu escrevia a dedicatória, ia falando: «Que eu nem sei se este livro é bom ou mau… Foi a professora dele que mandou comprar… E as professoras agora mandam comprar toda a m—-a que aparece…».
A outra história foi quando um dia eu ia a subir o Parque Eduardo VII para chegar ao pavilhão da minha editora. Uma mulher com um cesto de amêndoas, amendoins, tremoços e essas coisas parou ao pé de mim e perguntou: «Desculpe, a senhora trabalha aqui?».
E como eu lhe disse que sim, passou-me o cesto para as mãos e disse-me: «Então desculpe lá, pode ficar com meu cesto que eu estou muito aflita para ir à casa de banho? Fica aqui este papel com o preço das coisas».
Tu nem queiras saber o negócio que eu fiz! Porque os meus amigos passavam, riam-se, perguntavam “então mudaste de profissão?”, e todos ele compravam qualquer coisa, “é para não fazeres má figura”, diziam!
Quando a mulher chegou da casa de banho nem queria acreditar no dinheiro que eu lhe estava a entregar. A medo ainda tentou: «Vai cá estar amanhã? Não me quer ajudar a vender isto?». Sorri, agradeci mas disse que não podia, porque os meus patrões estavam à minha espera…
Nas outras feiras seguintes os meus amigos só me perguntavam “e os tremoços? Isso é que a gente queria”. Pode ser que este ano ela apareça… Vamo-nos divertir muito nas sessões de autógrafos, vais ver!
Bjs