Como a opinião é minha e por ela me responsabilizo, assinando-a por baixo, diria que a jornada do campeonato que hoje põe de novo em liça dois dos principais candidatos ao título, o Benfica (que recebe, na Luz, o Vizela pelas 19h00) e o Sporting (que vai à Amoreira, visitar o Estoril pelas 21h15), obriga a que os grandes disfarcem o melhor que puderem todas as fraquezas que exibiram nos seus últimos jogos.
Digo e repito as vezes que forem necessárias que a visão televisiva de um jogo de futebol nos retira a verdade total dos acontecimentos e nos coloca pormenores em lente de aumento, sobretudo em zonas por onde rola a bola, que têm menos importância do que parecem na análise final e fria que deve ser feita por quem escreve em jornais.
Coisas de velho, talvez, ou mais coisas de uma escola jornalística que frequentei e para cujos mestres escrever crónicas através de transmissões em directo não era sequer concebível. Por isso, também quando entro na análise deste conjunto de acontecimentos sobre os quais falo, tenho as reticências devidas, mas pareceu-me mais ou menos ecuménica a ideia de que tanto Benfica como FC Porto e Sporting terão feito as mais pobres exibições desde que o campeonato começou, cabendo apenas aos encarnados salvarem-se da derrota.
Todos os responsáveis pelas três equipas em causa vieram a público levantar a questão do excesso de oportunidades de golo desperdiçadas ou dos pontapés chutados fora do alvo. E, mais uma vez, o Benfica fugiu do resultado negativo porque, apesar da pobreza da exibição, conseguiu marcar três golos que chegaram para amealhar três pontos.
Não retiro razão às opiniões escutadas, era o que faltava, são opiniões e, como dizia com graça Guimarães Rosa, entre pãos e pães é uma questão de opiniães. Mas não deixo também de estranhar que os “três da vida airada” – infalíveis candidatos, per omnia saecula saeculorum – se tenham dado ao luxo de, no total, sofrerem sete golos, alguns deles bastante ridículos por sinal, só para não os apelidar de grotescos.
Piores! Se isso era uma pecha do Benfica da última época, também já aqui tinha deixado escrito que o novo conjunto de Schmidt (melhoria inequívoca na forma de defender nas bolas paradas) deixa excessos de liberdades incompreensíveis aos adversários nos momentos em que perde a bola no meio-campo contrário, algo que tem muito que ver com a pouca velocidade dos quatro elementos mais recuados.
O Sporting, por seu lado, está agora a sentir a profunda diferença entre o que é ter um número 6 com a dimensão e largura (a todo o campo) de Palhinha em relação ao futebol muito mais curto de Ugarte – bater na tecla da saída de Matheus Nunes já cheira mal, mas se falamos na falta de velocidade dos defesas do Benfica também não fica mal observar o que se passa na retaguarda dos leões.
O FC Porto que se viu atropelado durante 45 minutos em Vila do Conde vai amanhã (20h30) a Barcelos. Mexidas a mais em toda a estrutura da equipa, sobretudo no meio-campo, parecem ter sido complicadas de digerir por Sérgio Conceição e o conjunto não tem o ritmo oleado (nem podia ter) com que acabou a última época. A questão é – ponhamos o dedo na ferida – de menor qualidade. E o que toca a um toca a todos.
As saídas da Luz, Alvalade e Antas foram bem remuneradas mas levaram vários dos jogadores mais fundamentais (para cada uma das equipas segundo cada um dos objectivos) da época passada. O trabalho dos treinadores tornou-se mais complicado.
Talvez não apenas o de Roger Schmidt que veio de fresco e já sem Darwin, sendo que muito do descalabro das últimas três épocas do Benfica se deveu, quanto a mim, a falta de atitude e de ideias e a um incompreensível desleixo por parte de jogadores e técnicos. Por isso talvez sejam a únicas coisas que diferenciam verdadeiramente as feras feridas (mais umas do que outras) – conduta e organização. Vamos lá tirar dúvidas.