Com a chegada de cerca de 50 mil novos estudantes ao ensino superior, a procura por alojamento é uma das grandes preocupações dos alunos deslocados. Mas a oferta de quartos no mercado privado é cada vez mais reduzida e a preços mais elevados face ao ano passado. Já nas residências universitárias, os investimentos para mais camas estão parados à espera dos acordos no âmbito do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), financiado pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), cuja concretização se arrasta desde 2018.
Neste arranque do primeiro semestre em que muitos conhecem as faculdades que os vão acolher nos próximos anos, as federações académicas do Porto e de Lisboa alertam para as dificuldades em encontrar alojamento.
“Os pedidos de ajuda com o alojamento multiplicam-se numa caixa de entrada que não consegue acudir todos os estudantes. Os preços elevados mantêm-se, o número de quartos disponíveis está a diminuir e com a retoma do turismo e o impacto da presente inflação não é previsível uma melhoria”, descreve a presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Ana Gabriela Cabilhas, em comunicado enviado às redações.
De acordo com o presidente da Federação Académica de Lisboa, João Machado, a falta de quartos para estudantes em Lisboa também é “alarmante”. “Já havia uma inexistência muito grande de quartos e de preços muito inflacionados no mercado, especialmente quando estamos a falar de Lisboa. Acho que este ano tanto uma [coisa] como outra se acentuaram”, sublinhou em declarações à TSF.
Segundo o último relatório do Observatório do Alojamento Estudantil, publicado pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), no início de setembro, no mercado privado havia 1973 anúncios de quartos disponíveis para estudantes em todo o país. Face a setembro do ano passado assiste-se a uma diminuição significativa do número de quartos, quando existia um total de 9884 anúncios de quartos disponíveis.
Esta quebra é transversal a quase todo o país, mas em algumas cidades universitárias praticamente não há oferta neste arranque do ano letivo: Aveiro conta 32 quartos, Setúbal 38, já em Braga, onde se encontra o polo principal da Universidade do Minho, há apenas 64 quartos. No ano passado, estas três cidades disponibilizavam entre 100 a 200 quartos.
Contudo, a quebra mais acentuada verifica-se na cidade de Lisboa onde, no início de setembro do ano passado, havia 3706 anúncios de alojamento para alunos do ensino superior e, neste momento, são apenas 764. No Porto a tendência repete-se, tendo a oferta diminuído de 823 quartos para 337, no mesmo período.
Mas não só há menos quartos para arrendar, como os preços a que estes estão no mercado são mais elevados do que no ano passado. Os dados do Observatório do Alojamento Estudantil mostram que o preço médio de um quarto passou de 268 euros mensais para 294 euros, o que representa uma subida de quase 10%.
Os preços subiram de forma mais expressiva nas cidades do Porto, onde o custo médio de um quarto aumentou de 250 para 324 euros mensais no espaço de um ano, Lisboa (mais 55 euros por mês, fixando-se agora em 381 euros) e Braga (subida de 50 euros, para 250 euros em média).
É também no Porto onde os valores por quarto verificam uma maior variação, com os preços a começarem nos 195 euros (mínimo) e a poderem atingir os 609 euros (máximo). Em Lisboa, os preços variam entre os 246 euros e os 595 euros.
Segundo um estudo publicado pela plataforma Idealista, a oferta de quartos para arrendar em casa partilhada em Portugal desceu 44% nos últimos doze meses. Essa descida traduziu-se num aumento nos preços em quase todas das cidades analisadas e foi no Porto onde os preços mais subiram, sendo 20% mais caros do que há um ano. Segue-se Aveiro (19,8%), Lisboa (18,1%), Leiria (12,2%), Coimbra (8,2%) e Setúbal (4,7%).
Às dificuldades crescentes para encontrar um quarto no mercado privado, acresce a falta de camas nas residências estudantis. A oferta pública de quartos para estudantes universitários, que contabiliza cerca de 15 mil camas, continua a cobrir menos de 15% do número de estudantes deslocados.
A prometida construção de novas residências universitárias esteve parada è espera da assinatura dos contratos de financiamento com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), no valor total de 375 milhões de euros. Mas o problema de habitação para os estudantes parece não ter fim à vista, já que este valor ainda assim é insuficiente para a construção das 12 mil novas camas anunciadas pelo Governo. No início de agosto, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) disse estar a trabalhar num reforço do financiamento para dar resposta a todos os projetos aprovados. Esta semana serão assinados os primeiros contratos de financiamento contemplado pelo PNAES.