A névoa…

Temos de dizer claramente: para além do Partido Comunista (não só o português, mas de todo o mundo), não consigo compreender como pode haver países como a China ou Índia que permaneçam silenciosos diante de tão grandes atrocidades a que estamos a assistir. 

Não me canso de referir um dos grandes princípios do jornalismo: Más notícias, são boas notícias e boas notícias não são notícias… Por isso, somos tomados de uma certa angústia, ao abrirmos os jornais ou as televisões. Alguém que não saia de casa e passe a vida a ver televisão, mais terá a impressão de que estamos próximos do apocalipse final do que de um mundo que gira lentamente, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, trezentos e sessenta e cinco dias por ano à volta do sol.

Na realidade, cada telejornal é, eu diria, uma compilação de acontecimentos maus do mundo ou apenas o ângulo da realidade nefasta deste século. A verdade é que parece que se abate sobre nós uma espécie de nevoeiro que não nos deixa ver nada mais além daquela branca névoa acinzentada. A verdade é que ao subirmos ao cimo do monte, por muito que abramos os olhos, nada vemos senão névoa. Porém, a nossa razão diz-nos que, além da névoa, existem árvores e mares, montes e vales, pássaros e homens… o nevoeiro esconde, então, uma outra realidade que nos está escondida temporariamente.

É por isso necessário que possamos perceber claramente que não há apenas a guerra da Rússia contra a Ucrânia, ou a pedofilia dentro e fora da Igreja, ou a inflação que nos retira o poder de compra. Para além desta névoa existem milhares de acontecimentos belíssimos dentre o fora da Igreja, na sociedade civil e na vida das religiões. 

O Papa Francisco decidiu ir ao Cazaquistão para um encontro entre os membros de várias religiões de todo o mundo. Foi um encontro único… inesperado para muitos, mas, ao mesmo tempo, absolutamente profético… porque é do encontro que nasce a paz… e o nome de Deus é Paz… 

O que é que o Papa disse lá? Ou os representantes muçulmanos ou judaicos? Os hindus? O que disseram? Que mensagem trouxeram? Que experiência deixaram? Sabe-se muito pouco, porque está para além da névoa que paira sobre os telejornais! 

Vou dar uma frase dita por Francisco: «Nunca se justifique a violência. O Sagrado não é o suporte do poder. Deus traz a paz, não a guerra». É curioso que, quem tem boa memória, lembrar-se-á do grande e controverso discurso do Papa Bento XVI na Universidade alemã de Ratisbona. Na altura o Papa usou um argumento lógico: a natureza de Deus é contraria à guerra e, desta forma, estas duas naturezas não se podem misturar, portanto, não pode o nome de Deus ser justificação para violência. É isto mesmo que o Papa Francisco vem relembrar mais de quinze anos depois do discurso de Bento XVI – Deus é amor e paz e não pode justificar qualquer ação violenta.

Francisco esperou, contra toda a esperança, que o Patriarca de Moscovo – Kiril – viesse a este mesmo encontro, mas não veio. O silêncio deste Patriarca de Moscovo diante da invasão da Ucrânia levada a cabo pela Rússia é incompreensível… E não é só o seu silêncio, mas a justificação que ele faz da guerra… Pensemos, por exemplo, que o Grande Rabino de Moscovo teve de sair da Rússia por se ter insurgido contra a guerra.

Temos de dizer claramente: para além do Partido Comunista (não só o português, mas de todo o mundo), não consigo compreender como pode haver países como a China ou Índia que permaneçam silenciosos diante de tão grandes atrocidades a que estamos a assistir. É uma barbaridade tudo o que se passa naquele país. E, crentes ou não crentes, todos deveriam procurar, à sua maneira, estancar esta violência que tem matado tanta gente…