Chega. André Ventura sai legitimado de uma Batalha sem opositores internos

Depois de vencer a moção com 97% dos votos, o líder do Chega promete ignorar oposição “cobarde” até 2026.

O presidente do Chega viu este domingo a sua liderança relegitimada e reforçada ao vencer uma moção de confiança com 97% dos votos. A moção, cujo debate e votação foram abertos a todos os militantes, foi discutida este fim de semana no XI Conselho Nacional do partido, na Batalha. Num universo de  590 votantes, houve 574 votos a favor, 15 contra e um nulo. 

Ao som de muitos aplausos de uma plateia em pé, André Ventura começou por agradecer uma “tarde histórica” aos conselheiros e militantes que “saíram de casa” para não deixar o partido “na mão de qualquer conspiração” e que deram um sinal de que “têm de deixar trabalhar” a sua liderança. Aos seus opositores internos, que “achavam que bastava entrevistas a jornais e televisões ou publicações em redes sociais para convencer este partido de que era preciso uma mudança”, deixou palavras mais duras: “Acobardaram-se como cobardes que são e não vieram à luta”.

Tal como fez questão de lembrar no seu discurso, todos foram chamados à Batalha e a todos foi permitido que falassem sobre o futuro que querem para o partido. “Podiam ter vindo todos e os nossos adversários dizem que estão alguns suspensos. Estão 15 suspensos, votaram cerca de 600 pessoas”, enumerou Ventura, mostrando-se surpreendido que os seus opositores internos não tenham aparecido “no momento em que a batalha estava pronta, com os cavalos no terreno para os enfrentar”. “Como podem estes um dia querer lutar contra os socialistas?”, provocou.

Garantindo que nunca esteve “agarrado” ao lugar de presidente do partido àqueles que o “acusavam de querer perpetuar no poder”, diz que fez “o que qualquer líder democrático deve fazer: devolver a palavra aos militantes”. Mas daqui em diante, prometeu “ignorar” até às eleições legislativas de 2026 “quaisquer ataques insignificantes” da oposição. E deixou ainda o aviso de que não deixará “de apresentar a porta da rua àqueles que andaram a destruir o partido nos últimos meses e anos. E isso começa amanhã mesmo, quando chegar a Lisboa”.

Depois de no sábado ter prometido, “com sangue e corpo”, que iria “cumprir o destino e levar o Chega ao Governo de Portugal em 2026”, Ventura disse este domingo ter recebido “o mandato mais claro e cristalino de continuar a travar a luta contra o socialismo”, fazendo juras de que não vai “desistir   até ser primeiro-ministro de Portugal”.

Apontando baterias às legislativas, equiparou Portugal a um “comboio que perdeu tudo há 40 anos” e cujo “destino” tem nas suas mãos. Desta vez, “com sangue e suor”, afirmou que o “comboio” que quer liderar “não vai parar até 2026” e vai “direitinho ao Palácio de São Bento”, à “casa de António Costa” para “destituir o primeiro-ministro de Portugal”. “Vamos ser governo de Portugal”, assegurou.

“Cambada de cobardes” Antes de se conhecerem os resultados na tarde de domingo, os ânimos aqueceram, no Centro de Exposições da Batalha, com ataques aos opositores internos à direção de Ventura que não marcaram presença nos dois dias do conselho nacional do partido.

A abrir as hostilidades, o deputado Jorge Galveias partiu ao ataque dos “cobardes”, que se “escondem atrás das redes sociais e de entrevistas e declarações públicas insultuosas”. Para essa “meia dúzia de supostos opositores”, o presidente da mesa do conselho nacional também aponta a porta da rua, tal como já tinha feito o presidente do partido, em declarações ao Nascer do SOL na véspera do encontro partidário. 

Também o deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do Chega Rui Paulo Sousa centrou a sua intervenção nos opositores internos. “Uma cambada de cobardes e ressabiados”, classificou. “Foram para a comunicação social dizer que não tinham voz, que não havia democracia. A democracia está aqui, mas eles não”.

Diogo Pacheco Amorim também registou a ausência, arrancando alguns risos da sala: “Afinal, parece que os castelhanos não vieram, não apareceram, esfumaram-se. Estava aqui D. João I à espera deles… Eu, com 73 anos, em cima do meu cavalo… e nada. Cadê?”, gracejou o dirigente do Chega.

A fechar o ciclo de intervenções, a deputada Rita Matias subiu ao palanque para se desdobrar em elogios ao seu líder. Para a deputada, André Ventura “representa as chagas de Cristo que temos na nossa bandeira” e “está disposto a derramar o seu sangue, suor e lágrimas por este país, por este partido”. E com uma referência às cores da bandeira nacional fez um apelo ao partido: “A desunião que existe não é por causa de André Ventura, é por questões pessoais. Tragam o verde da nossa bandeira também aqui para o nosso partido, tragam a esperança”.