A vida de Simeão da Bulgária dava um filme. Nascido em 1937, tinha dois anos quando a II Guerra Mundial deflagrou e seis quando foi coroado tsar da Bulgária. Em 1946, com o território sob controlo do exército soviético, um referendo ditou que o país se tornasse uma república e a família de Simeão teve de se exilar. Passaram cinco anos no Egipto, mudando-se depois para a Espanha de Franco.
Em 1989, com a queda do comunismo, Simeão começou a avaliar as possibilidades de regressar ao seu país: fê-lo em 1996, acabando por formar um partido que venceria as eleições legislativas. Em 2001, tornou-se um caso único de um antigo monarca que foi eleito primeiro-ministro do seu país. Ao Nascer do SOL, conta o choque que representou a morte do seu pai (o Tsar Boris III, que chegou a conhecer Hitler), a vida em Espanha e o regresso ao seu país, depois de um exílio de 50 anos. Não esquece, ainda, a afeição que sente por Portugal, onde a sua mãe, uma princesa italiana filha do Rei Vítor Emanuel III, residiu até ao fim da vida. A entrevista decorreu por Zoom.
Ainda há bem pouco tempo assistiu ao funeral de Estado da Rainha Isabel II. Como foi estar presente num momento com tanto significado na história da Europa?
Disse bem, tratou-se de um momento histórico, e foi muito, muito emocionante em todos os aspectos. Não apenas, obviamente, pela morte da Rainha em si, que foi um golpe enorme, mas também por toda a organização, tudo aquilo foi um acontecimento único e sinto-me muito grato por ter podido testemunha-lo. Foi organizado na perfeição pelo lorde Chamberlain e pelas autoridades, e, como sabe, foi visto por pessoas em todo o mundo.
Durante a vida de Isabel II estiveram muitas vezes juntos?
Oh, sim, muitas, de 1958 em diante. Encontrávamo-nos com grande frequência. A Rainha era sempre muito amável e afetuosa. Estivemos em várias cerimónias oficiais mas também em reuniões de família, um ano foi em Balmoral, com todos os nossos filhos; em casamentos – o do Rei Carlos, por exemplo, ou o do príncipe William –; os diferentes jubileus; e ainda em ocasiões não oficiais em Londres. Conheci bem Sua Majestade, e devo dizer que, de alguma forma, sempre senti ou pensei que seria eterna. Mas afinal simplesmente aconteceu.
Todos pensávamos, creio eu. Muitas pessoas que a conheceram referem-se ao seu sentido de humor…
É verdade, tinha um sentido de humor maravilhoso. Eu diria um humor fino, subtil. As pessoas achavam-na tão régia e majestática que era algo de que não estavam à espera. Mas sim, tinha um sentido de humor muito apurado e isso era algo que valorizava.
Acha que, com o desaparecimento da Rainha, se aproximam dias difíceis para a monarquia tanto no Reino Unido como na Europa?
Não sei se sou a pessoa certa para me pronunciar sobre isso. Mas tenho a sensação de que, por alguma razão que não se consegue explicar, o Rei Carlos III, enquanto Príncipe de Gales, não foi apresentado de forma justa ou correta às pessoas. Penso, por isso, que todos vão ficar positivamente surpreendidos muito em breve, porque ele também é uma pessoa excecional, e Deus sabe que teve anos e anos de treino e preparação para esta tarefa. Por isso não me revejo nestas previsões sombrias sobre a monarquia no Reino Unido que tenho ouvido, sobre a quantidade de anti-monárquicos e por aí fora. Em todo o lado há pessoas com diferentes opiniões, claro. Mas temos de pensar que Inglaterra é uma monarquia há mais de mil anos, o que, julgo eu, é uma prova bastante boa de que o sistema é aceite pelo povo. Quanto às restantes monarquias, cada país tem o seu modelo. Claro que a Rainha de Inglaterra simbolizava a própria monarquia, mas não penso que isso tenha outras repercussões. Mas sabe, acho que às vezes os meios de comunicação – desculpe dizer – gostam de exagerar os factos ou de os tornar mais interessantes do que realmente são.
É que toda a gente via a Rainha como uma personalidade muito forte, muito respeitada, e o Rei Carlos é para muitos ainda um desconhecido, uma incógnita.
Dizem que não se deve, mas mesmo assim não resisto a fazer uma comparação. Lembro-me de como as pessoas subestimaram o Rei Juan Carlos quando subiu ao trono. E todos vimos o que aconteceu nesses 40 anos. Acho que existe agora algum síndrome do mesmo tipo. Mas também deve ser muito difícil – se posso dizê-lo assim coloquialmente – ‘calçar os sapatos’ [assumir as funções e corresponder às expectativas] de outra pessoa, neste caso da Rainha. Vai levar tempo até às pessoas se adaptarem e verem o Rei Carlos na sua própria dimensão, e provavelmente também a não compararem com o antigamente, mas simplesmente aceitar a pessoa como é. Há dias, em Londres, alguém referiu uma coisa engraçada, e bastante verdadeira: na Grã-Bretanha as rainhas têm sido especialmente importantes e lembradas. Antes da Rainha Isabel II, a Rainha Isabel I, a Rainha Maria [Queen Mary], a Rainha Victória. Talvez haja alguma preferência [risos], mas veremos.
Apenas uma semana antes da Rainha, tinha morrido outra personalidade muito importante do século XX, Mikhail Gorbachov. Muitas pessoas acham que há cada vez menos grandes figuras na política. Concorda?
Claro que quando estas personalidades desaparecem sentimos a falta delas, mas julgo que há um certo processo de substituição, com o tempo começam a surgir outras pessoas a par das que já são conhecidas. O Presidente Gorbachov era muito popular no Ocidente, mas certamente não era nada popular entre os russos. É fascinante como se podem dar estes fenómenos. Pessoalmente, conheci-o porque ele veio à Bulgária e ofereci um jantar em sua honra aqui em Vrana [palácio nos arredores de Sofia, antiga residência real] e foi muito interessante ouvir a sua explicação bastante desenvolvida de como funcionava a Perestroika.
E essa foi uma das razões por que era tão admirado no Ocidente como detestado no seu país.
Como se costuma dizer, ninguém é profeta na sua terra!
Exato. Falámos da Rainha Isabel II, mas a sua vida também tem sido extraordinária. Tinha nove anos quando a sua família foi obrigada a deixar a Bulgária. Ainda se lembra desses dias?
Sim, afinal de contas para uma criança nove anos já é uma certa idade. Mas para mim a grande mudança foi quando o meu pai faleceu, quando tinha seis anos. Foi um choque tão grande que, tantos anos depois, oitenta anos depois, ainda me lembro nitidamente desses instantes. É algo que não pode ser apagado.
E o senhor sucedeu-lhe no trono. Na altura tinha alguma noção do que se estava a passar?
É preciso perceber como as coisas são vistas pelos olhos de uma criança. O que mais me chocou, ou perturbou, foi as pessoas começarem a dirigir-se a mim como antes se dirigiam ao meu pai. E, obviamente, não tinha a cobertura ou proteção do meu pai, ele não estava lá para me segurar a mão. De repente eu tinha de lidar com alguns – claro que não muitos, mas os suficientes – assuntos oficiais por mim.
Três anos depois a monarquia foi abolida e a família teve de deixar o país.
Passámos os cinco primeiros anos do exílio no Egipto, que era onde estavam os pais da minha mãe. Mas a minha mãe fazia muita questão de que eu e a minha irmã tivéssemos uma educação europeia, digamos assim, Por isso começou a procurar outro sítio para onde irmos. Itália, por exemplo.
Mas disseram-lhe: ‘Com certeza, minha senhora, é muito bem-vinda. Mas o seu filho não’, pois receavam que isso pudesse incomodar a República Popular da Bulgária. Havia outros países que nos recebiam mas a minha mão não estava muito interessada e finalmente, por puro acaso, um verão o embaixador de Espanha no Cairo veio a nossa casa e disse à minha mãe: ‘Majestade, ouvi dizer que querem ir para a Europa. Já puseram a hipótese de Espanha?’. Foi assim que tudo começou e acabei por passar 50 anos em Espanha.
Foram para Madrid?
Sim, para Madrid. Fui estudar para o Liceu Francês. Existem algumas lendas, ou mitologias, de que fomos convidados pelo Generalíssimo [Franco], o que não é verdade. Recebemos o estatuto de refugiados políticos. E claro que depois conheci o chefe de Estado. Mas não éramos seus convidados nem nada que se pareça.
O regime de Franco ainda hoje é controverso, por causa da repressão, dos presos políticos. Isso era algo de que se ouvia falar?
Bastante. Mas vou simplificar as coisas, o que talvez seja um ponto de vista da Europa do Leste. Se ele não estivesse lá, talvez até Portugal se tivesse tornado um satélite comunista. Precisamos de ter noção de que o papel que ele desempenhou politicamente pode compensar certas deficiências da democracia.
De qualquer modo, nos últimos vinte anos – e eu sou uma testemunha, porque conheci sistemas totalitários e sistemas autoritários –, era uma ‘dictablanda’, como se dizia na brincadeira em Espanha, e não uma dictadura. Qualquer um é livre de interpretar as coisas à sua maneira. Penso que a história importa mais do que as opiniões das pessoas.
Disse-me que estudou no Liceu Francês em Madrid. Recebeu uma educação especial para o preparar para as suas responsabilidades?
A minha mãe – Deus a abençoe – fazia muita questão de que eu tivesse uma educação conveniente. Havia pessoas à nossa volta, búlgaros, claro. E estudei coisas diferentes para a minha própria instrução, Direito e Ciência Política, só como forma de exercício mental. E naturalmente História da Bulgária. E depois, pouco a pouco, através de contactos com outros membros da realeza, viagens, visitas a diferentes governos e coisas desse tipo, a minha formação foi-se fazendo gradualmente. Diria quase por acidente. Não foi nada que eu tivesse matraquear para meter na cabeça.
Ou seja, foi acompanhando também o desenrolar dos acontecimentos.
A vida de uma pessoa é determinada por tantos factos e fatores exteriores que quando uma pessoa carrega um nome como o meu é muito difícil fazer o que quer. Tem como que seguir com esse fardo.
Isso é precisamente uma das coisas que eu queria perguntar. Muitas pessoas pensam que a realeza tem uma vida fácil, cheia de privilégios, vivendo em palácios, viajando, participando em banquetes. Até que ponto esta ideia corresponde ou não à realidade?
É fundamental olhar para as coisas objetivamente. A imaginação é uma coisa, a realidade é outra. No exílio, não existem palácios nem nada desse tipo. E nas monarquias reinantes, é uma tarefa muito, muito exigente e um trabalho até ao fim da vida. Não se recebe uma pensão de reforma, nem sequer se tem um horário de trabalho. É um trabalho permanente.
Por aí se percebe que não é só festas e diversão. A nível pessoal, fui sempre muito cuidadoso, precisamente para não dar essa imagem, estava muito consciente da situação quase penosa de um Rei no exílio.
Um dos factores determinantes no meu comportamento – pode achar isto engraçado, mas é absolutamente verdade – foi ter visto um filme de Charlie Chaplin que se chamava Um Rei em Nova Iorque [longa-metragem de 1957, que conta a história ficcional do Rei da Estrónia, Igor Shahdov, que é deposto por uma revolução, e se exila quase falido em Nova Iorque]. Isso levou-me a passar o resto da vida a fazer o contrário do que fazia o rei em Nova Iorque. É um filme cómico, mas teve um efeito muito duradouro no meu comportamento.
Usar uma coroa é por vezes um fardo?
Julgo que sim, que é um fardo para qualquer monarca, porque se trata de uma responsabilidade tremenda ligada à história, à religião, a muitos outros fatores. Não é apenas um cargo que se desempenha, e especialmente no exílio. Mais uma vez, uma pessoa pode parecer ridícula se exagerar na forma como assume esse papel, mas ao mesmo tempo não lhe pode escapar, porque é o destino. Tem sido, diria, uma trajetória longa e difícil a tentar equilibrar as coisas. Sou um pragmático e um realista, não me deixo levar muito pelos sentimentos.
Passou muito tempo sem regressar ao seu país. Como era, estava sempre à espera de uma oportunidade para lá voltar?
Para ser sincero, não, porque sentia que o sistema soviético era tão sólido que aguentaria por muito tempo. Na verdade, não acreditava sequer que os meus filhos iriam poder ver uma Bulgária livre. Isto para lhe dizer até que ponto estava enganado. E penso que muitos kremlinologistas também estavam, porque não esperavam a implosão de 1989. Mas não, pessoalmente nunca pensei que voltasse a ver o meu país. Por isso foi uma emoção enorme quando os acontecimentos começaram a precipitar-se.
Só voltou à Bulgária, pela primeira vez, em 1996.
Esperei para ter a certeza de que era o momento certo. Sou um pouco lento, gosto de me inteirar de tudo, juntar informação, ouvir várias pessoas. E conversei com uma quantidade enorme de búlgaros nesses anos. A minha irmã foi a primeira a regressar em 1991, depois veio a minha mãe, em 93, por causa do aniversário da morte do meu pai [falecido em 1943]. E, por fim, em 96 achei que tinha chegado o momento certo.
E conseguiu reconhecer o país que tinha deixado em 1946 ou estava tudo muito mudado?
É difícil resumi-lo assim em poucas palavras. Mas Sófia, por exemplo, tinha mudado tão pouco que eu ainda consegui conduzir e orientar-me nas ruas quando cheguei. Enquanto se for a Sófia hoje, quase 30 anos depois, está irreconhecível. Isso mostra até que ponto algumas coisas estavam quase congeladas.
Então mudou mais neste período do que durante o comunismo?
No conjunto, na intensidade da vida, sim. Por exemplo, em 1996, nos rés-do-chão não havia lojas, restaurantes, cafés ou outros negócios. Hoje é como qualquer outra cidade ocidental. Estas coisas saltavam à vista quando regressei.
E quais foram as principais consequências dessas décadas de comunismo?
Seria preciso um livro inteiro para responder a essa pergunta. Mesmo hoje, uma geração depois, ainda há uma certa síndrome que se reconhece em qualquer dos países do antigo Bloco de Leste. Trata-se de algo que afetou verdadeiramente as pessoas. Também isso acabará por mudar. Mas gosto de ser objetivo nas minhas análises…
Também houve coisas boas?
Há sempre prós e contras. Um sistema totalitário é algo absolutamente inaceitável nos nossos dias. E eu sou o primeiro a ter sofrido com isso, porque muitas das pessoas que viviam à nossa volta foram presas ou executadas. Mas também não gosto de negar tudo ou de dizer que estava tudo errado. Vou dar um exemplo: a educação nos tempos comunistas, infelizmente, estava num patamar muito mais elevado do que está hoje e era mais valorizada. Este é apenas um pequeno exemplo, mas que me parece ilustrativo.
O seu é um caso único de um monarca que concorreu a eleições, ganhou e foi primeiro-ministro do seu país no início deste século. Gostou de estar na política?
Não posso dizer que tenha gostado, porque foi uma responsabilidade muito pesada. A minha mãe e os meus tutores ensinaram-me sempre que o rei deste estar supra partes [num plano superior às diferentes fações], e tive de ir contra este legado porque causa do meu lado pragmático. Vi o momento a aproximar-se e achei que podia dar um bom contributo à vida política do meu país. Por isso aceitei esse papel, o que foi muito difícil, porque vinha do setor privado, nunca tinha desempenhado qualquer lugar na administração pública.
Por isso, além das funções inerentes ao meu cargo, tive de aprender em simultâneo toda uma quantidade de coisas novas. Foi um esforço tremendo. E ao mesmo tempo houve outra coisa difícil, o fogo cruzado. No Parlamento, havia pessoas que não gostavam de mim por motivos ideológicos, como é natural, mas algumas pessoas da direita também não gostavam, porque achavam que o meu lugar não era ali, que não me devia associar aos liberais e por aí adiante.
Foi muito, muto difícil. Mas conseguimos aguentar esses quatro anos, penso que com sucesso, tanto assim que participámos numa coligação com outros partidos nos quatro anos seguintes. E foram estes oito anos que puseram a Bulgária no caminho da União Europeia, que era a nossa grande prioridade, e também da NATO, que era também um enquadramento lógico para nós.
Muitas pessoas, depois de saírem, sentem-se desencantadas com a política. Foi o seu caso?
Assumi essa tarefa como um dever, claro que podíamos ter feito mais ou melhor, mas não diria que há qualquer tipo de ressentimento ou que depois de deixar a política me sentisse triste ou assim. Para algumas pessoas, chegar a primeiro-ministro seria a ambição da sua vida. Para mim não, venho de outro meio. Com todo o respeito, desci um degrau para servir o meu país. Não, não há qualquer ressentimento.
Durante a sua vida passou por acontecimentos dramáticos. Atualmente temos uma guerra na Europa que parecia inimaginável. Acha que vivemos tempos perigosos?
Sim, tanto no Ocidente como no Leste. Estou muito preocupado com a situação atual. Como sabe, a Bulgária está perto do epicentro deste drama. E é inacreditável – pelo menos para mim – que cheguemos a este ponto na Europa do século XXI. Mas tenho esperança de que haja alguma possibilidade de mediação, estou a pensar na Turquia, mas pode ser outro país a neutralizar esta situação, que não pode levar a nada de bom. E, como já estamos a ver, estas sanções atingem a Rússia, mas também atingem o Ocidente. Portanto a situação não me parece muito promissora.
Acha que a culpa é inteiramente de Putin ou que a Europa também tem a sua dose de responsabilidade?
É muito difícil fazer avaliações dessas a posteriori. Foram certamente cometidos alguns erros. Mas porquê? Ninguém comete um erro de forma intencional. Acontece. Por isso não vale a pena acusar um dos lados de ter mantido uma política errada em relação à Rússia. Se olharmos para a economia mundial, percebemos que os laços entre o Ocidente e a Rússia foram vantajosos.
E, pessoalmente, tenho pena que de alguma forma não tenha havido maior vontade de aproximar a Rússia da Europa, porque juntas formariam um bloco económico e financeiro formidável, em vez de a antagonizar e a empurrar em direção à China. E depois temos esta demonização de tudo o que é russo, que vemos nas notícias. Sempre fui um grande leitor, e ao longo dos meus oitenta e poucos anos li muita história. Uma coisa é um governo ou uma pessoa, o Presidente Putin, neste caso.
Outra coisa é uma nação, um povo, uma cultura. Outro dia ouvi uma frase aqui na Bulgária, uma ideia muito simples, mas que achei excelente: ‘Não se pode confundir Putin com Pushkin’. É uma pena que as pessoas agora demonizem tudo o que é russo. Mas é isso que agora é politicamente correto, e talvez eu esteja a ser incorreto…
Como avalia a reação da Europa?
Sou um grande crente, um verdadeiro fã da União Europeia, não vejo uma solução melhor para a Europa, porque cada um dos nossos países, sozinho, seria insignificante. Por isso temos de fazer todos os esforços para manter a Europa unida e para a melhorar. Porque não há alternativa.
A Bulgária, como referiu, encontra-se relativamente próxima da região onde decorre a guerra. Acha que o conflito pode transbordar para fora da Ucrânia?
Deus queira que não, porque aí teríamos uma situação fora de controlo. Mas ninguém sabe o que acontecer. Ainda assim, acho que se houver vontade, podemos chegar a conversações de paz. Essa seria a única solução, porque a Europa já passou por tantos horrores – a I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial –, por que haveríamos de nos envolver noutro conflito de grande escala?
É verdade, mas as pessoas já diziam isso em 1939. A Alemanha também era um dos países mais desenvolvidos do mundo. E, no entanto, foi a barbárie que se viu.
Tem muita razão. Estas coisas às vezes escapam ao nosso controlo e depois não há maneira de as travar. Mas tenho a impressão de que há um dado novo: os smartphones foram muito prejudiciais à ação das forças armadas russas. Tudo o que fazem fica registado. Isso é algo que não existia antes. Hoje qualquer pessoa é um reporter. Talvez isto ajude a baixar a intensidade, a conter a escalada.
Então não é daqueles que desconfiam da tecnologia.
Acho que a tecnologia tem uma importância enorme na vida das pessoas. Neste caso, não se recebe com uma semana de atraso a notícia de que houve uma batalha ou um bombardeamento em tal sítio. É imediato. Acho que isso tem um impacto enorme e pode ser um fator a ter em conta à mesa das negociações.