Ensosso e Estéril

por Pedro Ramos Nova Iorque, setembro 2022   As civilizações nascem com religião e estoicas e morrem com o ceticismo, falta de crença e a procura desordenada dos prazeres individuais Will Durant,  História da Civilização   O mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português Fernando Pessoa, Padrão   Queridas…

por Pedro Ramos

Nova Iorque, setembro 2022

 

As civilizações nascem com religião e estoicas e morrem com o ceticismo, falta de crença e a procura desordenada dos prazeres individuais
Will Durant,  História da Civilização

 

O mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português
Fernando Pessoa, Padrão

 

Queridas Filhas,

Em Nova Iorque decorre o encontro de líderes mundiais na ONU. Dada a guerra, e o escalamento da Rússia com a mobilização parcial, prestei mais atenção a este evento que o normal. A ONU é a maior esperança da humanidade de resolver as nossas diferenças e problemas com diálogo e debate. E todos os países têm voz com discursos de 15 a 20 minutos. Ouvi os discursos dos maiores países e também de Portugal. As grandes diferenças no tom, paixão e ambição em discursos tão breves foi uma surpresa para um novato como eu. Assim proponho um jogo: em baixo estão os pontos resumidos de 4 discursos de chefes de estado na ONU esta semana. Vejam se conseguem adivinhar o país de cada (soluções no final).

 

País A

Promover a Paz; proteger a soberania, integralidade territorial, liberdade individual, autodeterminação e igualdade perante a lei; promover a liberdade e democracia para todos; libertar o empreendedorismo, novas ideais e oportunidades; promover economias mais pujantes e defesa mais forte que autocracias; criar mais e melhor pagos postos de trabalho; financiar melhores serviços públicos, maior resiliência energética; investir em alianças internacionais de defesa e comércio; melhorar a resiliência económica do mundo democrático: “um por todos e todos por um”; apoiar os países em desenvolvimento sem o peso de dívidas que não podem ser pagas; gastar 3% em defesa, aumentar o apoio a Ucrânia e não parar até a Ucrânia prevalecer.

País B

Promover a Paz e a UN baseada em igualdade de países, escolha entre princípio de força e de princípio de paz; apoiar a Ucrânia; julgar os crimes de guerra; repudiar neutralidade em face de agressão: é ser cúmplice de imperialismo; querem silêncio internacional se o vosso país for invadido? Autocracias querem dividir o mundo em dois: ocidente e os outros; rejeitar esta visão em dois pontos: 1) os valores humanos e da UN são universais; 2) tentativa de promover tensões entre os USA e China levará a um mundo pior; combater a crise alimentar; promover alimentação de países mais vulneráveis; eliminar o carvão; estimular a biodiversidade; apoiar a saúde publica mundial; estimular a cooperação entre o norte e sul e o oeste e este; O ocidente foi quem apoiou com vacinas e investigação os países em desenvolvimento durante a pandemia e não aqueles que querem uma nova ordem mundial fragmentada; unir os povos do mundo; parar a proliferação de armas de destruição maciça.

País C

Promover a Paz, apoiar Ucrânia, superar crise alimentar, reformar conselho de segurança (votem em nós), contribuir para forças da UN, combater alterações climáticas, reduzir emissões de CO2, aumentar investimento em energias renováveis, proteger espécies marinhas, promover direitos humanos, igualdade de género, orientação sexual e migração / refugiados, apoiar os jovens.

País D

Somos democracia forte, próspera e inovadora em medicina, defesa, tecnologia aquática, cyber-segurança, com vários prémios nobel em várias áreas; decidimos não ser vítimas do passado; focar na esperança do futuro; trabalhar com vizinhos para a paz; mostrar que ataques terroristas não levam a divisões; visitem-nos e ficarão apaixonadas pelo nosso país; temos governo multicultural; combater ameaças de armas nucleares e de fake news; propaganda falsa alimentada por regimes que fomentam o ódio e mis-informação de sociedades livres; Tenho filha com necessidade especiais e que não pode falar. Somos acordados a meio da noite com alarmes de ataques. Como explicar isso a uma pessoa que não entende? Somos um povo que acredita na paz e fundados num livro.

Com tristeza constatei a falta de identidade, sentido de história, patriotismo, esperança e inspiração de Portugal. O nosso discurso poderia ter sido dado por qualquer muitos outros países. Depois de nos envergonharmos da nossa religião crista, estamos agora envergonhados da família nuclear. Por isso a prioridade pelo aborto, eutanásia e desvalorização da paternidade. Pretendemos por uma cara bonita com base nos temas sociais da moda e mostrarmo-nos como bons alunos. Para podermos ser eleitos individualmente para cargos de organizações internacionais.

As mulheres portuguesas apercebem-se dessa falta de ideias. Veem o futuro com preocupação e não querem ter filhos (Fig. 1). Sem querer ser um velho rabugento eu revolto-me. Acredito que no mundo atual de divisões, Portugal pode ser um criador de pontes e união entre povos. Temos uma vocação internacional, temos recursos abundantes para ser um ponto de encontro (paz, segurança, mercado comunitário). Mas temos de investir em melhor justiça, menos regulação (ajudar os povos a superar este monstro de Bruxelas), educação em inglês para atrair famílias internacionais e fortes incentivos fiscais. Nunca o mundo precisou mais de países como Portugal (tal como Suíça ou Singapura). Mas não temos estadistas para isso…

Figura 1

Fonte: Banco Mundial

Solução: A = UK; B = França; C = Portugal; D = Israel