Desde o Kremlin, o porta-voz do Governo russo, Dmitry Peskov, afirmou que os territórios ucranianos oficialmente anexados por Moscovo “ficarão com a Rússia para sempre”, e que não existe contradição entre a retirada de tropas russas destas regiões – que comportam cerca de 18% do território ucraniano – e a sua anexação.
Também ontem, Vladimir Putin que falava numa reunião transmitida pela televisão russa, assumiu que “a situação irá estabilizar-se” nos territórios ucranianos anexados pela Rússia e que poderão ser desenvolvidos “pacificamente” de ora em diante. O Presidente russo assegurou que o resultado dos “referendos” de anexação organizados por Moscovo “não provocou apenas satisfação, mas também surpreendeu”, tendo em conta as “condições difíceis” no local.
“O resultado é mais do que convincente, é absolutamente transparente e sem dúvidas”, garantiu o líder do Executivo russo, apesar de as forças ucranianas continuarem a sua contraofensiva, clamando vitória a leste e a sul do país, nas regiões recentemente anexadas por Moscovo. Isto ao mesmo tempo que o líder russo promulgava os tratados de anexação das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk e das regiões de Kherson e Zaporíjia.
Medo nuclear Vladimir Putin assinou, ontem, também, um decreto que ordena o Governo russo a tomar as ‘rédeas’ da planta nuclear de Zaporíjia, transformando-a em “propriedade federal” russa, conforme avançou a Reuters.
O anúncio fez aumentar o receio de uma escalada nuclear do conflito armado na Ucrânia, no mesmo dia em que Mycle Schneider, coordenador do Relatório Anual sobre a Indústria Nuclear Mundial, considerou que o conflito está a criar uma situação de risco nuclear mundial. “O mundo está visivelmente mais próximo de um desastre com uma central nuclear do que em qualquer ponto nas últimas décadas, porque a base das regras de segurança nuclear já não existe na Ucrânia”, contou o especialista à agência Lusa, pedindo especial atenção aos contornos delicados da central de Zaporíjia, cujo diretor-geral foi detido por tropas russas, acabando libertado na passada segunda-feira. “Não é preciso um perito nuclear para perceber que se o principal responsável de uma central nuclear for raptado e o restante pessoal operacional estiver a agir sob ameaça permanente, a probabilidade de falha de qualquer tipo dispara”, explicou o especialista alemão.
Borell alerta Desde Estrasburgo, o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, alertou que “a guerra [na Ucrânia] entrou numa nova fase, uma fase que é sem dúvida perigosa porque estamos perante um cenário assustador, ao qual não devemos fechar os olhos”, apesar de as notícias do campo de batalha serem “boas para a Ucrânia”.
Na sessão plenária do Parlamento Europeu, Josep Borrell falou num “cenário de uma guerra convencional envolvendo uma potência nuclear, uma potência nuclear que está atualmente a recuar no cenário convencional e que ameaça utilizar armas nucleares”, considerando ser “certamente um cenário preocupante, no qual temos de mostrar que o nosso apoio à Ucrânia não está a vacilar”.
Também ontem foi um dia de acordo político sobre mais um pacote de sanções à Rússia. O oitavo desde o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro. Proposto pela Comissão Europeia, este pacote de sanções é uma resposta à “nova escalada” russa, com a realização de “referendos fraudulentos”, a mobilização parcial e a ameaça de recurso a armas nucleares. Algumas das medidas são a colocação de um teto ao preço do petróleo russo, bem como novas restrições ao comércio que deverão resultar na privação de cerca de sete mil milhões de euros de receitas à Rússia.