Se brutalidade for sinal de desespero, o regime iraniano está em maus lençóis. Face a uma enorme onda de protestos devido à morte de uma estudante de 22 anos, Mahsa Amini, às mãos da polícia da moral, agentes chegaram a entrar em escolar para deter crianças, no domingo, mostram imagens divulgadas nas redes sociais. Os alunos foram levados para paradeiro desconhecido em carrinhas sem matricula, um dia após a Iran Human Rights denunciar que pelo menos 185 pessoas morreram durante os protestos, incluindo 19 crianças.
Desde há semanas que estabelecimentos do ensino se tornavam focos de contestação ao regime dos aiatolas, tendo este decidido fechar todas as escolas e universidades na região do Curdistão, de onde era oriunda Amini. Isso não impediu que os protestos de domingo, um pouco por todo o Irão, contassem com uma significativa participação de estudantes, avançou o Guardian, tendo estes enfrentado gás lacrimogéneo, cargas polícias e até fogo real.
Apesar da repressão, os manifestantes continuam a mostrar-se decididos a protestar. “Por causa de todas as vezes que tivemos medo de beijar aqueles que amamos”, explicou o cantor Shervin Hajipour, cuja música Baraye (que significa algo como “por causa de” em iraniano) teve mais de 40 milhões de visualizações no Instagram. Não surpreende que Hajipour, um dos artistas mais populares do Irão, tenha sido detido. Mas a sua música tornou-se uma espécie de hino para os manifestantes. Que lutam “pelas mulheres, vida e liberdade”, cantou, citando um slogan do movimento curdo.
Desde há semanas que, apesar das tentativas do regime para restringir acesso à internet, as redes sociais são inundadas de imagens de quadros de giz com estes slogans lá escritos, ou de adolescentes a retirar o seu véu em salas de aula. Num vídeo visto pela Bloomberg, um grupo de estudantes tem a coragem de acenar com véus no ar, de cabelo descoberta diante de um oficial Basij, uma milícia controlada pela Guarda Revolucionária Iraniana, responsável pela infame polícia da moral.
O envolvimento dos estudantes nos protestos pela morte de Amini são más notícias para o regime, apontou Nima Tootkaboni, investigadora de sociologia na Johns Hopkins. Historicamente, essa foi sempre a fagulha para protestos mais amplos contra o regime.
“No Irão não há nenhum partido político, nenhum lugar onde possas ir e envolver-te em debates políticos”, disse à Time. “Mas dentro das universidades esta supressão foi relativamente menos bem sucedida”.