Se os portugueses quiserem manter o estilo de vida que têm, necessitarão de 2,88 planetas. Esta é uma das conclusões principais do Relatório Planeta Vivo (RPV) da WWF, edição de 2022, hoje divulgado, sendo que este valor representa um aumento face ao anterior relatório (em 2020, era de 2,52 planetas). “Entre 1994 e 2009, a Pegada Ecológica dos portugueses foi sempre muito elevada, comparativamente com a Biocapacidade do país, que se tem mantido mais ou menos constante desde 1961”, lê-se no documento – no entanto, após 2009, a Pegada tornou-se mais reduzida.
Tal aconteceu “como consequência da redução do consumo dos portugueses durante o período da crise financeira mundial e da crise da dívida nacional que culminou no programa de reajustamento da ‘troika’ em Portugal”, é avançado e podemos compreender que o carbono – que corresponde a 56% da Pegada Ecológica dos portugueses –, foi a componente que teve uma descida mais acentuada.
Além da crise financeira, é explicado que “esta tendência está naturalmente associada ao consumo, que diminuiu durante a crise económica, mas também à alteração das fontes de produção de energia nacional, pois foi no início do milénio que Portugal começou a grande aposta nas energias renováveis”. A título de exemplo, se compararmos com 2004, “nas pré-crises, observa-se que quase todos as componentes apresentam uma quebra, com a exceção, ainda que pouco significativa, das zonas de construção (um setor que só costuma abrandar em período de crise) e das pastagens”, enquanto o “maior crescimento relativo é o dos produtos florestais, num aumento de 92% entre 2014 e 2016 associado à retoma na construção e consequentemente no mobiliário, para além de outros investimentos na capacidade nacional de transformação daqueles produtos”.
E não só esta vertente preocupa a WWF porque clarifica que o país, ainda que tenha “uma área significativa do seu território sob proteção”, esta está “aquém dos 30% a que já se comprometeu”. Para ultrapassar este problema, melhorando a proteção da natureza, “precisamos não só de metas baseadas em evidências científicas, mas também do financiamento adequado para as implementar, através de processos transparentes, previsíveis, participativos e baseados no melhor conhecimento disponível”, pois “só assim conseguiremos proteger a nossa biodiversidade para fazer face às alterações climáticas”.
Deste modo, devemos restaurar a saúde dos nossos rios, consumir proteína de forma responsável, escolher produtos de base florestal, proteger tubarões e raias, travar a mineração em mar profundo e dar voz aos jovens. Relativamente ao quarto objetivo, no relatório é esclarecido que os tubarões e as raias constituem os grupos com mais espécies em risco de extinção no planeta (37%) “e, para as que habitam o mar alto, a abundância global diminuiu 71% ao longo dos últimos 50 anos, devido ao aumento do esforço de pesca”.
Nesta problemática, “Portugal tem uma relevante quota-parte de responsabilidade no declínio das populações de tubarões e raias”, porque é o 3.º país a nível europeu com maiores capturas de tubarões e raias, o 2.º país a nível mundial com maiores exportações conhecidas de carne de tubarão e o 6.º maior importador de carne de raia em termos de volume.
“A elaboração e implementação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias colocaria Portugal na liderança dos países europeus que salvaguardam a proteção das suas espécies e do oceano”, explicita a WWF, acrescentando que tendo em conta o papel do país “como importante ponte comercial, as medidas de proteção que implementar no seu território têm o potencial de impactar toda a rede comercial global de produtos à base de tubarões e raias”.