Hoje, quem está em Madrid e quer ver uma corrida de cavalos, tem de consultar a agenda dos acontecimento do Hipódromo de La Zarzuela. Não serão muitos, ainda assim, a preferência vai, decididamente para as corridas de touros, embora o nome não seja assim tão autêntico já que os touros não correm uns contra os outros, quanto muito correm de encontro aos toureiros que estão ali para lhes aplicar umas chicuelinas e, mal lhes apanhem o cachaço a jeito, lhes enfiarem o cutelo direito ao coração.
Há cento e vinte anos não havia hipódromo na Zarzuela. Ficava em pleno Paseo de La Castellana, avenida nobre de Madrid, e foi inaugurado nas bodas do Rei Afonso XII, no ano de 1878. Até 1930, aquando da sua demolição, os espanhóis tiveram tempo de se apaixonar pelo futebol tal como viviam apaixonados pelas touradas – as corridas de cavalos eram para meia-dúzia de finórios a armar ao inglês, com bigodes revirados para cima como se tivessem balões pendurados nas pontas. Por isso, o Hipódromo de La Castellana foi mais palco de confrontos de association do que propriamente de disputas entre jockeys e as suas montadas.
Foi-se Afonso XII, subiu ao trono Afonso XIII, grande amigo de Juan Padrós, fundador e primeiro presidente do Real Madrid que, na altura, ainda não tinha o ‘Real’, e era apenas Madrid Football Club, o novo rei era um aficcionado pela bola, era visto com muita frequência no Hipódromo de La Castellana ao lado do compincha Juan, o povo começou a encher o hipódromo para ver a majestosa figura aos saltos como o garoto que era a cada golo de los blancos, não tardou muito já fazia o recinto rebentar pelas costuras houvesse rei ou não.
Apenas mais um jogo…
Em maio de 1902, Afonso XIII assumiu o trono de Espanha ‘à séria’, já que até aí tinha sido a mãe, Maria Cristina, a regente por via da morte prematura do pai. Com apenas 16 anos, teve uma prenda que adorou: organizou-se em La Castellana um torneio de futebol a si dedicado, La Copa de la Coronación – que acabaria por ser a génese da Copa del Rey – que contou com a presença das que eram consideradas as cinco equipas mais fortes do reino: Madrid FC, FC Barcelona, New FC de Madrid, Bizcaya e o Centro de Entretenimiento y Formación de Barcelona.
Juan Padrós estava particularmente feliz: não só fazia um agrado ao seu jovem amigo como tornava o recinto na verdadeira casa do seu clube. O vencedor seria encontrado por eliminatórias, havendo lugar a uma pré-eliminatória entre O Bizcaya e o CEF.
No dia 10 de Maio, FC Madrid e FC Barcelona disputaram uma das meias-finais. Foi a primeira vez que se os dois grandes rivais de hoje estiveram frente a frente. Nesse distante ano de 1902, era só um jogo, sem nada que o distinguisse particularmente. O imberbe Afonso acenou a uma turba calculada em cerca de 2000 pessoas, senhoras na sua grande maioria pois a organização decidira que elas entravam de graça e que os homens pagariam meia peseta.
Num ambiente de festa, os catalães foram muito superiores e ganharam por 3-1 a um jovem Madrid (fora fundado três meses antes) e que contava co apenas um inglês, Arthur Johnson, contra cinco do Barça – Reig, Witty, Mayer, Parsons e Steinberg. Fazia diferença… O Bizcaya ganhou ao Barcelona na final, por 2-1, e o troféu encontra-se, neste momento, nas vitrinas do museus do Athletic Bilbao, seu sucessor. Alguém tomo nota: «Só os golos marcados por jogadores espanhóis foram aplaudidos. Os outros foram ignorados».