Por Alexandre Faria, escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Porto Santo recebeu, na última semana, o V Encontro Internacional de Poesia da Macaronésia, onde participaram autores da Madeira, Açores, Portugal continental, Canárias e Cabo Verde, dando continuidade ao sucesso das edições anteriores numa escala global que transcende fronteiras e afirmando, cada vez mais, esta rede de ilhas a oeste do estreito de Gibraltar como uma lenda cultural e um dos mais significativos polos de pensamento oceânico, lusófono, latino, insular e africano.
Nascidos da ambiciosa visão do seu comissário internacional madeirense, João Carlos Abreu, poeta, escritor, dramaturgo e Secretário Regional do Turismo e Cultura no Governo da Região Autónoma da Madeira entre 1984 e 2007, estes encontros mantêm a decisiva estratégia inicial de promover as suas regiões pela escrita, assim como a possibilidade de reflectir em conjunto sobre as potencialidades comuns, tendo por base o património incomparável e singular das culturas e heranças históricas.
A Cultura oferece a solução essencial para a afirmação das nossas sociedades e as iniciativas de dimensão internacional, respeitando os princípios base de coerência e de regularidade, permitem assegurar esperança para as novas gerações nestes penosos tempos perigosamente à deriva que enfrentamos, demasiado dominados pela informação fútil, escassa e desprovida de conteúdo.
Para além disso, a realização de eventos culturais em terras que apostam no turismo como componente imprescindível para o seu desenvolvimento, proporcionam ocasiões únicas de afirmação e de promoção, onde os escritores se constituem como os melhores embaixadores, no âmbito da sua assumida e inerente missão de alterar o rumo de uma época que persiste em condenar-nos pela vacuidade, conseguindo influenciar e mudar o mundo pelas palavras, descrevendo os lugares que vivenciam com os melhores poemas, frutos da reflexão à flor da pele.
Nesta persistente vulnerabilidade, a esperança no ser humano só se sacia pelos íntimos inquietos da literatura feita contra a maré, em textos lavrados como hinos, os únicos capazes de conferir uma visão esclarecedora e um novo sentido de humanidade.
Podemos afirmar, por isso, que as ilhas unem os continentes e são os autores que unem culturas a partir das suas ilhas, trazendo a inspiração necessária para apontar o caminho na direção certa, na incumbência das convicções em novas ondas. É para esta hábil proximidade diferenciadora que a Macaronésia nos convida, deixando um grito de revolta entusiasmante e um exemplo a seguir, aos quais se podem acrescentar relevantes oportunidades para parceiros hoteleiros, de restauração e comércio, atendendo ao indispensável incentivo turístico e significativas consequências sociais, culturais e económicas.
Assim o compreendam, de uma vez por todas, os poderes públicos, cada autarquia, região ou país, porque neste teimoso tempo de incentivo permanente às divisões, ainda resistem poetas que permanecem inconformados e indomáveis, atentos aos momentos mais desafiantes para salvar a humanidade e disponíveis para as histórias de mudança.