É preciso “varrer da Terra cidades ucranianas”, instigou o ditador checheno, Ramzan Kadyrov, pouco antes de Vladimir Putin assistir aos exercícios anuais do arsenal nuclear da Rússia, esta quarta-feira. É que os invasores combatem em “território russo”, continuou Kadyrov no Telegram, queixando-se que os bombardeamentos com drones e mísseis que têm devastado áreas residenciais e a rede energética ucraniana foram “fracos”.
No entanto, se há sítio onde a fraqueza das forças russas é notória é Kherson, uma cidade crucial que parecem estar à beira de perder. Coincidindo com alegações não-fundamentadas da produção de supostas “bombas sujas” ucranianas. E deixando o mundo receoso que seja pretexto para uma escalada.
Putin fez questão de se deixar fotografar enquanto observava atentamente o lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro, um pouco por toda a Rússia, do Extremo Oriente ao Ártico. Estes testes focaram-se na capacidade de lançar armas nucleares estratégicas. Ou seja, as armas mais poderosas, que habitualmente têm entre 500 quilotoneladas a uma mega tonelada, equivalente a entre 30 a 60 vezes a bomba largada em Hiroshima.
A ideia deste exercício militar seria simular um “ataque nuclear massivo” da Rússia, como retaliação a um ataque com armas nucleares contra o país, frisou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, avançou a Associated Press. Foi lançado um míssil intercontinental terra-terra Yars, assim como mísseis ar-terra Tu-95, e tendo um submarino disparado um Sineva ICBM. Nenhum deles ia carregado com armas nucleares e todos atingiram o seu alvo, gabou-se Shoigu.
Contudo, as armas nucleares estratégicas não são sequer a principal preocupação. O receio é sobretudo a potencial utilização na Ucrânia de armas nucleares táticas, mais “pequenas”, relativamente, claro, e com um poder de entre 10 a 100 quilotoneladas.
Já a NATO – cuja resposta a tal cenário seria apenas convencional, assumiram diversos dirigentes – também conduziu os seus próprios exercícios nucleares, em paralelo, no noroeste da Europa, uma operação apelidada de Steadfast Noon. Envolvendo cerca de 60 aeronaves, incluindo bombardeiros de longo alcance B-52 e caças capazes de levar armas nucleares.
Kherson em jogo Os conselhos de Kadyrov tornam-se cada vez mais influentes junto do Kremlin – o general favorito do ditador checheno, Sergei Surovikin, até foi nomeado como comandante das forças russas na Ucrânia – e isso tem sido pago com o sangue das suas tropas. Milícias chechenas, reputadas pela sua crueldade, têm sido usadas como uma espécie de polícia militar pelo Kremlin, perseguindo tropas russas que fogem da linha da frente, denunciaram autoridades ucranianas. E. quando civis de Kherson têm coragem suficiente para falar com a imprensa ocidental, mencionam frequentemente a presença dos chechenos na cidade.
Aliás, quando militares ucranianos se gabaram de atingir com mísseis de precisão Kairy, nos arredores de Kherson, deixando pelo menos 30 tropas russas mortas e outras cem enterradas debaixo do entulho, tudo indica que tenham atingido forças chechenas, segundo o mais recente relatório do Instituto para o Estudo da Guerra.
Este foi apenas um entre sucessivos ataques ucranianos contra a logística russa nos arredores de Kherson, tentando isolar esta cidade. Forças russas dedicaram-se a fortificar posições a leste do rio Dnipro, lado oposto de Kherson, de maneira a terem para onde recuar. No entanto, em breve podem nem ter sequer por onde escapar da margem oeste, caso percam controlo da barragem de Kakhovka.
Ambos os lados têm-se acusado mutuamente de pretender destruir a barragem, algo que causaria cheias catastróficas.
No caso dos russos, poderiam destruir a barragem para travar um avanço ucraniano, mas perderiam boa parte do abastecimento de água da Crimeia. No caso dos ucranianos, conseguiriam cercar o inimigo, mas devastariam a sua própria população.