Em 1979, Bon Scott, falecido vocalista dos AC/DC, imortalizava a sua vida de excessos, que culminou com a sua morte, devido a uma intoxicação alcoólica, em 1980, com a icónica faixa Highway to Hell.
Nos anos seguintes, esta música tornou-se um dos maiores hinos do rock ‘n’ roll, tocada em estádios de todo os cantos do mundo, cantada por milhares de milhões de pessoas que queriam celebrar a boa e selvagem vida que levavam.
Agora, quatro décadas depois, o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, apropriou-se desta expressão durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) para designar outro tipo de excessos. Os excessos que o planeta Terra tem sofrido devido à intervenção humana, afirmando que estamos todo numa “autoestrada para o inferno ambiental” e “com o pé no acelerador”.
“O trabalho que temos pela frente é imenso. Tão imenso quanto os impactos ambientais que estamos a observar em todo o mundo”, disse o secretário-geral da ONU, recordando que “um terço do Paquistão foi alvo de inundações”, a Europa viveu o verão mais quente dos últimos 500 anos ou que Cuba está a enfrentar apagões gerais enquanto o país enfrenta uma crise energética a nível nacional, tudo isto numa altura em que o planeta acabou de ultrapassar os oito mil milhões de habitantes.
“Estamos na luta pelas nossas vidas e estamos a perder. As emissões de gases de efeito estufa continuam a crescer, as temperaturas globais continuam a subir e o nosso planeta está a aproximar-se rapidamente de um ponto de inflexão que tornará todo este caos climático irreversível”, afirmou.
A cimeira anual, que irá decorrer durante duas semanas, começou este domingo, no Egipto, e tem como principal objetivo fortalecer e implementar as promessas feitas na edição do ano passado, que ocorreu na Escócia.
Em 2021, os países que participaram na COP26 definiram que o objetivo seria manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 graus Celsius de forma a evitar efeitos mais devastadores ao planeta.
No entanto, um ano depois, apesar das várias promessas feitas por líderes mundiais, o mundo está no caminho para atingir um aumento de temperatura de cerca de 2,4 ° C, de acordo com o Climate Action Tracker, citado pelo Al Jazeera.
A presente edição da COP vai contar com mais de cem líderes mundiais, entre os quais se conta o primeiro-ministro português, António Costa, que tentarão apresentar soluções para a crise climatérica.
O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, deveria acompanhar o primeiro-ministro, no entanto, falhou a viagem para o Egito e a abertura da COP27 por estar infetado com covid-19.
Uma das maiores iniciativas do evento é a presença de cerca de vinte líderes africanos, que sofrem alguns dos piores efeitos das alterações climáticas, e que tem como intenção “obter ajuda financeira das nações industrializadas responsáveis pela maior parte das emissões, que ainda não cumpriram as promessas de financiamento regular para os esforços de adaptação e mitigação”, escreve o Al Jazeera.
Este evento vai contar ainda com a presença de membros do lobby de combustíveis fósseis com a intenção de protegerem as suas indústrias, nomeadamente, a do carvão, petróleo e gás, em funcionamento, mas estas apresentam-se numa posição pouco privilegiada, depois do secretário-geral da ONU ter pedido a todos os países do mundo para tributarem os lucros inesperados das empresas de combustíveis fósseis com o atual aumento dos preços da energia.
“Vamos redirecionar o dinheiro para as pessoas que lutam com o aumento dos preços dos alimentos e da energia e para os países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática”, disse Guterres, que acusou os combustíveis fósseis de serem os principais responsáveis pelas emissões de gases com efeito de estufa do planeta.
Sites de direitos humanos bloqueados Uma dificuldade que os convidados da COP27 estão a enfrentar durante o evento é a incapacidade para entrar em sites de direitos humanos uma vez que algumas das principais páginas estão bloqueadas no Egipto.
Entre os sites bloqueados estão o da Human Rights Watch (HRW), que irá liderar um dos painéis de discussão da COP27, assim como o Medium, o Al Jazeera e a única agência de notícias independente do Egito, Mada Masr.
“Há tantos sites bloqueados no Egito na COP27, que é noticiável e complicado para trabalharmos”, escreveu no Twitter a ativista Alexandria Villaseñor, da organização Earth Uprising, citada pelo Guardian. “Não conseguimos usar o nosso site no Medium porque este está bloqueado. As agências de notícias que costumamos citar também estão bloqueadas”, queixou-se, acrescentando que “não há ação climática sem verdade e informação”.
“As autoridades egípcias bloquearam o acesso a cerca de 700 sites, incluindo meios de comunicação independentes e grupos da sociedade civil. Isto restringe severamente o acesso a informações que precisam ser discutidas, incluindo questões ambientais e de direitos humanos. A ação climática eficaz requer mais pessoas expressando opiniões, não menos”, disse através de um comunicado o diretor da divisão de Meio Ambiente da HRW, Richard Pearshouse.
O jornal inglês argumenta que este bloqueio foi a forma que as autoridades egípcias encontraram para que observadores e participantes da conferência consigam separar as negociações climáticas vitais das questões de direitos humanos, controlando o que estes conseguem investigar sobre o histórico de décadas de repressão dos direitos humanos no Egipto.