Cinco dos dos maiores bancos a operar no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, novobanco, BPI, Santander e BCP – lucraram quase 1.942,4 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Feitas as contas, dá uma média diária de mais de 7,1 milhões por dia. O negócio bancário subiu e as instituições financeiras voltaram a ‘carregar’ nas comissões. A estrutura continua a ser penalizada, com cortes em termos de números de trabalhadores e de balcões (ver infografia).
A liderar novamente o pódio está a Caixa Geral de Depósitos (CGD) que viu aumentar os seus lucros em 61% para 692 milhões de euros nos primeiros nove meses e pensa em pagar ao Estado o «maior dividendo da história» aos contribuintes. A Caixa explica que «ao resultado líquido de 692 milhões de euros, e de acordo com a política de dividendos, corresponde, até ao presente, a um montante máximo distribuível de 286 milhões de euros referente à atividade dos primeiros nove meses de 2022», referindo ainda que esta é a «primeira vez que a CGD consegue remunerar o custo do capital que é investido pelos contribuintes».
A margem financeira líquida do banco público aumentou 25% para 930 milhões de euros, o que representa uma evolução de 185 milhões de euros «com forte contributo da atividade internacional (+28%) e das operações de tesouraria e gestão da carteira que contribuíram com 60 milhões de euros».
Já os resultados com comissões subiram quase 11% para 459 milhões de euros, no entanto, Paulo Macedo garantiu que não irá aumentar as comissões durante o próximo ano. O crédito a clientes cresceu em Portugal 2,1 % para 48,8 mil milhões de euros, enquanto o crédito a empresas subiu 2,6% para 19,9 mil milhões e o crédito à habitação cresceu 1,4 % para 25 mil milhões de euros.
Por seu lado, a margem financeira na atividade doméstica subiu 22,8% para 522,6 milhões de euros, já no mercado internacional cresceu 27,7% para 377 milhões de euros.
Os custos de estrutura, incluindo os gastos com pessoal, mantiveram-se estáveis em 292 milhões de euros.
Já os custos regulamentares (que incluem as contribuições extraordinárias do setor e os custos de supervisão e para o Fundo de Resolução) foram de 80,5 milhões de euros, ou seja, 25% acima do valor registado há um ano.
Maior resultado da banca privada
O maior lucro da banca privada coube ao novobanco ao apresentar resultados de 428,3 milhões de euros nos primeiros nove meses, o que representa um aumento de 178% face aos 151,1 milhões de euros registados em igual período do ano passado. «O crescimento da atividade nos primeiros nove meses de 2022, reflexo da estratégia de crescimento sustentado do negócio bancário em Portugal, com geração crescente de receita e capital, conduziu à criação de valor para todos os stakeholders», disse o CEO da instituição financeira.
A margem financeira totalizou 405,9 milhões (-5,6% face aos primeiros nove meses de 2021), enquanto o crédito a clientes ascendeu a 24, mil milhões, «confirmando a trajetória de crescimento da carteira de crédito no segmento de empresas e de particulares, num ambiente de taxas de juro favorável».
As comissões de serviços a clientes ascenderam a 215,7 milhões (+3,8% quando comparado até setembro de 2021), «com sólido desempenho na gestão de meios de pagamento, dado o perfil da atividade económica e a revisão do preçário».
Quanto a este trimestre, o novobanco justifica a “evolução positiva pela melhoria do produto bancário (+7,1%), controlo dos custos operativos (+0,4%) e menor nível de imparidades e provisões”.
Ainda sobre os primeiros nove meses, o banco refere que as comissões de serviço a clientes ascenderam a 215,7 milhões de euros, mais 3,8% comparando com o mesmo período do ano passado.
O novobanco tinha no final de setembro menos 223 trabalhadores e menos 34 balcões do que um ano antes, tendo reduzido em 5,7% os custos com pessoal, para 169,8 milhões de euros, «mantendo a tendência de redução que se tem verificado nos últimos anos em resultado das medidas de eficiência implementadas».
De acordo com a instituição financeira, no final de setembro, contava com 4139 colaboradores (menos 223 do que um ano antes e menos 54 do que no final de 2021) e dispunha de 300 balcões (menos 34 do que em setembro de 2021 e menos 11 do que em dezembro passado).
Resultados dispararam
Também o lucro do Santander Totta disparou nos nove meses do ano, atingindo os 385,1 milhões de euros. Um aumento de 124% face a igual período do ano passado, altura em que a instituição liderada por Pedro Castro e Almeida apresentou um resultado líquido de 172,2 milhões e que é justificado pelo «encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros (líquido de impostos), para fazer face ao plano de transformação em curso, com a otimização da rede de agências e investimentos em processos e tecnologia».
O total de crédito a clientes ascendeu a 43,5 mil milhões de euros, o que representou um ligeiro decréscimo, em 0,1%, face ao mesmo período de 2021. Já no segmento de crédito hipotecário, a carteira cresceu 6,7%, em termos homólogos, «refletindo o dinamismo na produção de novos créditos habitação, onde o banco mantém uma quota de mercado de 23,7% (valores acumulados a agosto)».
Já os recursos de clientes situaram-se em 46,7 mil milhões de euros, um crescimento de 1,2% face ao período homólogo, com o contributo dos depósitos (+3,6% face a setembro de 2021), ascendendo a 39,3 mil milhões «a ser parcialmente anulado pela dinâmica de recursos fora de balanço, que retraíram 10,3% no mesmo período, fruto do contexto nos mercados financeiros».
O produto bancário ascendeu a 933,6 milhões de euros, entre janeiro e setembro, com as comissões a atingirem 358,6 milhões de euros, enquanto os custos operacionais fixaram-se em 364,5 milhões de euros, o que representa uma redução de 13,6%, comparativamente aos primeiros nove meses de 2021. Só os custos com pessoal representaram uma queda de 16,1% nos primeiros nove meses do ano, totalizando os 196,9 milhões de euros.
Lucros também sobem
Já o BPI obteve um resultado consolidado de 286 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2022, o que representa uma subida de 18% face ao mesmo período de 2021. A atividade em Portugal contribuiu com 159 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 25% relativamente ao período homólogo de 2021.
Nos créditos a clientes houve um crescimento de 7%, o que corresponde a um aumento de 1,8 mil milhões de euros, só a carteira de crédito à habitação cresceu 10% nos primeiros nove meses do ano.
Nos depósitos registou-se uma subida de 8%, para 30,4 mil milhões de euros. «Os depósitos de clientes representam 71% do ativo e constituem a principal fonte de financiamento do balanço», acrescentando que a instituição financeira «mantém uma posição financeira sólida, assente num forte dinamismo comercial, que nos tem permitido ganhar quota de mercado nos diversos segmentos de negócio e melhorar a rentabilidade».
Mais modesto
Por seu lado, o lucro do BCP aumentou63,4% nos primeiros nove meses do ano, atingindo os 97,2 milhões de euros. Um valor que compara com os 59,5 milhões registados em igual período do ano passado. A instituição financeira liderada por Miguel Maya explica estes resultados com o «aumento dos proveitos core do grupo em 24,7% com custos controlados».
O mercado nacional apresentou um lucro de 295,7 milhões de euros, mas o grupo continua a ser penalizado pelos efeitos extraordinários relacionados com o polaco Bank Millennium, que enfrenta mais de 15 mil processos em tribunal por causa dos empréstimos concedidos em francos suíços na primeira década de 2000. «Estes efeitos extraordinários incluem encargos de 393 milhões de euros associados à carteira de créditos hipotecários em francos suíços, provisões para moratórias de crédito de 304,6 milhões de euros, contribuição de 59,1 milhões de euros para o Fundo de Proteção Institucional polaco e registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros».
O banco lembra ainda que as contribuições obrigatórias para entidades nacionais do setor bancário fixaram-se em 62,2 milhões de euros. Ainda assim, lembra que o resultado da atividade bancária em Portugal deve-se, em parte, ao crescimento de 9,3% dos proveitos core, da redução de 3,4% dos custos operacionais (excluindo itens específicos) e da redução de 11 pontos base no custo do risco.
Na atividade em Portugal, a margem financeira situou-se 8,3% acima dos 619,5 milhões de euros apurados nos primeiros nove meses de 2021, ascendendo a 670,9 milhões de euros, no mesmo período de 2022, «refletindo, em larga medida, a evolução favorável do negócio comercial e a gestão da carteira de dívida pública».
As comissões líquidas apresentaram um crescimento de 7,3% face aos 534,8 milhões de euros registados nos primeiros nove meses de 2021, ascendendo a 573,8 milhões de euros no mesmo período do ano corrente, refletindo em parte a progressiva normalização da atividade económica.
«Neste contexto, assistiu-se a uma melhoria das comissões bancárias, principalmente no que respeita à atividade em Portugal, mas também na atividade internacional. As comissões relacionadas com os mercados, por sua vez, situaram-se abaixo do montante alcançado nos primeiros nove meses de 2021, com o aumento registado na atividade em Portugal a ser integralmente absorvido pela redução verificada na atividade internacional».