BCE. Riscos cada vez maiores para o sistema financeiro

O aumento da probabilidade de uma recessão técnica na zona euro, inflação elevada, condições financeiras mais restritivas e menor liquidez está a aumentar os riscos para o sistema financeiro.

O aumento da probabilidade de uma recessão técnica na zona euro, inflação elevada, condições financeiras mais restritivas e menor liquidez está a aumentar os riscos para o sistema financeiro. O alerta é do vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE). “As famílias e empresas em toda a Zona Euro já estão a sentir os efeitos de uma inflação mais elevada e de uma atividade económica mais fraca, no meio da atual crise energética provocada pela guerra na Ucrânia”, afirmou Luis de Guindos.

Já esta terça-feira, o BCE tinha afirmado que aqueles com rendimentos mais baixos irão ser “duramente” mais atingidos pela inflação e pelas subidas das taxas de juro a partir do final deste ano e correm mesmo o risco de não conseguir pagar as suas dívidas. Um alerta que levou João César das Neves ao garantir que “o risco não é futuro, mas presente”, garantindo ainda que “já estamos a viver essa realidade e  que ela vai agravar-se nos próximos tempos”.

De acordo com Guindos, as famílias, as empresas e os Governos que têm dívidas mais elevadas são os que enfrentam mais problemas face à subida das taxas de juro, mas também os mercados financeiros, em particular alguns fundos de investimento. “Se as perspetivas se deteriorarem ainda mais, não se pode excluir um aumento da frequência de incumprimentos por parte das empresas, especialmente no caso de empresas com utilização intensiva de energia”, prevê o BCE.

E diz ainda que as empresas também enfrentam mais desafios “devido aos preços mais elevados da energia e a outros custos dos fatores de produção” e os seus lucros irão diminuir à medida que os custos de financiamento aumentarem.

Recorde-se que o BCE começou a aumentar taxas de juro em julho, estando atualmente em 2%. A expectativa, de acordo com os analistas contactados pelo i, é que as taxas voltem a aumentar em dezembro, mas desta vez em 0,5%.

Subida deve-se refletir nos depósitos Já ontem, o governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu que a subida das taxas de juro se deve refletir nos depósitos. “O reflexo das subidas das taxas de juro deve fazer-se sentir nos depósitos, para que a poupança passe a ter outro significado”, afirmou Mário Centeno, durante uma intervenção na conferência “A banca do futuro”. 

Mário Centeno lembrou, no entanto, que banca portuguesa está a par do sistema bancário europeu, enfrentando riscos comuns. “Não é surpreendente que os principais fatores de risco do sistema bancário passem pela inflação elevada e persistente, pelo aumento abrupto das taxas de juro e pelo abrandamento forte da atividade económica”, afirmou. 

Para o governador, “no curto e médio prazo, as taxas de juro estruturalmente mais elevadas deverão ter um efeito favorável sobre a margem financeira”, uma vez que irão potenciar “uma maior diversificação da carteira de dívida pública, mas também poderão resultar na desvalorização da carteira de ativos”. Ainda assim, alertou que, “por outro lado, a subida dos custos de financiamento, num quadro de deterioração das expectativas económicas, poderá resultar numa menor procura por crédito e numa redução na capacidade de cumprimento das obrigações contratuais por parte dos devedores”, o que se poderá materializar “num aumento do risco de crédito para o sistema bancário e refletindo-se num aumento das imparidades”.