A Câmara Municipal de Caminha apagou do site institucional do município várias referências do texto com o currículo do empresário Ricardo Moutinho, com o qual o agora ex-secretário de Estado Miguel Alves havia negociado o projecto do Centro de Exposições Transfronteiriço (CET).
Segundo o Público, do site desapareceu parte de um comunicado em que a câmara difundia os atributos de Ricardo Moutinho, incluindo um doutoramento (que não tem), o trabalho como assessor de Mário Centeno no Governo (que o Executivo desmentiu ao Público) e como consultor da CCDR do Centro (que foi igualmente negada pela CCDR), assim como referências à exploração do Super Bock Arena, no Porto, (consideradas “abusivas” pela administração do espaço) e ao grupo TAV Airports, de que disse ser acionista maioritário (informação também desmentida pelo grupo).
Após ter verificado que a informação sobre o currículo do empresário que costumava constar do site, desde setembro de 2020, tinha sido alterada, o Público questionou o presidente da Câmara de Caminha, Rui Lages, antigo vice de Miguel Alves, que inicialmente desmentiu que tivesse sido feita qualquer alteração ao texto em causa, considerando “bastante graves” as afirmações de que o site tinha sido manipulado.
Já quando foi confrontado com uma cópia do texto original, o autarca de Caminha admitiu que o texto foi alterado, mas garantiu que essa alteração não foi realizada durante o seu mandato e remeteu a responsabilidade para o seu antecessor no cargo, Miguel Alves. “Consultada a empresa que criou o website da Câmara Municipal, apurámos que o texto que refere foi criado em 2020/09/26 (10:12), foi posteriormente alterado, designadamente o posicionamento na página. Posteriormente à data de 2021/05/10 (14:47) não sofreu mais qualquer alteração”, respondeu a autarquia.
Já na terça-feira a Câmara de Caminha divulgou um comunicado no qual diz ser alvo de “notícias” falsas, frisando que a autarquia foi abordada com questões nas quais se afirmava “ter havido ‘manipulação’ do website recentemente”. Tendo negado e considerado “grave” essa acusação, a autarquia indica também que esclareceu por uma questão de “transparência” que o texto tinha sido foi criado a 26 de setembro de 2020 e alterado depois, mas que desde 10 de maio de 2021, “não sofreu mais qualquer alteração”.
A Câmara de Caminha insiste que as conclusões do Público “são abusivas, traduzem conclusões falsas e adensam um clima de suspeição insuportável”, e chega até a falar numa “cruzada insana”, embora confirme que o texto foi de facto alterado em relação à sua redação original.