Por João Sena
Por ser o primeiro Mundial organizado no mundo árabe é também, em muitos aspetos, uma competição única, que exige apertadas medidas de segurança e exorbitantes somas astronómicas. O país anfitrião vai utilizar os seus militares e conta com a experiência da polícia internacional Interpol e o apoio da NATO, que foi responsável pelo treino contra ameaças químicas, biológicas e nucleares, no combate a ameaças com explosivos e na proteção de VIPs. Claro que a excelente saúde financeira da monarquia do Golfo dá para tudo isso. O emirado gastou mais de 220 mil milhões de euros para organizar este Mundial – é o mais caro da história. Em termos de comparação, a Rússia gastou 12 mil milhões em 2018, e o Brasil despendeu 15 mil milhões em 2014. O torneio é disputado numa zona geográfica muito compacta, os oito estádios distam entre si, no máximo, a 50 quilómetros, e até por isso a vigilância vai ser apertada. As autoridades sabem que receber este evento planetário é um passo importante para o seu prestígio internacional, e querem ficar bem na fotografia depois de todas as críticas que foram feitas sobre a violação dos direitos humanos e as condições desumanas a que foram sujeitos milhares de trabalhadores na construção dos estádios.
O país do Golfo enfrenta um grande desafio em termos logísticos para sediar um evento como este. Com uma população de três milhões de habitantes – dos quais apenas 380 mil são qataris – espera um fluxo de visitantes superior a 1,5 milhões de adeptos, o equivalente a 50% da sua população. Na fase de grupos, só entra no Qatar quem tiver bilhete para assistir aos jogos ou outro tipo de permissão, mas quando terminar essa fase, a 2 de dezembro, vai reabrir as fronteiras a todos os visitantes, com ingressos ou não para jogos. A organização tem feito avaliações de risco diárias em relação ao comportamento dos adeptos. “Vamos ter um centro internacional de cooperação policial e se houver problemas com um determinado grupo de adeptos, poderemos obter informações sobre como lidar com isso” explicou o major-general Abdullah al-Ansari.
Cenários de conflito Um país que organiza um grande evento enfrenta riscos e diferentes tipos de ameaças. “Nos Mundiais anteriores, enfrentámos ameaças terroristas, insegurança em alguns lugares, vandalismo e violência. Mas esse não será o caso no Qatar”, disse o diretor de segurança da FIFA, Helmut Spahn.
Segundo alguns especialistas em segurança, a exposição do Qatar ao terrorismo internacional é limitada porque o país tem poucos pontos de entrada e é bastante fácil para as autoridades monitorizarem e controlarem a imigração no aeroporto internacional e nos postos fronteiriços. Para o emirado, o principal desafio será controlar as centenas de milhares de adeptos em Doha, disse um responsável da polícia.
As autoridades do Qatar em conjunto com outros 13 países estão preparadas para enfrentar cenários de tumultos e para controlar multidões. Não foram ditos quais os países que participam no sistema de segurança, mas sabe-se que a França e Turquia estão envolvidos. “A participação de forças especializadas de países amigos constituirá um reforço às forças de segurança nacionais. Essas forças trabalharão sob uma liderança unificada do Qatar”, disse Jabr Hammoud Jabr Al Nuaimi, porta-voz do Ministério do Interior. Também o responsável pela segurança do Mundial, Abdullah Al Ansari, mostra-se confiante: “As nossas capacidades de segurança foram comprovadas de maneira exemplar quando o Qatar sediou a Taça das Nações Árabes em 2021”. O Qatar treinou cerca de 50.000 pessoas para fazer a segurança (32 mil são agentes do Governo e 18 mil pertencem a empresas de segurança privada) e a Turquia enviou três mil polícias de intervenção. Segundo a Reuters, o Qatar convocou centenas de civis, incluindo diplomatas retirados, para fazer a segurança nos estádios. A missão dessas pessoas é controlar as filas à entrada dos recintos, revistar adeptos e detetar contrabando como álcool, drogas ou armas. Quem recusar este serviço é punido com pena de prisão de um ano e multa de 15 mil euros.
Drones em ação Para combater o risco de ataque terrorista, a organização vai utilizar os sofisticados drones da Fortem Technologies, que são capazes de intercetar drones inimigos no ar e impedir que ataquem estádios. Os DroneHunter são autónomos e guiados pelo radar TrueView, auxiliado por inteligência artificial, e foram projetados para funcionar em ambientes urbanos e em locais com muita gente. Estão equipados com uma rede que podem atirar sobre um alvo, imobilizá-lo e depois transportá-lo para local seguro. Se o alvo for grande demais para ser transportado pelo drone, o intercetador usa uma rede com paraquedas para que ele aterre suavemente. Os alvos inimigos são identificados usando uma série de radares muito pequenos distribuídos por toda a zona e que dão uma imagem completa do espaço aéreo. O DroneHunter pode parar drones até 25 quilos, e foi usada, na guerra da Ucrânia, uma versão capaz de deter drones russos com uma envergadura de 3,1 metros. A empresa também já usou sistemas antidrone em outros eventos desportivos e no Fórum Económico Mundial em Davos. “O Governo do Qatar quer a máxima segurança no ar durante os jogos do Mundial e nós vamos garantir que jogadores, adeptos e todas as pessoas envolvidas na realização deste evento estão em segurança” afirmou Timothy Bean, CEO da Fortem Technologies.