Os amigos espanhóis de António Costa

O que não há dúvida é que António Costa e Pedro Sánchez fazem o possível por entender-se não só em questões bilaterais como em outras de maior transcendência…

por Manuel Pereira Ramos
Jornalista

Amigos a sério ou só de conveniência, o que não há dúvida é que António Costa e Pedro Sánchez fazem o possível por entender-se não só em questões bilaterais como em outras de maior transcendência que, como a da energia, necessitam o apoio de Bruxelas onde sempre é melhor ir juntos, unindo forças, que cada um por seu lado. Outro exemplo de ajuda mútua é o da candidatura conjunta à organização do campeonato do mundo de futebol de 2030 mas, como nem tudo são  rosas, um dos pontos em que parece não haver convergência de pontos de vista diz respeito ao futuro traçado da linhas de comboio de alta velocidade  entre os dois países com o governo português decidido a entrar pela Galiza enquanto o espanhol se inclina por uma ligação direta entre Lisboa e Madrid que substitua a pobreza de ver duas capitais europeias separadas por uma viagem de mais de nove horas e vários  transbordos para uma distancia igual à de Madrid a Barcelona que agora se percorre em escassas duas horas e meia. À boa compreensão entre ambos também ajuda, naturalmente, o facto de, embora mais enteados que irmãos, pertencerem à mesma família politica mas com um dispondo duma maioria absoluta que lhe permite atuar duma forma mais próxima à genuinamente social-democrata, e o outro escorado mais á esquerda empurrado pelos seus companheiros de coligação.

De qualquer forma, os pontos em que convergem os dois primeiros ministros são muito mais fortes que os desencontros que possam existir e isso influe, de forma importante, nas boas relações entre os dois Governos. Mais difícil de entender é o fascínio que, pese á diferença ideológica, António Costa exerce sobre a direita espanhola representada pelo Partido Popular; numa conferencia proferida há dias na Casa América, em Madrid, Mariano Rajoy, antigo máximo dirigente desse partido e anterior presidente do Governo, fez um apelo aos políticos para que «ao adotar medidas de caráter económico o façam com o maior sentido da responsabilidade, como acaba de suceder em Portugal onde lograram chegar a um acordo de rendimentos que em Espanha  assinámos, em 2012, num contexto de máximas dificuldades, António Costa também melhorará as pensões de forma progressiva até ao máximo de 4% e atualizará o IRS de forma a que os impostos não comam as subidas salariais, a isto se chama atuar de forma responsável». No dia seguinte, durante o debate no Senado, o atual presidente do PP, Alberto Núñez Feijóo, referiu-se também ao acordo de rendimentos recomendando a Pedro Sánchez copiar o exemplo português. Neste assunto há conversações entre o governo  espanhol e os agentes sociais sem que se tenha alcançado ainda nenhum pacto enquanto que no assunto das pensões a Rajoy, que durante os anos em que governou as manteve congeladas, deve-lhe parecer excessivo que Sánchez as aumente 8,5% em Janeiro próximo cumprindo assim com a lei que obriga a que elas sejam melhoradas na mesma percentagem que a subida da inflação .

Este carinho dos populares para com António Costa não é de agora, quando ele ainda era presidente da Câmara de Lisboa visitou a sua colega de Madrid, Ana Botella, mulher de Aznar, um encontro em que fizeram boas migas e que, curiosamente, teve lugar horas depois dele ter aparecido a cozinhar num programa de culinária difundido por um canal espanhol de televisão. Depois, Costa e Rajoy governaram ao mesmo tempo, tiveram relações bastante cordiais e desceram juntos o Douro para assinalar o recomeço da realização das cimeiras luso-espanholas, mais tarde, e com Pablo Casado como máximo responsável pelo partido, também a gestão feita em Portugal na luta contra a epidemia foi  apontada como exemplo a seguir. Para além de que, como principal partido da oposição, o PP tenha tendência a referenciar os êxitos do governo português para atacar a Pedro Sánchez, o certo que António Costa logrou que a sua figura goze em Espanha duma simpatia transversal paralela ao crescente interesse dos nossos vizinhos pelo nosso país, cada vez são mais os que nos descobrem como destino turístico preferente ao mesmo tempo que vai aumentando o número dos que  se sentem atraídos por um politica tributária benevolente sendo já mais de 15.000 os espanhóis que reconhecem ter mudado a sua residência fiscal para Portugal  para dela se poderem beneficiar e assim fugirem aos mais altos impostos vigentes no seu próprio país.