Gomes Cravinho acredita que a UE adotará nas “próximas semanas” medidas contra o Irão

Ministro dos Negócios Estrangeiros diz “profundamente chocado” com a execução de um segundo preso no Irão. Embaixada iraniana em Portugal pede para os “compatriotas” enviarem informações no âmbito da manifestação que se realizou na sexta-feira, em Belém. 

Por Joana Faustino e Felícia Cabrita

João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros, disse esta terça-feira estar "profundamente chocado" com a execução de um segundo preso no Irão, detido no âmbito de uma onda de protestos antigovernamentais, que defendiam mais sanções da União Europeia (UE) a Teerão. 

"Estamos profundamente chocados com as notícias de mais uma execução, uma segunda execução, no Irão, de um dos manifestantes, um cidadão que exercia o seu direito de se manifestar e que foi, portanto, executado, assassinado judicialmente pelo Irão em circunstâncias que, manifestamente, não respeitam sequer a legalidade iraniana", afirmou hoje o chefe da diplomacia portuguesa.

Em declarações aos jornalistas em Bruxelas, à margem do Conselho de Ministros Europeus dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho assumiu-se ainda "profundamente preocupado com sinais que existem de um reforço do apoio militar do Irão à Rússia".

"Acredito que, durante estas próximas semanas, adotaremos medidas contra o Irão", adiantou. 

O Conselho da UE já anunciou em comunicado que estas foram as novas conclusões sobre o Irão, com foco na "repressão inaceitável" dos protestos em curso e a situação dos Direitos Humanos, a "cooperação militar" do Irão com a Rússia, incluindo a entrega de 'drones' para serem usados na guerra da Ucrânia.

O Conselho acrescentou também hoje 20 indivíduos e uma entidade a uma lista de pessoas sujeitas a medidas restritivas no contexto atual do regime de sanções aos Direitos Humanos iranianos, uma iniciativa tomada no âmbito da resposta violenta por parte do governo do Irão às recentes manifestações naquele país, na sequência da morte da jovem Mahsa Amini.

O Irão anunciou esta terça-feira que executou o segundo preso detido numa onda de protestos antigovernamentais. 

Majidreza Rahnavar estava acusado de esfaquear até à morte dois membros das forças de segurança e de ter ferido quatro, no dia 17 de novembro, em Mashhad, no nordeste do país, adiantou a agência Mizan. Na quinta-feira, foi executado o primeiro preso detido nas manifestações.  

Recorde-se que ocorreu, na passada sexta-feira, em Portugal, uma manifestação em frente à embaixada do Irão, em Belém, onde várias ativistas iraninas mostraram a sua indignação em relação ao "regime sedento de sangue" do seu país de origem. 

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Na altura, uma das ativistas que organizou o protesto revelou ao Nascer do Sol que eteve em contacto direto com o Governo para pedir a António Costa um um sinal de apoio público às manifestações pelos direitos das mulheres, ão tendo, no entanto, obtido uma resposta ate àquele momento. 

Entretanto, o Nascer do Sol teve acesso a uma mensagem no canal oficial de Telegram da embaixada iraniana em Portugal, onde se pede a punição destes manifestantes e incentiva os restantes "compatriotas" a denunciarem, facultando um número de telefone para que estes informem a embaixada e esta possa seguir os "trâmites legais necessários para lidar com a violência organizada e pôr fim às suas intimidações e ameaças contra os compatriotas iranianos". 

"Serve para informar os compatriotas iranianos residentes em Portugal que segundo as informações recebidas e as comunicações de alguns compatriotas, nos últimos dias e a pretexto de inflamações provocadas por desenvolvimentos no interior do Irão, pessoas violentas e imprudentes têm ultrapassado o âmbito das leis do país anfitrião e em grupos virtuais da Internet e aparentemente manifestações de protesto, ameaçaram outros conterrâneos e representantes diplomáticos do Irão em Portugal e tornaram alvo a sua vida e segurança mental com ameaças, intimidações e obscenidades", começa por ler-se na mensagem. 

"Esta embaixada considera defender os direitos dos iranianos e apoiá-los como seu dever inerente e, no âmbito das leis do governo anfitrião e de sua responsabilidade legal e internacional de proteger os nacionais de outros países e lugares diplomáticos, toma todas as medidas necessárias para contato com as autoridades competentes portugueses", escreve ainda a embaixada.