Visita de ministro vale ameaça de ação disciplinar

O Nascer do SOL contactou a Escola Secundária Marques de Castilho, em Águeda, mas não obteve resposta. Já o Ministério da Educação diz não ter conhecimento da ordem de serviço emitida antes da visita do ministro João Costa. 

Na véspera da visita do ministro da Educação, João Costa, à Escola Secundária Marques de Castilho, em Águeda, o diretor fez questão de pôr a circular uma ‘ordem de serviço’ onde podia ler-se que os estudantes deviam comportar-se aquando da chegada e permanência de João Costa nas instalações daquela instituição, pois, caso contrário, poderiam ser alvo de «tratamento disciplinar».

«Amanhã, dia 16 de dezembro, está prevista a visita do Sr. Ministro da Educação à ESMC, com chegada prevista para as 10.30. A essa hora, e durante o intervalo, no átrio da escola, decorrerá um pequeno concerto levado a cabo por alunos do 11A2, para o qual desde já se convidam os alunos a assistir», lê-se no documento a que o Nascer do SOL teve acesso.

«Entre as 11:00 e as 12:00 decorrerá a visita à escola, com a presença do Ministro em algumas aulas e outras atividades a decorrer. Como se compreende, a acompanhar o Sr. Ministro virão órgãos de comunicação social, bem como vários convidados», é realçado. «Alerta-se todos os alunos para se manterem (…) dentro da sala de aula e nos corredores, assumirem uma postura responsável e correta, de modo a que a imagem da nossa escola, e de todos nós, não saia beliscada. Qualquer comportamento perturbador será objeto de tratamento disciplinar».

Aparentemente, o corpo discente cumpriu as ordens, mas o docente não foi ao encontro das mesmas. À chegada do dirigente, os professores gritaram palavras de ordem como «Professores a lutar também estão a ensinar», «Não nos calaremos» e «Queremos respeito». Recorde-se que o Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P.) tinha em curso uma greve e anunciou ter apresentado pré-avisos de greve para todo o mês de janeiro.

«Colegas, é necessário restaurar a dignidade e a valorização da nossa profissão docente, por nós, pelo nossos alunos/filhos/netos e pelo futuro do país! A história demonstra que o Poder/ME só nos respeitará quando pelo menos um setor significativo da classe começar a dinamizar lutas com maior impacto», lê-se no pré-aviso de greve do S.T.O.P. «É fundamental JUNTAR TODOS os colegas inconformados (independentemente se são do sindicato A ou B, ou se são não sindicalizados). Num dia carregado de simbolismo, 1 dezembro, iremos começar a construir/organizar esta greve nacional nas escolas com início a 9 de dezembro, para que esta tenha o maior impacto possível e também avaliar a viabilidade de criar fundos de greve. Que não haja dúvidas: nenhum sindicato sozinho conseguirá mudar o curso da história, se a classe que representa não se mobilizar minimamente».

Em resposta ao Nascer do SOL, o Ministério da Educação disse que não tem conhecimento da existência desta ordem de serviço. A Escola Secundária Marques de Castilho não respondeu, até à hora de fecho desta edição, ao contacto do Nascer do SOL.

Curiosamente, o diretor da escola, professor Francisco Vitorino, é um destacado dirigente do PS local e foi mesmo o candidato socialista à Câmara de Águeda nas últimas eleições autárquicas.