É certamente um dos natais mais caros dos últimos tempos. Bacalhau, couves, ovos, azeite, cabrito ou bolo-rei, tudo está mais caro e muitos portugueses vão ter uma mesa mais pequena não para conseguirem poupar mas para não gastarem mais.
«Decidi comprar em menos quantidade para não gastar tanto. Não é que passemos fome mas obviamente não haverá tanta fartura. É poupar nuns lados para conseguir chegar a outros», diz ao Nascer do SOL Mafalda Reis, que vai receber seis pessoas em sua casa, onde já moram três.
Maria Castro é da mesma opinião. «Todos os anos sobrava imensa comida, até aproveitávamos para fazer a famosa roupa velha. Este ano, se calhar, não vai sobrar bacalhau para o fazer porque decidimos comprar menos. Não vai ficar ninguém com fome, isso é certo. Mas o dinheiro que podemos poupar na comida, dá depois para ajudar nas prendas, por exemplo», diz ao nosso jornal.
Ainda assim, há quem tente não pensar no aumento dos preços, como é o caso de Jorge Silva, que junta 11 pessoas à mesa nesta quadra. «O Natal é época de família e não é altura de estar a ligar a isso. Poupa-se depois», diz, ainda que frise que, no seu caso, não há problemas mas noutros podem existir. «Acredito que quem receba o ordenado mínimo e tenha contas para pagar não possa dizer o mesmo», atira.
O preço de um cabaz com os produtos necessários para o Natal disparou, segundo as contas da Deco Proteste. Os mais recentes dados mostram que um cabaz com produtos nas categorias carne, congelados, frutas e legumes, laticínios, mercearia e peixe, com produtos como peru, frango, carapau, pescada, cebola, batata, cenoura, leite, queijo, manteiga, entre outros, subiu de 187,70 euros a 5 de janeiro para os 218,94 euros a 21 de dezembro.
Fazendo as contas apenas aos produtos ‘essenciais’ para esta época festiva, alguns dos produtos essenciais na mesa de muitas famílias estão «significativamente mais caros», elevando a despesa com a ceia de Natal para, pelo menos, 46,96 euros, mais 23,49% face a janeiro. A 5 de janeiro deste ano, os consumidores pagavam 38,03 euros pelos mesmos produtos, ou seja, menos 8,93 euros do que se paga a 14 de dezembro.
Mas vamos a números concretos. Se a batata vermelha custava 0,87 euros a 5 de janeiro, o seu valor elevou para 1,23 euros a 21 de dezembro, o que representa um aumento de 40%. Já o leite UHT meio gordo, que custava 0,68 euros no início de janeiro, está agora a custar 0,98 euros, um disparo de 42%. Um dos aumentos onde se nota mais diferença é o arroz carolino que no início do ano tinha um custo de 1,14 euros e agora custa 2,09 euros, o que representa um crescimento de 83%.
No que diz respeito aos produtos de Natal, como é o caso do bacalhau médio, o aumento é de 19%, uma vez que custava a 14 de dezembro mais 2,04 euros que no início do ano, tendo passado de 10,60 euros para 12,64 euros. Já a couve, passou, em 12 meses, de 0,99 euros para 1,42 euros, o que representa um crescimento de 43%. Pelo mesmo caminho seguem os ovos a apontar para aumentos na ordem dos 40%. É que, a 5 de janeiro, uma caixa de seis ovos custava 1,14 euros e agora custa 1,59 euros.
O levantamento da Deco Proteste mostra ainda que a perna de peru, que apresentava um preço de 3,64 euros a 5 de janeiro, está a custar 4,50 a 14 de dezembro, um crescimento de 24%. Segue-se também a aumentar 32%, o azeite virgem extra que passa dos 4,46 euros para os 5,89 euros.
E para quem faz os doces em casa, também há más notícias. O açúcar branco registou um aumento de 42%, tendo passado de 1,10 euros para 1,56 euros e a farinha para bolos custa agora 1,61 euros, um aumento de 33% face aos 1,21 euros registados no início do ano.
No entanto, é preciso notar que estes aumentos podem ser ainda mais expressivos, tendo em conta que a Deco Proteste só considerou neste cabaz uma unidade de cada produto ou um quilo, no caso dos produtos vendidos a peso (bacalhau, perna de peru, batata, couve e abacaxi).
E para quem compra fora o tradicional bolo-rei, as notícias também não são as melhores uma vez que, tal como tudo o resto, o seu preço disparou. Por quilo, o bolo-rei tradicional custa, se optar por comprar num hipermercado, a partir de 8,49 euros. Nas padarias e pastelarias tradicionais revela-se um pouco mais caro, e os preços por quilo começam nos 18 euros, podendo mesmo ultrapassar os 30 euros por quilograma, segundo os dados da Deco Proteste.
Vai ser ‘um Natal mais contido’
Questionada sobre se o facto de os preços terem aumentado pode levar os portugueses a passar um Natal mais pobre, Ana Guerreiro, porta-voz da Deco Proteste, diz que «vai levar os portugueses a passar um Natal mais contido no sentido de comprarem o absolutamente essencial para a ceia», diz ao Nascer do SOL. E defende que «não podemos assumir que seja mais pobre mas como tudo o que é fora da ceia está de forma geral mais caro é normal, um exemplo disso poderá ser a troca do bolo-rainha por bolo-rei porque tem um valor por kg mais baixo», sugere a responsável.
Ana Guerreiro defende que os atuais preços dos produtos «vão certamente penalizar» a ceia dos portugueses, lembrando que «todos os produtos apresentam um aumento de preços, muitos dos quais é impossível não comprar nesta época do ano, como por exemplo o açúcar, couves, batatas, farinha, bacalhau, etc», como mostram os levantamentos da Deco Proteste.
O problema é que esta será uma tendência para continuar. «Do acompanhamento de preços que a Deco Protesto tem feito no último ano e considerando que não há, infelizmente, um fim à vista para a guerra na Ucrânia, assim como uma descida significativa da taxa de inflação, é expectável que se mantenham os preços mais altos do que o que tínhamos assistido até agora».
E, nesse sentido, as perspetivas para o futuro são uma incerteza. «Prevê-se, de formal global, um grande impacto nas famílias e nos seus orçamentos, resultado do aumento das taxas de juro, das rendas, dos produtos alimentares e dos serviços essenciais», defende Ana Guerreiro que recorda no entanto que a Deco Proteste disponibiliza ferramentas e simuladores no site que permitem aos consumidores preparar-se da melhor forma para o próximo ano.
Cozinhar fica 11% mais caro
E se o cabaz já está bem mais caro, o preço da luz não lhe fica atrás. É normal que as festas de Natal representem sempre um aumento das despesas de energia doméstica devido aos diversos jantares e reuniões de família mas este ano a fatura vai ser maior. «Considerando a instabilidade do mercado energético que levou a um aumento dos preços da eletricidade durante o último ano, a preocupação com o valor da fatura da luz tende a ser ainda mais acentuada», garante a Selectra que fez um estudo tomando como referência os quatro convívios mais importantes desta quadra.
Feitas as contas, uma refeição com oito convidados vai encarecer a fatura da luz em cerca de seis euros, supondo esses oito convidados, tendo contratada uma tarifa de eletricidade simples com uma potência de 6,9 kVA, definindo um menu composto por duas entradas, um prato principal e duas sobremesas.
«De acordo com este estudo, que pressupõe a tarifa atual de uma comercializadora do mercado livre, receber a sua família em casa representa um custo de 1,48€ por refeição, o que, feitas as contas, dá um total de 5,92€ de custo acrescido à fatura de eletricidade dos portugueses no final das festividades», diz a Selectra. E acrescenta: «Além do mais, e considerando que a Selectra realizou esta mesma análise no ano passado, examinando os preços praticados pela mesma comercializadora e tendo como base o mesmo cardápio, este ano deverá pagar mais 11,3% pela energia consumida do que em 2021, já que antes o preço situava-se nos 5,24», garante.
Depois há que fazer contas também ao aquecimento e à iluminação que, com o aumento dos preços da eletricidade, também sobem na fatura final. «Como resultado final, se tivermos em conta o custo adicional de cozinhar as quatro principais refeições de Natal para 8 pessoas, o consumo das 12 lâmpadas LED, a iluminação da árvore de Natal e as fontes de aquecimento (dois aquecedores a óleo), a Selectra prevê que a conta de eletricidade das famílias portuguesas terá um custo acrescido de 12,84€ este ano», conclui.