No final de um ano em que os preços dos combustíveis atingiram máximos históricos não se espera que esse aumento volte a ser tão significativo, pelo menos nos próximos tempos. Esta é a perspetiva dos especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL. Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que este é um mercado «muito volátil e que espelha a evolução da cotação do barril do petróleo». Mas alerta que «uma possível recessão em 2023 ditaria uma diminuição da procura global de petróleo e consequentemente do preços dos hidrocarbonetos, mas o governo português poderá gradualmente retirar o apoio fiscal e diluir esse mesmo efeito de queda dos preços dos combustíveis nas bombas».
Sobre as perspetivas, Mário Martins, analista da ActivTrades, diz que «para já é previsível que os preços subam um pouco mais, dado que o preço do petróleo subiu nas últimas duas semanas, e existe um atraso de efetivação dos novos preços no preço dos combustíveis». Já no curto prazo, defende, «estará dependente do que ocorrer na guerra no leste da Europa». E é da opinião de que os preços subam um pouco mais «dado que o preço do petróleo subiu nas últimas duas semanas, e existe um atraso de efetivação dos novos preços no preço dos combustíveis». Mas, a curto prazo, tudo «estará dependente do que ocorrer na guerra no leste da Europa».
Por sua vez, Henrique Tomé, analista da XTB, defende que apesar das subidas nos preços do petróleo, «que estão a contribuir para o aumento dos preços dos combustíveis, acreditamos que a tendência de baixa seja para continuar».
O analista explica que, no lado da procura, «começam a surgir sinais evidentes de que há uma diminuição na procura, devido à diminuição da atividade económica, sobretudo na China e nos EUA». E alerta que os receios sobre o risco de recessão «estão a penalizar também os preços das matérias-primas e o próximo ano deverá ser marcado por estas questões, dado que a inflação começa a dar sinais de abrandamento e poderá passar para segundo plano». Ainda assim, nos combustíveis, a médio e longo prazo «espera-se que os preços continuem a baixa. Para além das questões relacionadas com o petróleo, o facto do euro estar a conseguir recuperar em relação ao dólar americano também apoia este cenário de baixa».
Então não vamos voltar a assistir tão cedo aos valores de junho em que os combustíveis superaram os dois euros por litro? (ver gráfico) «Com uma recessão à vista em 2023 é muito difícil que os preços regressem aos máximos de junho deste ano, a não ser que a guerra na Ucrânia se agrave significativamente, escalando para além das fronteiras do pais invadido, ou haja um acontecimento imprevisível no próximo ano similar a um cisne negro», defende o economista Paulo Rosa. Já Mário Martins diz que não é «de todo expectável que tal venha a ocorrer».
O analista da XTB recorda que durante o verão, os preços do petróleo, tanto o Brent como o Crude, estavam a ser negociados nos 100 dólares por barril. «Contudo, tendo em conta a atual conjuntura económica, a probabilidade dos preços voltarem a atingir os 3 dígitos parece ser reduzida», diz ao nosso jornal, acrescentando que, além disso, «os custos de transporte também continuam a diminuir, à medida que os constrangimentos nas cadeias de distribuição também estão a ser ultrapassados».
Ajuda a redução do ISP?
Questionados sobre se a medida do Governo da redução do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) ajuda a baixar os preços, os analistas mostram opiniões muito semelhantes.
«Sim, têm ajudado a mitigar a lata dos preços dos combustíveis», defende o economista do Banco Carregosa, que justifica: «Se os impostos que recaem sobre os combustíveis não tivessem diminuído, os preços seriam mais caros», acrescentando que a desvalorização do dólar desde meados de outubro, «cerca de 12% face ao euro, ajudou também a embaratecer o barril de petróleo em euros, visto que é cotado internacionalmente na moeda norte-americana».
Henrique Tomé é da mesma opinião ao defender que a redução do ISP «ajudou certamente a baixar os preços dos combustíveis» que lembra que, no nosso país, a carga fiscal para os combustíveis «é substancial e qualquer redução dos impostos acaba por ter peso no valor praticado pelas gasolineiras». Mas, por outro lado, entende que um dos fatores que pode contribuir para a subida dos preços «poderá estar relacionado com o aumento da procura ou se as tensões no leste da Europa se agravarem».
De outra opinião é o analista da ActivTrades que entende que estes apoios do Governo «são mais retoques que fatores relevantes», uma vez que o que tem influenciado os preços é o valor do barril de petróleo.
Diferença entre gasóleo e gasolina
Tendencialmente, os preços da gasolina sempre foram mais baratos que os do gasóleo mas essa tendência inverteu-se nos últimos meses. O economista Paulo Rosa explica a significativa subida do preço do gás natural «incentivou famílias e empresas europeias dependentes deste hidrocarboneto a readaptarem-se e optarem por outros combustíveis fósseis industriais que não valorizaram tanto, tal como o gasóleo», acrescentando que as refinarias europeias «não estavam adaptadas à crescente procura de diesel, pressionando em alta o preço do gasóleo, explicando os preços do gasóleo superiores ao preços da gasolina». E diz que é importante referir que «os custos de no processo de refinação do gasóleo são inferiores ao da gasolina, justificando um preço do gasóleo mais barato que o da gasolina em situações normais».
Já Mário Martins aponta este aumento para «questões logísticas de produção, uma vez que um fator determinante para o preço dos combustíveis, para além do preço do petróleo, é a capacidade de utilização das refinarias».
Também Henrique Tomé justifica com o custo de refinaria da gasolina ser inferior ao custo do gasóleo.
Redução da produção
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (OPEP+) decidiu continuar a aplicar um corte na produção de petróleo em 2023. Isso pode levar ao aumento do preço do barril? «Os países membros da OPEP procuram manter um equilíbrio no mercado petrolífero, alimentando um preço relativamente elevado do barril de petróleo, mas sem incentivarem a alternância para outras energias, tais como as renováveis», defende o economista do Banco Carregosa que diz ainda ser certo que «uma menor produção impulsionará o preço do petróleo, mas também é importante referir que «uma potencial recessão em 2023 e consequentemente descida da procura poderá limitar essa mesma subida e, provavelmente, contribuir para um declínio da cotação do petróleo no próximo ano».
Já Mário Martins diz que essa redução ainda não é certa mas que, caso aconteça «será devido à menor procura derivada do arrefecimento da economia global».
Por fim, Henrique Tomé é da opinião que uma redução da produção do petróleo «poderá provocar uma subida dos preços se a procura se mantiver elevada ou superior à oferta». No entanto, a OPEP «pode decidir diminuir a produção de petróleo e mesmo assim a procura ser inferior, por exemplo».