Por Vítor Rainho e Sónia Peres Pinto
Paulo Portas deu esta semana um sinal forte de que não será candidato à Presidência da República, em 2026, pois já foi comunicado à CMVM que será administrador não-executivo da construtora Mota Engil. O antigo líder do CDS desde 2016 que colabora com a construtora na qualidade de conselheiro estratégico para o mercado da América Latina, mas, agora, com a chegada de Carlos Mota Santos a CEO e chairman da Mota Engil, Paulo Portas terá um papel mais ativo no conselho de administração.
Com os afazeres com a construtora, Paulo Portas deverá deixar a vida política para segundo plano. Esta decisão não será alheia às últimas sondagens, que dão o antigo braço-direito do Governo de Durão Barroso – também o foi de Santana Lopes e de Pedro Passos Coelho –, mal posicionado face ao almirante Gouveia e Melo, mas, mais importante, muito atrás de Passos Coelho e em segundo plano face a Luís Marques Mendes.
Desta forma, nomes históricos da política portuguesa, como Paulo Portas e Santana Lopes, nunca chegarão a sentar-se na desejada cadeira presidencial de Belém. Portas procurava protagonismo no seu espaço televisivo que rivalizava com o de Marques Mendes, embora este tivesse e tenha muito melhores audiências. Curiosamente, ambos começaram em canais de cabo e tudo fizeram para chegar à antena aberta. Mendes iniciou os seus comentários na TVI24, passando depois para a SIC. Portas também esteve no canal de cabo da TVI, tendo chegado ao generalista, que tem, obviamente, uma audiência muito superior.
A popularidade ganha no comentário televisivo é evidente, sendo o melhor exemplo Marcelo Rebelo de Sousa, que se tornou uma cara totalmente familiar com as suas notas na RTP e na TVI. A importância da televisão é tanta que Emídio Rangel, antigo diretor da SIC, chegou a dizer que o canal televisivo tanto vendia um sabonete como um Presidente da República.
Apesar do aparente sucesso televisivo de Portas, as sucessivas sondagens davam-no atrás dos três homens considerados melhor colocados à direita, como Gouveia e Melo, Passos Coelho, Durão Barroso e Marques Mendes, o que terá levado o ex-ministro de Estado de três Governos do PSD a seguir o exemplo do antigo ministro socialista Jorge Coelho, que abandonou a vida política para entrar na Mota Engil.
Algumas fontes contactadas peloNascer do SOL dizem não ser estranho esta ‘subida’ de Paulo Portas na construtora, pois desde que os chineses entraram no capital social da Mota Engil que era previsível que tal viesse a acontecer.
É certo que ainda falta muito tempo até às Presidenciais, mas o jogo começa a ficar mais claro à direita, embora seja preciso esperar pelo que decidirá Pedro Passos Coelho. Se este avançar, o espaço de Luís Marques Mendes ficará muito mais apertado, pois o antigo primeiro-ministro é o único que, neste momento, se aproxima na intenção de votos do almirante Gouveia e Melo, que ganhou protagonismo e fama com a política de vacinação contra a covid-19.
No entanto, fontes próximas do antigo líder do CDS entendem que ainda «é cedo para se dar como facto consumado que não concorrerá às Presidenciais», lembrando que o espaço televisivo «pode ser um magnífico palco para passar a mensagem que entender».
Já para o politólogo José Filipe Pinto, a história é evidente: «Não me parece que Paulo Portas tenha condições nem agora, nem no futuro de se vir a afirmar como uma alternativa credível de um candidato presidencial que representa a direita», até porque «a única pessoa que neste momento está em condições de congregar a direita chama-se Pedro Passos Coelho. E Pedro Passos Coelho é capaz de federar, grande parte da direita, mesmo aquela que se está a encaminhar para a extrema-direita. Por outro lado, ao federar a direita também tem um grande anti-corpo que é a que vai federar a esquerda, porque a gerigonça só foi possível para responder a Pedro Passos Coelho».
Apesar do politólogo reconhecer que «Paulo Portas tem na comunicação social uma boa cobertura mediática, tem tido visibilidade, tem tido mediatismo, não tem falado da política nacional, o que acaba por aumentar aquilo a que poderemos chamar a sua capacidade de aceitação» por parte do eleitorado, admite que tem dúvidas que se verifique um movimento de direita que se mobilize à volta de Portas.
Já quanto à decisão de o antigo governante assumir a função de administrador não-executivo da Mota-Engil, José Filipe Pinto vê como uma opção pessoal «virada para a sua vida empresarial e tem um saber de experiência feito que conseguiu enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros que lhe permitiu aquilo a que ele chamou de diplomacia económica». Quanto ao conhecimento que Paulo Portas adquiriu enquanto governante, o politólogo recorda que diz sempre aos seus alunos que «não existe diplomacia económica, a diplomacia é apenas um dos instrumentos da política externa e a política externa é que tem uma dimensão que não pode deixar de acautelar a dimensão económica».
Também para a especialista de ciência política Paula Espírito Santo admite que o seu avanço ou não dependerá de «uma ponderação um bocadinho baseada nos interesses políticos que possa ter», mas lembra que, ao contrário do que tem acontecido ao Governo, se decidir avançar não irá criar situações de incompatibilidade. «Os cargos políticos têm todos um compromisso de dever público e de transparência. Mas é uma regra mais apertada ao nível do Executivo, em que aí sim poderão ser colocadas questões éticas ou de eventual conflito de interesses, já no plano presidencial, indiretamente haverá sempre esse conflito, mas num plano mais restrito de ação política é mais pacífico».
Augusto Santos Silva na calha à esquerda
O leque à esquerda está mais definido, atendendo que a figura que aparece melhor posicionada nas sondagens é António Costa, mas o atual primeiro-ministro já afastou perentoriamente uma candidatura a Belém. Quem parece que está com vontade de ver o seu nome nos boletins de voto em 2026 é Augusto Santos Silva, antigo ministro dos
Negócios Estrangeiros, entre outros ministérios, e atual presidente da Assembleia da República.
Santos Silva já deu a entender que quer ser candidato, apesar de ser o terceitro nome da ala esquerda, no que diz respeito aos estudos de mercado. À sua frente aparece, além de António Costa, Ana Gomes – candidata que teve um resultado desastroso nas últimas presidenciais –, mas não é por isso que os seus colegas de partido, como Eurico Brilhante Dias, deixem de acreditar que Santos Silva daria um «excelente Presidente da República».
Em entrevista à CNN, o atual presidente da Assembleia da República já considerou que era ridículo falar-se de presidenciais, quando ainda faltam quatro anos, mas sublinha desde já que o centro-esquerda tem a responsabilidade de se apresentar unido com um candidato. Quanto a ser ele próprio esse candidato, não recusa nenhum cenário.
Já em entrevista à RTP2 disse apenas: «Não rejeito nada em absoluto, porque se o fizesse não tinha procurado servir o meu país onde era necessário e entendido como mais útil. Seria desrespeitoso dizer mais do que isto; desrespeitoso para os deputados e para o atual Presidente da República, que está na primeira metade do seu mandato e com o mérito que os portugueses lhe reconhecem. Lá para 2025 falaremos das presidenciais. Entretanto, vamos trabalhando em conjunto».
É certo que este nome foi ganhando maior revelo depois das discussões polémicas entre Santos Silva e André Ventura no Parlamento.