A administração continua a estar envolvida em polémicas e o verniz voltou a estalar com o facto de a companhia área estar a atribuir um voucher de 450 euros da Uber a diretores que não tenham veículo. Ao que o Nascer do SOL apurou, tratam-se de diretores que não tinham nenhum carro atribuído, uma vez que houve um reforço desses quadros por parte da administração de Christine Ourmières-Widener.
Esse alerta já tinha sido dado ao nosso jornal pelo presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) ao alertar, desde que a administração tomou posse no verão de 2021, para a existência de vários casos de contratação, considerados ‘duvidosos’. «Não foi só contratada a companheira do personal trainer do marido da CEO, Christine trouxe para a empresa várias pessoas que trabalhavam no estrangeiro, nomeadamente da ex-companhia britânica onde trabalhou, a Flybe», alertou Tiago Faria Lopes que aproveitou para questionar a que preço vieram e qual é o valor das indemnizações no caso de se irem embora. «São várias as indemnizações a receber, ou seja, é uma situação muito grave», afirmou.
Face a estes gastos, a estrutura sindical pediu uma uma auditoria urgente à gestão da TAP e a rápida conclusão do relatório da IGF (Inspeção-Geral de Finanças). «Mais uma vez, estamos perante um ato de gestão que revela uma incoerência e um desnorte total por parte desta administração e que leva a TAP, consecutivamente, para as manchetes dos jornais pelos piores motivos», pedindo ao novo ministro das Infraestruturas, João Galamba, para «arrumar a casa rapidamente, na defesa dos interesses da TAP, dos seus trabalhadores, do país e dos contribuintes».
E garante que este caso junta-se a outros como, os «processos de indemnizações com cálculos mal explicados, as mentiras à CMVM e aos trabalhadores, as contratações consecutivas e duvidosas de quadros para a companhia, as encomendas dos carros depois suspensas, a mudança de instalações, os cortes salariais que não foram aplicados à CEO [presidente executiva] e elementos da administração (enquanto os restantes trabalhadores mantêm cortes de 25%)», tal como já tinha sido admitido em entrevista ao Nascer do SOL.
A situação também foi arrasada pela Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), apontando a decisão como discriminatória. «Trata-se de uma inaceitável discriminação e violação ostensiva das regras de uma concorrência justa e sã e não favorecimento de quaisquer interesses económicos e disposição de dinheiros públicos, sem direito à liberdade de escolha».
A Antral disse também que já «questionou a TAP sobre a veracidade da notícia e sobre o valor do contrato para poder aferir da necessidade de recurso à contratação pública» e que solicitou reuniões com os ministros das Infraestruturas e do Ambiente.
Despesas que também não caíram bem junto do Sindicato Nacional de Pessoal da Aviação Civil (SNPVAC) ao acenar com cortes nos salários, quando a administração não faz esse esforço. E prometem não baixar os braços com a promessa de fazer uma greve de sete dias. A estrutura sindical vai estar reunida em assembleia-geral de emergência no próximo dia 19, ou seja, antes das datas apontadas para a paralisação, em que vai ter como ponto único da ordem de trabalhos a apresentação, discussão e votação da proposta apresentada pela TAP.
Recorde-se que, no início da semana, o SNVPAC anunciou que vai avançar com um pré-aviso de greve ao trabalho na TAP por sete dias, entre 25 e 31 de janeiro, de acordo com uma nota enviada aos associados. Estes dias juntam-se à paralisação já realizada nos dias 8 e 9 de dezembro, o que levou ao cancelamento prévio de 360 voos, de acordo com a informação avançada pela presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, com um impacto estimado de oito milhões de euros.
Lucros ‘duvidosos’
As duas estruturas sindicais garantem também que os lucros que já foram prometidos por António Costa serão feitos à custa da redução das despesas com pessoal. Fonte da empresa também dá esta justificação, uma vez que os outros gastos sofreram aumentos, nomeadamente o preço do combustível.
Ainda assim, Tiago Faria Lopes mostra-se reticente em relação ao facto da empresa ir mudar de página em termos de resultados. «Gostava de acreditar nesses bons resultado que o primeiro-ministro disse. Todos sabemos que na aviação, o primeiro e o quarto trimestre são os piores. Há uma diferença entre o primeiro para o quarto porque o quarto tem o Natal e o fim de ano. Esta administração cancelou 400 voos antecipadamente em novembro para dezembro e depois houve outras vicissitudes em dezembro e tiveram de cancelar mais voos».
Já a Comissão de Trabalhadores aponta o dedo à indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis – que levou a ex-secretária de Estado do Tesouro a apresentar a demissão, a pedido do ministro das Finanças e também à saída de Pedro Nuno Santos e de Hugo Santos Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas – afirmando que teriam sido «muito mais bem empregues» para antecipar o fim dos cortes salariais e exigiu a devolução do valor. «Como é que esta senhora que liderou os despedimentos, que tinha pleno conhecimento da deficitária situação financeira da empresa, e da aplicação de cortes salariais aos trabalhadores, teve a coragem e a sem vergonha de aceitar este pagamento», questionou a CT, perguntando ainda «como é que a Administração da TAP, mais do que conhecedora da situação da empresa, se disponibilizou a fazer tal pagamento, e como é que o Governo acionista maioritário permite este tipo de práticas características dos grupos económicos privados», salienta.
Dia D
Todas estas questões estarão em cima da mesa na próxima quarta-feira, quando Christine Ourmières-Widener for ouvida no Parlamento.
Esta audição foi requerida, a título potestativo (de caráter obrigatório), pelo grupo parlamentar do Chega, depois do PS ter chumbado a audição de Christine Ourmières-Widener, que mantém o silêncio.
Ainda na passada quarta-feira, o primeiro-ministro considerou que a ex-secretária de Estado do Tesouro violou o estatuto do gestor público quando foi nomeada para a Navegação Aérea de Portugal (NAV) e não devolveu parte da indemnização que tinha recebido da TAP. «Não tenho dúvidas de que há pelo menos uma parte em que houve uma violação do estatuto do gestor público, que foi quando a senhora engenheira foi nomeada para a NAV e não procedeu à reposição de parte da indemnização que tinha recebido, admitindo que a indemnização a recebeu legalmente».
Também em marcha está a viabilização de uma comissão de inquérito parlamentar sobre a TAP, que foi proposta pelo Bloco de Esquerda, com o objetivo de «avaliar o exercício da tutela política da gestão» da companhia aérea, «em particular no período entre 2020 e 2022».