A Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados na Assembleia da República decidiu abrir um processo de averiguações sobre o registo de interesses de Hugo Pires, na sequência da notícia do Porto Canal que dava conta de que o atual secretário de Estado do Ambiente não terá declarado uma das empresas de que era sócio no registo de interesses, enquanto era deputado.
Ao que o Nascer do SOL apurou, o pedido para abertura do processo de averiguações foi submetido esta terça-feira pelo deputado do Chega Rui Paulo Sousa e foi aceite pela presidente da comissão, Alexandra Leitão, e posteriormente enviado para o grupo de trabalho do registo de interesses.
De acordo com o Porto Canal, em causa está uma participação social na empresa Palavras Suspensas entre 8 de fevereiro de 2021 e 23 de fevereiro de 2022, data em que foi dissolvida. O antigo deputado do PS detinha uma participação de 4.750 euros, correspondente a 95% do capital da empresa.
Hugo Pires foi vice-presidente da bancada do PS desde 2015 até 4 de janeiro de 2023, dia em que tomou posse como secretário de Estado do Ambiente. Contudo, no registo de interesses, disponível no site do Parlamento, não incluiu esta participação social. A falha representa um incumprimento da lei que obriga os titulares de cargos políticos a comunicar rendimentos, património e incompatibilidades.
Hugo Pires debaixo de fogo
Esta não é a única polémica a envolver o novo secretário de Estado do Ambiente. Tal como o Nascer do SOL noticiou, Hugo Pires também vendeu em 2021 o seu ateliê de arquitetura e reabilitação urbana – a CRIAT – a uma empresa agrícola detida por duas irmãs que também são sócias e irmãs dos dois acionistas principais do grupo Semural – de tratamento de lixo e resíduos.
No mesmo mês em que deixou de ser co-CEO da CRIAT – em fevereiro de 2021, segundo a sua própria declaração no site da Assembleia da República –, Hugo Pires foi o relator de um parecer na Assembleia da República sobre resíduos urbanos, no âmbito da Comissão Parlamentar do Ambiente.
A CRIAT – Arquitetura & Reabilitação Urbana foi vendida em 2021 à Penedo do Frade, detida pelas irmãs Lucinda Isabel Guimarães Gomes Marques e Adelaide Sofia Guimarães Gomes Marques. Esta sociedade agrícola cultivou vários hectares de vinha num aterro sanitário do grupo Semural, Waste & Energy SA, cuja atividade principal, é o tratamento de lixo e resíduos, incluindo a importação de lixo radioativo. As duas irmãs são também acionistas deste grupo empresarial que esteve ainda envolvido na polémica relativa ao aterro sanitário de Sobrado, em Valongo.