Por João Sena
Há muito que não havia um mercado de inverno tão profícuo para os clubes portugueses. Benfica, Sporting e Braga encaixaram mais de 200 milhões de euros pela transferência de apenas três jogadores. O Chelsea concretizou o maior negócio de sempre do futebol inglês ao pagar 121 milhões de euros (a cláusula de rescisão era de 120 milhões) pelo médio benfiquista Enzo Fernández. O Sporting fez igualmente um bom negócio ao vender Pedro Porro ao Tottenham por 47,5 milhões de euros – é a quarta maior transferência neste período. A cláusula de rescisão era de 45 milhões, mas o contrato do espanhol tinha uma alínea que impunha o pagamento de mais 2,5 milhões de euros se a opção de compra fosse feita a menos de duas semanas do fecho de mercado. No âmbito deste negócio, o Sporting ficou com mais 15% do passe de Marcus Edwards, passando a deter 65%. O Braga vendeu Vitinha ao Marselha por 32 milhões de euros, naquele que foi o maior negócio na vida dos dois clubes, ficando o Braga com 10% da mais-valia de uma futura venda.
O mercado entrou em roda livre e o Chelsea parece ter descoberto um ‘poço sem fundo’ de onde sai muito dinheiro. Segundo dados do Transfermarkt, os blues gastaram esta época 611,5 milhões de euros a contratar ou a pagar empréstimos.
Mas o Chelsea não está sozinho nesta loucura. No Top 5 dos mais gastadores encontramos o Manchester United (243,3 milhões), West Ham (194 milhões), Arsenal (192,4 milhões) e Newcastle (185,4 milhões).
No mês de janeiro, só o Chelsea investiu 329,5 milhões de euros, e os 20 clubes ingleses gastaram, no total, 824 milhões de euros na aquisição de jogadores. Os franceses dispenderam 127,9 milhões, os alemães ficaram-se pelos 67,3 milhões, os espanhóis e os italianos ‘só’ gastaram 32 milhões. O poderio económico das equipas inglesas reflete-se na visibilidade mundial da Premier League, mas em termos desportivos é um flop. Na última década, apenas duas equipas: Chelsea e Liverpool, venceram a Liga dos Campeões, considerada a maior competição de clubes do mundo. O campeonato inglês tornou-se um negócio onde americanos e árabes ditam leis, e verifica-se grande disparidade entre Inglaterra e o resto da Europa, os Big Five vivem realidade diferentes. Perante estes números, onde fica o fairplay financeiro da UEFA?
A título de exemplo, pois não serve de comparação, o Benfica gastou na janela de transferências 16 milhões de euros com as contratações de Tengstedt e Schjelderup e o empréstimo de Gonçalo Guedes e o Sporting 8,5 milhões com a contratação de Diomandé e o empréstimo de Bellerín, já que Tanlongo estava livre. O FC Porto passou ao lado destas movimentações; não perdeu nenhum jogador influente, mas também não faturou e recebeu por empréstimo o brasileiro Luan Brito, que vai para a equipa B. O Braga gastou 1,5 milhões de euros na contratação de Joe Mendes, pois Pizzi estava livre e Bruma vem por empréstimo do Fenerbahçe sem custos para os bracarenses.