Por João Sena
A União Desportiva Oliveirense é um clube centenário, foi fundado em outubro de 1922, e tem no seu plantel um jogador com 55 anos! O avançado japonês não é propriamente um reforço de inverno, mas vem trazer experiência a uma equipa que luta para garantir uma posição tranquila na segunda divisão portuguesa.
Kazuyoshi Miura, conhecido por King Kazu, é jogador do Yokohama FC e chega por empréstimo, pelo menos, até final do ano. O clube pertence ao grupo empresarial japonês Onodera, que adquiriu recentemente 52,5% da SAD da Oliveirense. Está tudo explicado. Este empréstimo permite manter em atividade um jogador que, devido à idade, tem algumas dificuldades no rápido futebol japonês, ao mesmo tempo que dá ao clube de Oliveira de Azeméis enorme repercussão mediática ao ter o futebolista mais velho do mundo. «Mesmo que este seja um lugar novo para mim, vou trabalhar duro para mostrar a todos o tipo de jogo pelo qual sou conhecido», disse Kazu, que completa 56 anos dia 26 de fevereiro, e já afirmou que vai jogar até aos 60. Há jogadores que abandonam a carreira de forma precoce, outros superam as expetativas e mantêm-se no ativo, atingindo marcas nunca vistas no futebol.
Um estudo da consultora Twenty First Group sobre a idade dos jogadores revela que os atletas com mais de 32 anos têm jogado mais minutos na Liga dos Campeões, e que os jogadores com 34 anos foram os mais utilizados nas cinco principais ligas europeias (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França) na época passada. Ainda segundo o mesmo estudo, os jogadores mais velhos vencem nos duelos aéreos, fazem mais dribles, têm maior precisão no passe e marcam mais golos, os jogadores na casa dos 20 anos são melhores a pressionar os adversários.
King Kazu tem um passado impressionante. Nasceu a 26 fevereiro de 1967, em Shizuoka, no Japão, começou a jogar em 1973, no Jonai FC, mas só passou a profissional em 1986, no Santos (Brasil), vai por isso disputar a 37.ª época consecutiva. É um raro exemplo de longevidade, que fica bem demonstrada no facto de ter tantos anos de profissional como Cristiano Ronaldo tem de vida (37). Ninguém sabe o segredo de uma carreira que dura, pelo menos, 15 anos a mais do que a média.
A sua vida desportiva tem curiosidades que fascinam os amantes do futebol. Nunca disputou uma fase final de um Campeonato do Mundo pelo Japão, mas esteve no Mundial de futsal em 2012. Aos 15 anos, deixou o futebol japonês, muito básico na altura, e foi para o Brasil jogar futsal nos escalões de formação do Juventus de Mooca. Fez o seu primeiro jogo como profissional aos 19 anos, pelo Santos, mas, no final da época, foi cedido ao Palmeiras. Marcou o primeiro golo aos 21 anos na vitória do XV Jaú sobre o Corinthians. Em 1989, transferiu-se para o Coritiba e conquistou o primeiro título estadual. No ano seguinte, voltou ao Japão para jogar no Verdy Kawasaki até 1998. A década de 90 foi o seu melhor período e, em 1992, suplantou Gary Lineker, que jogava no Grampus Eight, como melhor jogador da liga japonesa. Passou ainda pelo Génova, Croatia Zagreb, Sydney FC. Até ao momento, representou 17 clubes, incluindo a Oliveirense, realizou 700 jogos, marcou 193 golos, fez cinco assistências e durante 46.398 minutos de jogo nunca foi expulso! Como internacional, disputou 89 jogos e marcou 55 golos ao serviço do Japão. Aos 55 anos, tornou-se o futebolista mais velho a marcar um golo, feito que está registado no Guiness Book, e que dificilmente alguém lhe retirará. Jogou em quatro continentes, conquistou 11 títulos, oito nacionais em países tão distintos como a Croácia, Japão e Austrália, e três internacionais, com destaque para a Taça Asiática, onde foi considerado o melhor jogador da competição.
Histórias intermináveis
Outro resistente dos relvados foi Roger Milla, o ‘leão indomável’ dos Camarões. O avançado esteve presente em três campeonatos do mundo de futebol e ficou célebre pela forma como festejava os seus golos, com uma dança típica junto à bandeirola de canto. Fez 102 jogos pela seleção africana e marcou 28 golos. Entrou para a história no Mundial dos EUA em 1994, quando, aos 42 anos, fez um golo à Rússia e tornou-se o jogador mais velho de sempre a marcar numa fase final de um Mundial, e ninguém o suplantou. Milla terminou a carreira em 1997, com 45 anos, a jogar pelo Putra Samarinda, na Indonésia.
Ainda no futebol, destaque para a brasileira Miraildes Maciel Mota, mais conhecida como Formiga, que segue imparável no futebol feminino aos 44 anos. Começou a jogar aos 12 anos, representou vários clubes no Brasil e jogou também na Suécia, EUA e França. Aos 37 anos tornou-se a jogadora mais velha a marcar num Mundial, aos 38 anos foi contratada pelo Paris Saint-Germain e, esta época, com 44 anos vai reforçar o Cruzeiro. Realizou 160 jogos pela seleção e marcou 23 golos. É a única atleta a ter participado em sete campeonatos do mundo de futebol (incluindo homens e mulheres), tendo conquistado uma medalha de prata e outra de bronze. Foi também duas vezes medalha de prata nos Jogos Olímpicos.
Na história do desporto houve vários atletas a fintar o tempo, obtendo êxitos que eram impensáveis para muitos especialistas de desporto, que consideram os 30 anos a idade limite para competir.
O caso mais extraordinário foi o do sueco Oscar Swahn, medalha de ouro por equipas na modalidade de tiro ao alvo nos Jogos Olímpicos de Estocolmo em 1912, com 64 anos. Ficou como o mais velho campeão olímpico de sempre, um recorde que perdura até hoje. Não contente com isso, aos 72 anos obteve a medalha de prata nos Jogos de Antuérpia de 1920. É notável o grau de precisão e a concentração de Swahn para conseguir estes resultados. O fim da trajetória olímpica de Oscar Swahn coincidiu com os últimos momentos da sua vida, pois viria a morrer em 1927, com 79 anos.
Nos olimpíadas de Berlim, em 1936, o austríaco Arthur von Pongracz, de 72 anos, participou na prova de hipismo, mas não oteve qualquer medalha.
Nos Jogos Olímpicos de Verão de 1904 em St. Louis, a americana Eliza Pollock foi coroada campeã olímpica de tiro com arco com 63 anos.
Outra referência foi a cavaleira britânica Loma Johnstone, que fez história nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, ao tornar-se a mulher mais velha de sempre a participar nas olimpíadas, tinha 70 anos.
Um estrela nas pistas
Paul Newman foi das figuras mais marcantes da Sétima Arte, mas fez história também no automobilismo. Houve várias estrelas de cinema a passar pelas pistas, mas o galã de olhos azuis e cara de anjo que seduzia as mulheres e impressionava os rivais foi o melhor e o mais profissional de todos, correu até aos 82 anos.
Fez a primeira corrida nos EUA, em 1972, com um Lotus Elan. O momento mais alto da sua carreira aconteceu nas 24 Horas Le Mans de 1979, onde obteve o segundo lugar com o Porsche 935. Aos 70 anos, alinhou nas 24 Horas de Daytona com um Ford Mustang, ficou em terceiro e venceu a categoria GTS1. Aos 82 anos teve a coragem de participar na clássica de Daytona com o protótipo Crawford. As corridas eram a sua paixão e chegou a ter uma equipa na Fórmula Indy. «É o único sítio onde me sinto em estado de graça. O meu desejo é competir e ganhar. A velocidade é a minha droga. Quando estou em pista só penso em ganhar», disse Paul Newman. De modo bastante simbólico, a sua última aparição em público foi em Indianapolis, a pista onde rodou o filme Winning e nasceu a paixão pelos automóveis em 1969.
O jogador mais velho a jogar na NBA foi Nat Hickey, que alinhou numa partida pelo Providence Steamrollers aos 45 anos, isto, na longínquua temporada 1947/48. Atualmente, Udonis Haslem é o jogador mais velho em atividade na NBA. O defensor dos Miami Heat já ultrapassou os 42 anos, mas tem contrato e treina com seus companheiros.