«Não é possível existir uma Europa livre sem uma Ucrânia livre», foi este o mote que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lançou, durante a reunião do Conselho Europeu, uma das várias paragens da viagem que o político está a fazer pela Europa, reforçando que apenas a vitória do seu país pode proteger os «valores europeus».
Zelensky agradeceu o apoio da União Europeia e de todos os seus cidadãos na batalha contra a invasão russa, numa altura em que tem recebido apoios bélicos na forma de tanques e caças, assim como mísseis de longo alcance.
«Gostaria de agradecer a todos vocês que têm ajudado o nosso povo, os nossos cidadãos e os ucranianos que tiveram de fugir do país para encontrar um novo lar e que tiveram de apelar aos vossos líderes para aumentar e reforçar o vosso apoio», reconheceu Zelensky, citado pelo Guardian.
«Estamos a defender-nos no campo de batalha, nós ucranianos, juntamente com vocês», referiu o Presidente, acrescentando ainda que a Ucrânia está a lutar contra a «maior força antieuropeia do mundo moderno».
«Esta é a nossa Europa, estas são as nossas regras, este é o nosso modo de vida […] , e é o caminho para casa. Estou aqui hoje para defender o caminho para casa da nossa população, de todos os ucranianos, de todas as idades, de todas as orientações políticas, de todos os estratos sociais, de todas as convicções religiosas, todos partilhamos esta história europeia comum», afirmou, sendo aplaudido de pé por todo o plenário.
Numa conferência de imprensa conjunta com Zelensky e o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a líder da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, salientou que «é impressionante ver como a Ucrânia tem avançado nas necessárias reformas e está a trabalhar nos sete passos [acordados com a UE], com grande profissionalismo e enorme qualidade».
Charles Michel sublinhou «os progressos impressionantes» feitos por Kiev desde que lhe foi concedido o estatuto de país candidato à União Europeia, em junho de 2022, e elogiou o caráter «absolutamente excecional» da reunião dos líderes desta organização.
Nesta que é a segunda viagem ao estrangeiro de Zelensky desde que a guerra começou – a primeira foi aos Estados Unidos em dezembro do ano passado – e a primeira vez que participou no Conselho Europeu, o Presidente ucraniano defendeu um novo reforço do arsenal bélico do seu país, nomeadamente, com mais caças e mísseis de longo alcance.
Segundo a BBC, Zelensky «argumenta» que esta armas são «muito importantes» a juntar aos tanques Leopard 2 que as nações ocidentais recentemente se comprometeram a fornecer – incluindo Portugal. «Apesar de Zelensky tenha dito que discutiu a questão dos aviões de combate em Paris, ele alertou que há ‘muito pouco tempo’ para fornecer este armamento tão necessário», acrescenta a BBC.
Antes de marcar presença no Conselho Europeu, Zelensky esteve reunido, esta quarta-feira, em Paris, com o Presidente Emmanuel Macron e o chanceler alemão, Olaf Scholz, aproveitando a oportunidade para apelar aos seus aliados para que forneçam armamento pesado à Ucrânia o quanto antes.
O Presidente francês, tal como tem sido no passado, foi «firme», como descreve o Guardian, no seu apoio a Zelensky, afirmando que a França está determinada a ajudar a Ucrânia no caminho para a «vitória, paz e Europa» e a «restabelecer os seus direitos legítimos».
Macron reforçou também que o seu Governo irá «continuar os esforços» para entregar armas a Kiev, apesar de não oferecer mais detalhes de como esta ação irá decorrer. «A Rússia não pode e não deve vencer», afirmou, acrescentando ainda que é «o futuro da Europa» está em jogo.
Scholz, que disse que a Ucrânia fazia parte da «família europeia», afirmou que a Alemanha e seus parceiros apoiarão a Ucrânia «financeiramente, com ajuda humanitária e com armas», deixando claro que continuará a apoiar o país invadido «enquanto for necessário».
Depois de diversos países da Europa terem enviado um grande reforço do arsenal da Ucrânia, ainda não é claro quais serão os novos apoios que serão enviados para o exército ucraniano se defender da ofensiva russa.
O Reino Unido, que, em janeiro, enviou diversos tanques Challenger 2 para a Ucrânia, e que também recebeu Zelensky, já alertou que não enviará caças de combate se isso significar uma «potencial escalada de riscos» para o país – referindo-se ao potencial envio de Typhoon e F-35.
«Ainda não tomámos uma decisão em termos de fornecimento de aviões do Reino Unido», disse um porta-voz do Governo britânico. «O Reino Unido está no processo de fornecer tanques Challenger e também fornecemos armas de longo alcance. Tomamos essas decisões com cuidado e fazemos isso com atenção. Estamos cientes dos possíveis riscos de escalada», afirmou o porta-voz.
E acrescentou que o Governo está «confiante de que a abordagem que tem adotado é a melhor e mais rápida maneira de ajudar a Ucrânia de forma a acabar com esta guerra», o que é «obviamente do interesse de todos».
Segundo o porta-voz do Governo britânico, o envio de aparelhos Typhoon exigiria a permissão de Itália, Espanha e Alemanha, enquanto os F-35 precisariam do acordo dos Estados Unidos, numa altura em que existe alguma tensão entre estes países, depois da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ter condenado o convite de Macron para Zelensky se deslocar a Paris.
«Creio que a nossa força está na comunidade e na união… mas há momentos em que favorecer a opinião pública interna corre o risco de ser prejudicial à causa. Este parece-me ser um desses casos», disse a primeira-ministra, citada pela Reuters. «Penso que a melhor maneira de criar condições para a paz e o diálogo é manter os dois lados em pé de igualdade. Apoiar a Ucrânia é a melhor maneira de chegar a uma possível negociação», acrescentou.
No entanto, reforçou que, no que diz respeito a Itália, o país «está totalmente empenhado» em apoiar Kiev contra a invasão russa: «Roma quer ser um dos protagonistas, inclusive na fase de reconstrução».
Entretanto, a Letónia propôs ativar uma ‘Lei Robin dos Bosques’ a nível europeu para transferir para Kiev os ativos russos congelados (num valor estimado de 14 mil milhões de euros), e a Polónia sugeriu pela primeira vez uma «força de manutenção de paz da NATO na Ucrânia». Recorde-se que o Presidente Biden irá a Varsóvia a 24 de Fevereiro, data do primeiro aniversário da invasão russa.
Já Von der Leyen anunciou sanções aos propagandistas do Kremlin: «As suas mentiras estão a envenenar o espaço público». Só para os russos ou também para os comentadores nacionais dos estados-membros?